No final de dezembro, uma série de desaparecimentos teve início na cidade de Luziânia, a 56 km de Brasília. Seis garotos com idades entre 13 e 19 anos sumiram sem deixar rastros. A Polícia Civil, em Goiás, chegou a desconfiar que os garotos tivessem fugido ou que teriam sido vítimas de tráfico infantil. Depois de 101 dias, as investigações concluíram que Diego, Paulo, George, Divino, Flávio e Márcio foram alvos de um assassino em série. O criminoso, Admar, foi preso pela polícia e confessou ter abusado e matado os seis meninos.
HISTÓRICO
Nascido em uma família pobre de nove irmãos, baiano de Serra Dourada, cidade de 18 mil habitantes onde o seu pai de os filhos residem, Admar chegou a Luziânia 16 anos antes dos crimes que o tornaram conhecido.
Admar de Jesus, 40 anos, trabalhava como pedreiro. Era descrito pelos vizinhos como um homem discreto e com poucos amigos. Ia todos os finais de semana para a Igreja Universal do Reino de Deus assistir cultos. Poucos sabiam do seu passado sombrio: a mulher teria se matado com veneno; os filhos do casal acabaram criados pelo avô paterno e, além de terem visto a mãe morrer de forma trágica, viram o pai ser preso por abuso sexual de menores. Só deixou Luziânia, município de 210 mil habitantes, por causa deste crime.
Nesse caso, ofereceu dinheiro para um menino ajudá-lo a descarregar um caminhão. Com uma faca no pescoço, o garoto acabou forçado a manter relações sexuais com ele. “O menino escapou dizendo que traria um coleguinha, mas chamou a polícia. Quando os policiais chegaram ao local, Admar já estava abusando de outro garoto. Isso prova que ele tem alto poder de convencimento”, disse o delegado Wesley Almeida, da Polícia Federal.
Após ganhar a liberdade condicional, retornou para Luziânia, adquirindo hábito que não levantavam qualquer suspeita; porém, uma semana depois, voltou a utilizar o mesmo artifício para atrair suas vítimas, mas, agora, as matava sem piedade.
Laudo psiquiátrico divulgado pela polícia revela que o pedreiro é um psicopata com “grave distúrbio” e uma pessoa “perigosa” que deveria ser mantida “isolada do convívio social”.
Quando o laudo foi feito, em agosto de 2009, ele havia cumprido quatro anos de uma condenação de 12 anos – pena que recebera em 2005 por cometer abuso sexual contra dois meninos, de 8 e 11 anos, em Brasília – no presídio da Papuda e, mesmo assim, foi libertado em 23 de dezembro de 2009 porque, segundo avaliação do Juizado de Instrução Penal, já havia cumprido um terço da pena e fazia jus à progressão de regime.
Vítimas
CRONOLOGIA
Estava na primeira semana da liberdade condicional quando começou a atuar, agora, com muito mais crueldade:
- em 30 de dezembro de 2009, fez sua primeira vítima, Diego Alves Rodrigues, 13 anos, estudando do 9º ano do ensino fundamental. Estava em uma oficina mecânica com alguns amigos quando disse que ia almoçar em casa. Nunca mais foi visto;
- 4 de janeiro de 2010 – Paulo Victor Vieira de Azevedo Lima, 16 anos. Ajudava a mãe em um quiosque próximo ao hospital de Luziânia, onde foi visto pela última vez;
- 10 de janeiro de 2010 – George Rabelo dos Santos, 17 anos. Morador do Parque Estrela Dalva, 8. Ele foi visto pela última vez em uma quadra poliesportiva próximo a sua casa. Naquele dia, tinha intenção de passar o domingo com a namorada;
- 13 de janeiro de 2010 – Divino Luiz Lopes da Silva, 16 anos. Também morador do Parque Estrela Dalva, zero. Avisou à mãe que iria encontrar os amigos às 10h. Os colegas afirmaram que não chegaram a vê-lo naquela manhã;
- 18 de janeiro de 2010 – Flávio Augusto dos Santos, 14 anos. Morador do Parque Estrela Dalva, 7 e cursava o 8º ano do ensino fundamental. Saiu de casa pela manhã e disse à mãe que iria à oficina consertar a bicicleta. Nunca mais foi visto.
- 22 de janeiro de 2010 – Márcio Luiz de Souza Lopes, 19 anos. Ajudante de serralheiro e morador do Parque Estrela Dalva, 4. Conhecia George de vista, pois, as famílias moravam perto. Foi visto pela última vez saindo de casa de bicicleta.
As vítimas tinham em comum o fato de não terem passagem pela polícia e serem todas pobres, moradoras do mesmo bairro, Estrela Dalva, o mais populoso de Luziânia. Admar atraía os meninos com proposta de dinheiro. Os desaparecimentos ocorreram, respectivamente, na quarta, segunda, domingo, quarta, segunda, sexta e domingo, o que levou os policiais a desconfiarem da ação de um assassino em série.
CASO DESVENDADO
A polícia goiana relutou para abrir investigação sobre os sumiços em série de garotos em Luziânia. A delegacia da cidade só começou a dar atenção ao caso após pressões geradas por uma série de reportagens do Correio — o primeiro a denunciar os desaparecimentos, ainda em 16 de janeiro — e o quinto desaparecimento, ocorrido em 20 de janeiro. Insatisfeitas, as mães dos meninos procuraram o Ministério da Justiça, que em 9 de fevereiro mandou a Polícia Federal dar apoio à Polícia Civil de Goiás.
Ao começarem a trabalhar juntos, a Polícia Federal e a Polícia Civil de Goiás recorreram à diligências na cidade goiana e trocas de dados. Buscaram informações sobre os criminosos com histórico de pedofilia do município de cidades vizinhas, até chegar ao pedreiro Admar de Jesus.
O cerco foi fechado após saberem que Admar morava no Parque Estrela Dalva 4, bairro onde residiam 2 dos jovens desaparecidos. O local faz divisa com o Parque Estrela Dalva 8, onde morava outra vítima e, os demais, residiam em setores vizinhos.
Em adiantada decomposição, os corpos foram retirados no final de semana de 12 de abril de 2010, indicados pelo próprio assassino. Verificaram, inicialmente, que os corpos tinham sinais de pauladas e a polícia acreditava que houvesse um ou mais cúmplices nas execuções.
Admar indica a localização dos corpos
No primeiro depoimento informal, Admar não deu detalhes, mas disse ter oferecido R$200 (duzentos reais) a cada um dos jovens em troca de relações sexuais. Alegou ter matado a pauladas, golpes de enxadão e de martelo de pedreiro para não ser denunciado, como ocorreu anteriormente, em Brasília. Quatro dos jovens foram atingidos pelas costas e dois deles atacados pela frente e, embora tenham reagido, não tiveram chance.
Segundo a polícia, como quatro dos seis jovens tinham relacionamento homossexual, prenderam 2 pedófilos que, em princípio, acreditavam ter envolvimento com os desaparecimentos. Permaneceram presos por crimes cometidos em outro município, mas não eram responsáveis pelos sumiços em Luziânia.
Em outro depoimento, no dia 13 de abril de 2010, Admar disse que teve raiva deles; ao tentar matá-los eles reagiram e que os matou à pauladas. Disse se sentir arrependido e afirmou que pensava no sofrimento dos familiares dos jovens mortos, tendo cogitado o suicídio após a repercussão das mortes. Declarou, ainda, que foi vítima de abusos sexuais no passado, e que o pior episódio se deu quando foi assaltado: os ladrões lhe roubaram tudo, o estupraram e lhe cortaram a língua (ele falava com dificuldades) Afirmou que isso o deixou revoltado e com problemas psicológicos: “Não consigo parar de matar, preciso de ajuda para parar com essas coisas”, dizia Admar.
Admar oferecia pequena quantia em dinheiro para que os adolescentes o acompanhassem para realizar um pequeno serviço e, então, a conversa evoluía para o contato sexual. As vítimas eram atraídas para a Fazenda Buracão, que fica às margens da BR-040, a 2 km da entrada de Luziânia/GO. Chegando no local, de alguma forma, o assassino convencia os jovens a descer o vale.
Admar foi encontrado MORTO, no domingo 18 de abril de 2010, em sua cela na Delegacia Estadual de Repressão a Narcóticos, em Goiânia – para onde foi levado para sua segurança, pois, a população ameaçava invadir a delegacia de Luziânia para linchá-lo. Ele foi encontrado às 13 horas com uma tira do forro do colchão da cela amarrada ao pescoço, o que indicaria SUICÍDIO.
DO PRIMEIRO CRIME – PRISÃO E LIBERDADE
Admar, condenado em 2005 por abuso sexual de 2 crianças à pena de 15 anos, em um julgamento em segunda instância, diminuiu a pena para 10 anos e 10 meses.
Em exame criminológico realizado em 28 de maio de 2008, quando Admar poderia passar a cumprir pena em regime semiaberto, o laudo de seu exame criminológico apontou a necessidade de que outros dois fossem realizados: um psiquiátrico e um psicológico. Segundo o juiz, o objetivo deste exame não é impedir a progressão de regime, mas conhecer a pessoa e ajudá-la a voltar para a sociedade.
O resultado destacou sinais de psicopatia. Porém, segundo o magistrado, a psicopatia NÃ É UMA DOENÇA MENTAL, mas um distúrbio de personalidade que não é critério impedidor de concessão de progressões – observação: a psicopatia se enquadra na lista da CID-10 e, para quem não sabe o que significa a sigla, “Classificação Internacional de DOENÇAS”... seria ou não “doença mental”??? O termo “doença” não seria um gênero, e o transtorno uma espécie???
Admar foi submetido ao exame psicológico em 11 de maio de 2009, e ao psiquiátrico, uma semana depois, em 18 de maio. Os resultados não apontaram nenhum indício de doença mental, assim como não destacaram a necessidade de acompanhamento psicológico posterior. Segundo o juiz Luiz Carlos de Miranda, o laudo médico atestou coerência de pensamento. Além disso, o acusado teria assumido a prática do crime anterior, assim como afirmou ter conhecimento da gravidade do ocorrido.
Depois da realização dos exames, Admar foi para o regime semiaberto e, por cautela, o judiciário determinou que ele não fosse autorizado a benefícios externos de imediato, o que manteve Admar em situação análoga ao regime fechado. Quando em regime semiaberto, o preso pode trabalhar durante o dia e retornar ao dormitório à noite. O condenado pode, também, passar fins de semana na residência de parentes. Por conta disso, a irmã de Admar foi ouvida e aceitou recebê-lo em sua casa, porém, ela precisou comprovar que os filhos eram maior de idade e não residiam com ela. Após, Admar passou a desfrutar dos benefícios do regime em que se encontrava, chegando a passar cinco fins de semana em casa antes de ser beneficiado com nova progressão.
Além de ter bom comportamento quando preso, atestado por sete relatórios do presídio, Admar estudou um total de 213 horas, o que lhe beneficiou com uma diminuição de 11 dias da pena. Segundo o juiz da VEP, se aplicada a lei friamente, Admar estaria solto desde fevereiro de 2009 beneficiado pelo regime aberto, conforme cálculos realizados pelo Ministério Público, mas como os laudos demoraram a ficar prontos, o benefício só saiu em dezembro de 2009.
Afirmou ainda que, com base no processo, não havia motivos para não conceder o benefício da prisão domiciliar ao pedreiro Admar, e que todo juiz, ao soltar, tem o risco de a pessoa reincidir. Esta decisão (em soltar) não é subjetiva, mas pautada nos parâmetros legais.
PALAVRA DE ESPECIALISTA: Hilda Morana, doutora em psiquiatria forense pela USP e coordenadora do Departamento de Psiquiatria Forense da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP)
“A primeira coisa é saber que o tipo de crime não diz quem é a pessoa. É preciso fazer a análise da personalidade do sujeito quando ele entra no sistema judiciário para saber se ele é um psicopata. Essas pessoas têm um defeito grave de caráter, são incapazes de considerar o outro. Para ter uma ideia, o psicopata tem uma chance de mais de 70% de reincidir em crimes graves e violentos.
O psicopata não tem respeito pelo sentimento do outro, não tem sensibilidade quanto à dor do outro, não se arrepende, não tem remorso nem vergonha do que fez.
É extremamente individualista, com necessidades sexuais intensas, normalmente agressivo e vive para sanar seus prazeres.
Na vida dos psicopatas, não há constância nas relações. Eles não têm amigos e, normalmente, foram crianças e adolescentes com desvio de conduta grave. Contudo, são muito sedutores, capazes de fazer você pensar que conheceu a melhor pessoa do mundo. A característica de um serial killer não é como ele mata, mas sim quem ele mata.”
MORTE
Foi encontrado morto dentro da cela de um presídio em Goiânia, onde estava isolado dos demais detentos. A polícia informou que ele se enforcou com cordas produzidas a partir das roupas de cama, como mostra a perita na foto de Cristina Cabral para O Popular Folhapress.
Os demais detentos informaram que ouviram "barulhos estranhos", como se alguém estivesse rasgando roupas. Alguns até gritaram para ele não se suicidar. "Ele disse que não iria fazer isto", contou um preso. O suposto suicídio, foi encoberto pelo barulho da água do chuveiro que ficou ligado até os policiais descobrirem o corpo de Adilmar, também conhecido como o "Monstro de Luziânia". As causas morte estão sendo investigadas pelos órgãos de segurança do estado.
Perita Cristina Cabral mostra cordas utilizadas por Ademar para cometer suicídio
VIDEOS
Vídeo de reportagem sobre 5 desaparecimentos – Admar ainda não tinha feito a sexta vítima:
Vídeo sobre Admar, procurado anteriormente por outro crime cometido em sua terra natal, Bahia:
Entrevista com o assassino de Luziânia:
Fonte: notícias espalhadas pela mídia virtual.
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