quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Psicopatas: a escala psiquiátrica que mede os 22 níveis de maldade

O psiquiatra forense Michael Stone, da Universidade de Colúmbia, nos EUA, tentou responder a essas questões criando um índice que mede a maldade em pessoas que cometeram assassinatos. O índice da maldade, que vai de 1 a 22, avalia três pontos: o motivo, o método e a crueldade. A maldade aumenta conforme crescem a futilidade do motivo, o sadismo e a violência do método, e agravantes como perversão sexual, número de vítimas, tempo em atividade e tortura. Acompanhe, a seguir, exemplos reais de pessoas que se encaixam nas categorias mais altas do eixo do mal. Frieza, mentira, nem um pingo de remorso, e sangue, muito sangue, fazem parte dos boletins de ocorrência dos criminosos mais assustadores da história.

O INÍCIO DO ÍNDICE DA MALDADE

Conheça abaixo os primeiros graus na escala desenvolvida pelo psiquiatra forense Michael Stone

1. Pessoas que matam em defesa própria

Cometem algum homicídio apenas para se defender

2. Parceiros que matam motivados por ciúmes

Para casos de crimes passionais que acontecem uma só vez

3. Indivíduos manipulados que matam e instigam outros a matar em seu nome com a justificativa de autodefesa

Pessoas com um forte distúrbio de personalidade limítrofe que matam com a desculpa de autodefesa baseada em fatos distorcidos

4. Pessoas que matam em defesa própria, mas que provocam seu agressor ao limite

Provocam outra pessoa até serem agredidos e depois a matam sob o pretexto de autodefesa

5. Pessoas traumatizadas e desesperadas que matam, mas se arrependem

Pessoa que mata movida por experiências traumáticas. Após o crime, sente remorso

6. Aassassinos impetuosos, mas que não são psicopatas

Matam com violência elevada, mas não possuem nenhum tipo de comportamento psicopata

7. Pessoas extremamente narcisistas que matam movidas por ciúmes

Indivíduos que criam uma fantasia passional e que geralmente sinalizam que irão surtar

8. Sujeito não psicopata com raiva reprimida que mata quando atinge um extremo

Tem traços de depressão e mata após uma descarga de estresse

A partir do nível 9, a crueldade já dá indícios claros de psicopatia recorrente e só vai aumentando


9. Criminosos passionais com traços de psicopatia


EXEMPLO: BETTY BRODERICK, socialite californiana
ONDE: San Diego, Califórnia
QUANDO: Novembro de 1989

O QUE FEZ: O marido de Betty, Dan Broderick, se separou e casou com outra mulher, Linda Kolkena. Betty não aguentou a rejeição e tornou a vida do casal um inferno, movida por atitudes de raiva e vingança. Após diversos ataques de ciúmes, Betty invadiu a casa do ex-marido e matou ambos a tiros enquanto dormiam. Betty Broderick foi condenada a 32 anos de prisão.

10. Não psicopatas que matam pessoas que são obstáculos para um objetivo


EXEMPLO: JOHN LIST, pai de família e veterano da 2ª Guerra
ONDE: Westfield, Nova Jersey
QUANDO: Novembro de 1971

O QUE FEZ: Com a justificativa de que não conseguiria mais sustentar a sua família, John List voltou sua fúria contra os familiares e passou a odiá-los baseado em desculpas fabricadas em sua mente. John assassinou a mãe, a esposa e três filhos de maneira metódica e planejada. Fugiu para o estado do Colorado onde foi reconhecido e preso. Condenado a cinco prisões perpétuas, morreu de pneumonia no xadrez em março de 2008.

11.Psicopatas que matam pessoas que são obstáculos para um objetivo


EXEMPLO: ROBERT CHAMBERS, alcoólatra com problemas de aprendizado e cleptomania
ONDE: Nova York
QUANDO: Agosto de 1986

O QUE FEZ: Do nível 10 para o 11, um detalhe faz toda a diferença: os criminosos grau 11 já são psicopatas. Chambers roubava sempre sob efeito de drogas e álcool. Bonitão, se dava bem com a mulherada. Após ser descoberto por Jennifer Levin, uma das garotas com quem saía, roubando dinheiro de sua bolsa, Chambers a estrangulou e a atacou sexualmente. Depois de 15 anos de sentença, foi solto em 2003.

12.Psicopatas com sede de poder que matam quando se sentem ameaçados


EXEMPLO: JIM JONES, fundador e líder de seita
ONDE: Guianas
QUANDO: Novembro de 1978

O QUE FEZ: Deste nível para cima, a quantidade de vítimas começa a aumentar. Jim Jones é um típico megalomaníaco - quando sente que sua posição está ameaçada, faz o possível para manter o controle da situação. Depois de fundar dois templos religiosos, Jones montou uma comunidade na Guiana. Quando perdeu o apoio de alguns dos políticos, envenenou mais de 900 pessoas, incluindo crianças. Jones acabou se suicidando junto com seu grupo.

13. Assassinos psicopatas que matam motivados pela raiva


EXEMPLO: RICHARD SPECK, marinheiro sem sentimentos
ONDE: Chicago
QUANDO: Julho de 1966

O QUE FEZ: Richard Franklin Speck é parte de um grupo de psicopatas egocêntricos que agem violentamente quando explodem, sem sentir um pingo de remorso por suas vítimas. Após se embebedar em uma taverna, Richard estuprou uma mulher e se encaminhou para um dormitório de estudantes. Lá, sequestrou e manteve reféns oito estudantes de enfermagem - todas mortas por estrangulamento ou facadas. Richard foi condenado à prisão perpétua e morreu de ataque cardíaco, ainda preso, em 1991.

14.Psicopatas frios e egocêntricos que matam em benefício próprio


EXEMPLO: SANTE KIMES, assassina e golpista
ONDE: Nassau (Bahamas), Los Angeles e Nova York
QUANDO: Setembro de 1996 a junho de 1998

O QUE FEZ: Sante e seu filho Kenny davam golpes para acumular grana e propriedades antes de começar a matar. A primeira morte foi a de um banqueiro indiano em Nassau que recusou aprovar um financiamento. O sujeito foi drogado, afogado em sua banheira e teve seu corpo jogado no mar. Os golpistas são suspeitos do desaparecimento de pelo menos mais três pessoas e a morte de outra. Kimes e seu filho cumprem prisão perpétua em Nova York.

15. Ataques de psicopatia ou múltiplos assassinatos


EXEMPLO: CHARLES STARKWEATHER, viajante e assassino
ONDE: Estados de Nebraska e Wyoming, nos EUA
QUANDO: Entre dezembro de 1957 e janeiro de 1958

O QUE FEZ: Depois de matar um rapaz de 21 anos com um tiro de espingarda à queima-roupa e não ser pego, Charles começou a ficar com mais vontade de matar. Em uma discussão violenta com a família de sua namorada, Caril Fugate, o rapaz matou os pais e a irmã de Caril. O casal fugiu e fez mais seis vítimas no caminho, todas com mortes violentas - estrangulamentos, tiros e facadas. Starkweather foi executado. Caril, condenada à perpétua, saiu depois de 17 anos.

16.Psicopatas que cometem atos com requinte de violência, em intervalos longos


EXEMPLO: DR. MICHAEL SWANGO, médico envenenador
ONDE: EUA e Zimbábue
QUANDO: De 1983 a 1997

O QUE FEZ: Dr. Swango ficou conhecido pelo grande número de assassinatos sem ser pego e pelas mudanças constantes na sua região de atuação. Ele se formou em medicina em 1983 e, durante a residência, suspeitava-se que injetava substâncias desconhecidas nos pacientes. Temendo ser processado, Michael mudou de hospital e continuou suas atividades. Tinha uma fascinação mórbida por vítimas de acidentes graves. Acabou preso e condenado à prisão perpétua.

17. Assassinos seriais com perversões sexuais


EXEMPLO: TED BUNDY, psicólogo charmoso e serial killer famoso
ONDE: Seis estados norte-americanos
QUANDO: Entre 1974 a 1978

O QUE FEZ: Ted era atraente, ambicioso e confiante. Gostava de garotas de cabelos pretos e longos - no mínimo até os ombros. Sequestrou e estuprou mulheres em diversas cidades norte-americanas e foi capturado em Utah, dirigindo alcoolizado com algemas, calcinhas e meias femininas, que usava como máscara no rosto. Bundy escapou e foi preso meses depois, na Flórida. Condenado à morte e executado em 1989, confessou, minutos antes da execução, ter matado 30 mulheres.

18. Assassinos torturadores


EXEMPLO: JEROME BRUDOS, serial killer fascinado por sapatos
ONDE: Oregon, EUA
QUANDO: Entre 1968 a 1969

O QUE FEZ: Brudos sempre torturava suas vítimas antes de matar. Desde criança era maltratado pela mãe e desenvolveu uma fascinação erótica por sapatos femininos. Na maioria das vezes, Jerome capturava suas vítimas com um golpe forte na cabeça ou as estrangulava até perderem a consciência. A esposa de Brudos achou fotos de seu marido com mulheres espetadas em ganchos como se fossem bonecas e entrevistas com as mulheres da cidade de Salem - onde Brudos morava - levaram ao serial killer. Jerome foi preso, pegou prisão perpétua e morreu de câncer em 2006.

19.Psicopatas levados ao terrorismo, subjugação, intimidação e estupro sem assassinato


EXEMPLO: GARY KRIST, ladrão e sequestrador sádico
ONDE: Atlanta, EUA
QUANDO: Dezembro de 1968

O QUE FEZ: Krist começou a roubar aos 14 anos. Em 1968, ele e a namorada sequestraram a filha de um milionário em Atlanta. Krist fugiu com o dinheiro do resgate. Através de um telefonema, a polícia descobriu o paradeiro da menina, enterrada em uma caixa ainda viva, e o casal foi capturado. Gary Krist foi condenado à prisão perpétua em 1969 e libertado sob condicional após dez anos.

20. Assassinos que têm tortura como motivo principal


EXEMPLO: JOSEPH KALLINGER, torturador e incendiário
ONDE: Baltimore, Maryland e Nova Jersey, EUA
QUANDO: De julho de 1974 a janeiro de 1975

O QUE FEZ: No nível 20 da maldade,o sujeito já é considerado doente e não é responsável por suas ações. Internado em várias instituições mentais, Kallinger era violento com os filhos (matou um deles) e tentou incendiar a própria casa três vezes. Em 1974, arranjou um cúmplice: seu filho Michael. Juntos, roubaram, espancaram e torturaram quatro famílias, além de matarem uma enfermeira em 1975. Descoberto, Kallinger pegou prisão perpétua e morreu em um ataque epilético.

21.Psicopatas que não matam suas vítimas, mas as colocam sob tortura extrema


EXEMPLO: CAMERON HOOKER Sequestrador e maníaco sexual
ONDE: Califórnia, EUA
QUANDO: 1977

O QUE FEZ: Hooker era casado com Janice, com quem tinha um acordo sinistro: ele poderia ter uma escrava, com quem não teria relações sexuais, mas faria "brincadeiras". E assim foi feito: o casal sequestrou Colleen Stan, uma garota de 23 anos. Colleen era mantida em uma caixa debaixo da cama 22 horas por dia, além de sofrer pressão psicológica. Janice se revoltou e entregou o marido quando ele disse que queria mais cinco escravas. Hooker foi condenado a 104 anos de cadeia.

22.Psicopatas que colocam vítimas sob tortura extrema por um longo período e depois matam


EXEMPLO: DENNIS RADER, o "Assassino BTK" (sigla em inglês para "amarra, tortura e mata")
ONDE: Kansas, EUA
QUANDO: Entre 1974 e 1991

O QUE FEZ: Em 1974, Dennis Rader sufocou um casal com sacos plásticos e depois estrangulou os filhos deles. Em seguida invadiu uma casa e atacou dois irmãos.O menino escapou, mas a garota foi morta por estrangulamento e facadas. Mais mulheres foram estranguladas, e Rader mandou cartas e objetos pessoais de suas vítimas para a polícia - numa dessas, deixou as digitais e foi preso. Sentença: dez prisões perpétuas.



Fonte:
mundoestranho.abril.com.br

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Jeffrey Dahmer, o "Canibal de Milwaukee"


História

Nem todos os serial killers apanharam ou foram molestados sexualmente na infância. Jeffrey Dahmer possuía uma família normal e viveu uma boa infância, mas tornou-se um dos mais notórios assassinos sexuais do século 20. Em seu livro autobiográfico, A Father’s History, Lionel Dahmer, pai de Jeffrey Dahmer, buscou por respostas que pudessem explicar o comportamento anormal do seu filho. Lionel, que descreve a si mesmo como um “pensador analítico”, acredita que a histeria da mãe de Jeffrey e sua doença psicossomática durante a gravidez foram os responsáveis pelo comportamento doentio do filho do casal.

Lionel descreve sua mulher, Joyce Dahmer, como portadora de uma difícil gravidez, marcada por vômitos, como se seu corpo estivesse doente pelo que estava germinando; uma rejeição biológica. Enquanto estave grávida de Jeffrey, Joyce desenvolveu uma estranha rigidez: “Às vezes, suas pernas endureciam firmemente, e todo seu corpo começava a ficar rígido e trêmulo. Sua mandíbula movia-se para a direita com uma assustadora rigidez. Durante essas estranhas convulsões, seus olhos retraíam-se como a de um animal assustado, começava a salivar, literalmente espumando pela boca”, diz Lionel Dahmer no livro.

No livro, Lionel chega a dizer que sua mulher era um “cadáver que estava prestes a dar à luz”. Ele se descreve como um homem isolado em seu trabalho. Enquanto ele mergulhava em suas pesquisas científicas (Lionel tem PhD em química), sua mulher Joyce travava uma guerra biológica com sua gestação usando medicamentos. Como veremos mais adiante, o casal se separou e as mágoas desse relacionamento parecem terem ficado enraizadas em Lionel, que reclama de sua mulher no livro. “Por que ela ficava tão chateada todo o tempo? O que ela achou de tão terrível?”… “Então, após um longo caminho de dor, meu filho nasceu”.

Jeffrey Lionel Dahmer nasceu em West Allis, Milwaukee, no dia 21 de maio de 1960. A primeira vez que Lionel viu seu filho foi em um recipiente de plástico. Para ele, a carnificina encontrada no apartamento de Jeffrey em 1991 teve origem no ventre drogado de sua mãe.

Lionel e Joyce Dahmer com Jeffrey

O pequeno Jeffrey e seus pais

Lionel Dahmer e Jeffrey

Joyce e seu bebê Jeffrey

Enquanto ele acusa sua ex-esposa como a responsável biologicamente pelo comportamento doentio de Jeffrey, ele próprio admite que alguns dos seus genes também podem ter influenciado seu filho. Quando criança, Lionel era fascinado pelo fogo e chegou a criar algumas bombas.

“Quando criança, um escuro caminho foi cavado em meu cérebro”, diz Lionel.

O pequeno Jeffrey, por sua vez, era fascinado por ossos de animais, algo que seu pai via apenas como curiosidade normal de uma criança, mas que após a descoberta dos assassinatos, revelou-se ser um dos primeiros indícios de que Jeffrey poderia ter algum distúrbio.
"Uma vez senti um cheiro horrível vindo do porão, e ao checar vi uma pilha de pequenos ossos de animais. Jeff parecia animado com o som que os ossinhos faziam em sua mãozinha. Hoje não posso ver isso como coisa de uma criança. Isso vem em minha mente e tudo fica mais claro; tenho a sensação de que uma força escura, sombia e mal intencionada estava crescendo dentro do meu filho.”
 Jeff era sorridente e brincalhão, adorava seus coelinhos de pelúcia e sempre mexia em pedaços de madeira em volta da casa. Ele também tinha um cachorro chamado Frisky, seu amado bichinho de estimação dado por seu pai. 

Jeffrey e Frisky

 Jeffrey

Jeffrey e Lionel

Apesar de um grande número de infecções de ouvido e de garganta, Jeff crescia muito feliz. Seu pai lembra de uma ocasião em que cuidaram de um pássaro doente e o libertaram para a natureza. 
“Eu peguei o passarinho com minhas mãos e o soltei no ar. Todos nós sentimos um imenso prazer. Os olhos de Jeff estavam arregalados, brilhando. Provavelmente foi o mais feliz, e único, momento de sua vida".
Com 6 anos de idade, Jeffrey Dahmer teve um problema de hérnia dupla e teve que fazer uma cirurgia. Após esse episódio ele nunca mais pareceu recuperar seu entusiasmo e dinamismo. “Ele tinha muita dor, me lembro de ele ter perguntado a Joyce se os médicos tinham cortado seu pênis fora”. (Lionel Dahmer)

Lionel acredita que essa experiência de Jeffrey (uma criança que na sua fantasia acreditava que os médicos haviam tirado o seu pênis) o afetou profundamente. E paralelamente a esse fato, Jeffrey começou a mudar.
“Esse estranho e sutil escurecimento começou a aparecer quase que fisicamente. Seu cabelo, que era claro, crescia escuro junto com o mais profundo sombreado dos seus olhos. Ele parecia menor, de algum modo mais vulnerável. Mais do que tudo, ele parecia crescer mais para dentro, sentado em silêncio por longos períodos, não era mais agitado, seu rosto ficava estranhamente imóvel ". (Lionel Dahmer)
Nessa época a família morava em Iowa. Lionel estava fazendo seu doutorado em química na Universidade do Estado de Iowa. Em 1966, Lionel completou seu trabalho de doutorado e conseguiu um trabalho como pesquisador químico na cidade de Akron, Ohio. Joyce estava grávida do segundo filho do casal, David.

O pequeno Jeffrey Dahmer segura seu irmão recém nascido, David Dahmer. Lionel Dahmer achou que o comportamento do seu filho poderia melhorar se ele se sentisse importante e estimulado dentro do lar familiar. Lionel e sua esposa então deixaram que Jeffrey escolhesse o nome do seu irmãozinho, e Jeff escolheu o nome David.






A família Dahmer

Mas à medida que o pequeno Jeff crescia, o seu comportamento parecia piorar.
“Jeff começou a sofrer de um quase isolamento… um estranho medo tinha começado a rastejar em sua personalidade, um pavor dos outros que era combinado com sua generalizada baixa auto-estima. Ele estava desenvolvendo uma rejeição em mudar, uma necessidade de se sentir seguro em lugares familiares. A ideia de ir à escola o deixava em pânico. O pequeno garoto que uma vez parecia ser feliz e auto-confiante tinha sido substituído por uma pessoa diferente, profundamente tímida, distante, quase inexpressiva”. 
Jeffrey Dahmer

Lionel suspeitava que a mudança de Iowa para Ohio era a causa do comportamento de Jeff, um comportamento que para ele era normal, pois ele havia sido tirado de um ambiente familiar e levado a um lugar totalmente novo. O próprio Lionel enxergava a si próprio no filho. Quando criança, Lionel era extremamente tímido, introvertido e inseguro. Com o seu crescimento e o passar do tempo, ele aprendeu a lidar com esses problemas. Ele imaginou que Jeff também aprenderia a superar seus problemas. Jeff tornou-se um garoto tímido e com medo dos outros, assim como seu pai havia sido. 

Em abril de 1967, a família comprou uma nova casa. Jeff pareceu se ajustar melhor à sua nova morada e desenvolveu uma amizade próxima com um vizinho chamado Lee. Ele também gostava de uma professora de biologia a qual lhe havia dado um recipiente de girinos para manusear na aula. Dias depois, o pequeno Jeff descobriu que a professora havia dado os girinos para seu amigo Lee. Jeff entrou escondido na garagem da casa do seu vizinho e matou os girinos com óleo de motor. Ele tinha 7 anos.

 Jeffrey e Lionel

Jeffrey Dahmer

Jeffrey Dahmer e seu amigo de infância Lee. Foto tirada durante a festa de Halloween de 1967. Ambos estão vestidos com roupas exibindo o Diabo. 

Mas o comportamento de Jeff pioraria ainda mais na fase mais complicada do ser humano: a adolescência. 
“Sua postura e o modo que se portava mudou radicalmente entre os 10 e 15 anos. Ele se introverteu ainda mais, ficando rígido e inflexível ".(Lionel Dahmer)
Jeff crescia passivo e isolado. Ele parecia tenso, seu corpo ficou muito reto. Cresceu cada vez mais tímido durante esse período. Tinha pavor de relacionamentos e não conversava com as pessoas. Mais e mais ele permanecia em casa, sozinho em seu quarto ou sentado em frente à TV. Seu rosto era pálido, parecia ser uma pessoa que não tinha nenhum propósito na vida; um vegetal.
“Suas conversas limitavam-se a responder perguntas feitas a ele, e mesmo assim, de forma monossilábica. Ele estava à deriva em um mundo de pesadelo e fantasias inimagináveis. Nos próximos anos essas fantasias começariam a dominá-lo por completo". (Lionel Dahmer) 
A Adolescência

Jeff fez o ensino médio na Revere High School, na vizinhança de Richfield. Lá Dahmer jogava tênis e tocava clarinete. Ele era considerado um jovem brilhante, mas não tinha interesse nos estudos, e era conhecido por seu comportamento esquisito e brincalhão. As brincadeiras de Dahmer foram uma tentativa dele de se enquadrar em um mundo do qual não pertencia.

Dahmer na foto do álbum da Revere High School

“Ele tinha um bizarro senso de humor. Eu não me lembro de ter uma conversa normal com ele. Ele ficava imitando sons de ovelhas e frequentemente fingia ataques epilépticos nos corredores do colégio. Às vezes ele dava gritos do nada, sem motivo aparente”, disse seu ex-colega de classe, John Backderf. 

Dahmer desenvolveu uma ritualística caminhada para entrar no ônibus da escola: 4 passos para frente, 2 para trás, 4 para frente e 1 para trás. Ele nunca deixou de fazer seu ritual. Todos riam daquele nerd de óculos esquisito e engraçado.


John Backderf, colega de Jeff na Revere High School, lançou um interessante livro em quadrinhos onde ele fala sobre como foi ser colega de classe do serial killer. “Todos me perguntavam: ‘Você foi colega de classe de Dahmer? O serial killer? E ai, cara, como ele era?’, então resolvi escrever sobre essa época 

John Backderf

John Backderf é um dos cartunistas alternativos mais famosos dos Estados Unidos. Ficou conhecido depois de publicar a história em quadrinhos The City, que hoje aparece regularmente em mais de 50 jornais semanais norte-americanos. Foi eleito pela Revista Cleveland uma das pessoas mais interessantes de 2011. My Friend Dahmer é um projeto em quadrinhos que começou em 1994. Sua primeira história apareceu em 1997. Em seguida, lançou o projeto como um romance de 100 páginas de desenhos, mas não encontrou um editor. Ele publicou então My Friend Dahmer numa edição reduzida, de 24 páginas em 2002. My Friend Dahmer retrata a amizade durante a adolescência entre o autor e o serial killer Jeffrey Dahmer, na época em que ambos estudavam na Revere High School. No romance, John Backderf não exime Dahmer de seus crimes, mas o apresenta como um adolescente bastante simpático que era atormentado por seus demônios internos e negligenciado pelos adultos em sua vida. A história relembra seu isolamento, seu consumo excessivo de álcool, o seu comportamento bizarro para chamar atenção e sua mórbida fascinação com atropelamentos.

 My Friend Dahmer
  My Friend Dahmer
My Friend Dahmer

"Conheci Dahmer na sétima série… ele era um ninguém… um daqueles garotos que se tornam tímidos inválidos quando entram no primeiro estágio da adolescência. Quando criança, Dahmer era uma vítima constante de bullying. Um nerd magricelo usando óculos era uma presa fácil para os predadores do playground. Isso só piorou com o tempo. Mas toda escola tem crianças que não se encaixam. Não me lembro de ouvir sua voz enquanto estávamos no ensino fundamental, mas quando ele entrou para o ensino médio… No ensino médio ele começou a ter uma fala arrastada, fazendo mímicas e movimentos espasmódicos, imitando pessoas que tinham paralisia cerebral. Soa doente agora, mas nós achávamos aquilo hilário. Eu e alguns amigos instigávamos ele a fazer aquilo… e ele chamava toda a atenção. Foi a primeira vez que ele foi notado no colégio. Nós até formamos um fã clube, o Dahmer Fan Club. Eu era o presidente". (John Backderf) 
 Mike Kukral 

"Outra vez ele coletou dinheiro para participarmos de um show em um shopping. Chegamos lá e havia uma mulher distribuindo amostras de sementes de girassol e Jeff pegou uma e depois outra e depois outra e depois outra e de repente ele surtou do nada: ‘Eu sou alérgico, eu sou alérgico!’ E saiu correndo do lugar." (Mike Kukral)
"Uma vez escutamos alguém correndo e gritando pelo corredor e era Jeff no meio do dia, correndo e gritando com seus braços abertos: ‘Furacão, furacão, todo mundo se escondam!" (Mike Kukral) 
Certa vez, a classe de Jeff fez uma viagem até a capital dos Estados Unidos, Washington. E foi lá que Jeff teve uma ideia surreal: conhecer o vice-presidente dos Estados Unidos, Walter Mondale.

"Jeff disse: ‘Eu tenho uma ideia, vamos lá. Vamos ver o vice-presidente!’ Todos nós rimos e dissemos: ‘OK Jeff, o vice-presidente, conta outra'."
Jeff pegou o telefone e ligou para o escritório da vice-presidência dos Estados Unidos.

Ele explicou que nós éramos estudantes do ensino médio de Ohio, que trabalhávamos no jornal da escola e que gostaria de falar com alguém do escritório da vice-presidência”, conta Marty Schmidt em um documentário do Biography Channel sobre Dahmer. 

E Jeff conseguiu. Ele e seus colegas foram convidados a conhecer o prédio da vice-presidência executiva dos Estados Unidos, e mais, conheceram o vice-presidente norte-americano.

Ele era muito educado com os adultos, vestia-se muito bem. Muito, mas muito respeitoso com os professores. Respondia sempre de maneira respeitosa: ‘sim, senhor’, ‘não, senhor’. Muitas vezes era elogiado por seus trabalhos em classe, outras vezes ele desaparecia da sala e não mostrava interesse nenhum”, diz Mike Kukral no documentário.

Jeffrey na Revere High School em 1978.

Apesar do seu engraçado e chamativo comportamento, um lado negro começava a emergir. Jeffrey Dahmer começou a beber muito cedo, muitas vezes bebendo várias cervejas antes de ir à escola. “Na época eu achava que aquilo poderia ser explicado como um típico comportamento adolescente, mas mesmo assim achava estranho. Todas as manhãs antes das aulas, ele bebia todo um pacote com seis cervejas, praticamente engolindo as latas, uma após a outra. Ele tinha 15 anos, e eu sentia que aquilo era diferente." (John Backderf)
"Eram umas 8h da manhã e estávamos na aula de história. Estava sentada ao lado dele. Ele estava com uma garrafa de uísque. Me lembro de ter perguntado para ele: ‘Jeff, o que é isso?’ Ele levou a cabeça para trás, fazendo movimentos e respondeu: ‘Isso é o meu remédio'”[Marty Schmidt]
Marty Schmidt

"As coisas começaram por volta dos meus 14, 15 anos. Começou com pensamentos obsessivos sobre violência, sexo e morte. E a partir daí as coisas começaram a ficar cada vez piores... eu não falava sobre aquilo para ninguém, ficava comigo." - Jeffrey Dahmer. 

Jeffrey sabia que havia algo errado. Seus pensamentos sobre morte, violência e sexo o traumatizaram e o fizeram tentar encontrar uma escapatória: a bebida. Ele bebia com o objetivo de espantar aqueles pensamentos horríveis que explodiam em sua cabeça, e já aos 15 anos era alcoólatra. “Ele cambaleava pelos corredores caindo de bêbado, esse comportamento o fez jogar fora os poucos amigos que ainda tinha”. (John Backendorf)

Jeffrey Dahmer

Foi nessa época que Jeff começou a praticar um peculiar hobby: coletar animais mortos na região. Ele pegava as carcaças, levava para casa, dissecava e dissolvia a carne com ácido para que pudesse estudar seus ossos. Ele havia ganhado um kit introdutório de substâncias químicas de seu pai, e eram essas substâncias que ele usava em seus experimentos com animais mortos.

Ele chegou a ter um cemitério particular. Em 1975 um vizinho chamado Kim Klippel, de 16 anos, estava andando na floresta atrás da casa dos Dahmer, uma casa estilo fazenda, quando ele se deparou com a carcaça de um cachorro mutilado. A cabeça estava espetada em uma estaca ao lado de uma cruz de madeira. O corpo totalmente esfolado e eviscerado, foi pregado em uma árvore próxima. Outro vizinho também descobriu o seu cemitério. 
“Ele tinha um pequeno cemitério com animais enterrados lá. Havia crânios colocados em cima de pequenas cruzes. Ele tinha uma verdadeira coleção de esqueletos”. 
[Eric Tyson, vizinho de Jeff]

Era a primeira manifestação de uma obsessão que se tornaria compulsiva: a obsessão com a morte e com cadáveres.
"Os mortos, em sua quietude, se tornariam os objetos principais de seu crescente desejo sexual. Sua incapacidade de falar sobre tais pensamentos o separaram de qualquer forma de conexão com o mundo que girava fora de si. Ele deve ter visto a si mesmo como uma pessoa totalmente fora da comunidade humana, fora de tudo o que poderia ser considerado normal e aceitável, fora de tudo que poderia ser considerado humano”.[Lionel Dahmer]

No colégio, suas conversas sobre atropelamento, tortura e morte fizeram com que os colegas desconfiassem que ele pudesse estar envolvido com o ocultismo.

O que poderia se esperar de um adolescente que abriga em sua mente fantasias de sexo e morte? O que os pais poderiam fazer? Isso certamente seria considerado uma doença mental e certamente ele seria tratado. Mas as cruéis fantasias de Jeff ficavam com ele próprio. Ele não se abria e o erro dos pais foi pensar que estava tudo certo, que aquele comportamento introvertido era apenas o resultado de um adolescente tímido, e além do mais, a adolescência é a fase mais complicada do ser humano. Mas não podemos crucificar os pais. Quem em sã consciência pensará que o seu filho adolescente tem vontade de fazer sexo com um cadáver? Casos como o de Jeff são raros, a maioria dos adolescentes crescem introvertidos e/ou revoltados, mas isso passa com a idade adulta.

O Dr. James Fox, reitor da Faculdade de Justiça Criminal da Universidade de Northeastern em Boston, e especialista em serial killers, afirma que “Não havia nada que pudesse ser feito para prever isso antes do tempo, não importa o quão bizarro foi o seu comportamento. Desde Sigmund Freud, nós culpamos os pais por tudo de ruim que as crianças fazem. Os culpados não sãos seus pais, não é sua família, não é a polícia. O culpado é Dahmer".

Ele não falava e cada vez mais se tornava isolado e incomunicável.
"Ninguém sabia o que se passava por sua cabeça, ele não se abria com ninguém. Ele não tinha amigos íntimos e nem vida social.” [Mike Kukral]
"Imaginem… sem amigos, sem uma real conexão com as pessoas, incapaz de ter uma conversa normal… ele tinha os olhos de alguém morto… ele estava totalmente sozinho.”[John Backderf]
Longe de ser um adolescente rebelde, ele nunca discutia com seus pais pelo simples fato de nada na vida parecer importar para ele. Jeffrey Dahmer nunca teve uma namorada, mas ele teve a companhia de uma garota no baile de formatura.

Certamente Jeff Dahmer não era o sonho de consumo das garotas da classe para o baile de formatura da turma de 1978 da Revere High School. Mas apesar do seu comportamento estranho ele conseguiu uma companhia para o baile, Bridget Geiger. Porém ela só aceitou ser a companhia de Jeff depois que ele prometeu que não iria agir de maneira estranha e nem ficaria bêbado.

 Jeffrey Dahmer e Bridget Geiger.

Bridget lembra de Dahmer como um garoto extremamente tímido, mas muito educado. “Ele nunca disse duas palavras para mim, nem mesmo um beijo de boa noite".

No baile de formatura Jeff evitou o tradicional smoking. Como podemos ver na foto, ele usava calças escuras, um colete e uma gravata borboleta estilo ocidental. Bom, a noite do baile...

Jeff desapareceu da cerimônia por cerca de uma hora e voltou totalmente bêbado, o que fez com que os organizadores da festa o barrassem na entrada. Jeff, Bridget e outro casal acabaram a noite em um pub próximo.

Parece que eles tiveram uma amizade mais profunda, ou pelo menos Jeff tentou, pois ele a convidou para uma sessão religiosa em sua casa. Depois disso, Jeff desapareceu e ela só foi ter notícias dele novamente no dia 22 de julho de 1991.

Lionel Dahmer e seu filho Jeffrey Dahmer (18 anos) em 1978 em sua colação de grau na Revere High School. 14 dias após essa foto, Jeffrey iria cometer o seu primeiro assassinato.

A separação de seus pais

Para aprofundar ainda mais os dêmonios internos de Jeff, ele teve que lidar com a separação nada amigável de seus pais, Joyce e Lionel. O casal brigava pela guarda do filho mais novo, David Dahmer, na época com 12 anos. Jeff Dahmer se sentia abandonado pelos dois. Lionel Dahmer saiu de casa quando Jeff ainda estava na Revere High School.

Após a separação, Joyce retornou para o estado de Wisconsin com David. Por um motivo difícil de compreender e até hoje desconhecido, Jeffrey Dahmer foi deixado sozinho pela sua mãe na casa da família em Bath, Ohio. “Ele foi deixado sozinho na casa, sem dinheiro, sem comida e com uma geladeira quebrada. Esse abandono realmente o afetou”, disse Shari, que se casou com Lionel Dahmer após seu divórcio em 1978.

A residência onde Dahmer cresceu em Bath, Ohio.

Poucos dias após se graduar no ensino médio, Jeffrey Dahmer foi abandonado pela sua mãe. Era a primeira vez que ficava sozinho em sua vida; ele tinha 18 anos. Enquanto seus colegas de classe estavam preocupados com suas carreiras, entrando em Universidades e planejando o futuro, Jeffrey Dahmer estava preocupado com outras coisas.

Steven Hicks, 19 anos


"Você nunca esquece o primeiro”, disse Jeffrey Dahmer para o detetive Dennis Murphy em 1991.
Jeff tinha 18 anos, e como todo adolescente de sua idade, ele tinha fantasias sexuais. Mas as fantasias de Jeff se desviavam da conduta comum; ele fantasiava sobre matar e dissecar seu parceiro sexual. Sua estadia sozinho na casa da família deu a ele a oportunidade de colocar em ação aquelas fantasias.

Sozinho, Jeffrey Dahmer pôde mergulhar de cabeça na sua maior diversão naquela época: caçar animais mortos. Em junho de 1978, depois de beber uma caixa de cervejas, ele saiu em busca de animais atropelados em uma estrada de Ohio e encontrou um mochileiro pedindo carona. Era Steven Hicks, 19 anos. Jeff ofereceu carona ao mochileiro e o convidou para irem até sua casa para conversarem e beberem cerveja.

Hicks ficou na casa por algumas horas, conversaram, beberam cerveja e fumaram maconha no quarto de Jeff. Estava claro para Jeff que o atraente mochileiro não era gay. Hicks decidiu ir embora, mas Jeffrey Dahmer não suportou a ideia de ser abandonado novamente. Hicks estava sentado na cama quando Dahmer quebrou sua cabeça com uma barra de ferro. Ele agonizou e Dahmer o estrangulou até a morte. “Eu não sabia mais como fazê-lo ficar lá”, disse Dahmer em uma entrevista para Robert Ressler, o agente do FBI criador do termo serial killer, em 1993. Naquele momento Dahmer descobriu que ele ficava excitado ao ter poder sobre outro ser humano assim como ele fazia ao dissecar animais mortos que ele encontrava na estrada. Na manhã seguinte ele foi até uma loja e comprou uma faca de caça. Levou o corpo de Steven Hicks para o porão e o esquartejou. Ele cortou primeiramente os braços e as pernas, depois masturbou-se em cima dos pedaços.


Jeff estava mergulhado em suas mórbidas fantasias, mas estava são o suficiente para entender que havia cometido um crime. Ele deveria livrar-se dos pedaços de Steven Hicks. Ele manteve o corpo desmembrado no porão durante todo aquele dia e na madrugada ele colocou os pedaços do corpo em sacos de lixo e saiu pela estrada buscando um lugar para descartá-los. Foi aí então que a polícia o parou.

Uma das características mais comuns em pessoas com psicopatia aparece aqui: a capacidade ilimitada de mentir e fazer com que as pessoas acreditem naquela mentira. Os policiais o pararam por ele estar dirigindo na contramão. Ele passou no teste de embriaguez, mas os policiais notaram uma lanterna e sacos de lixo com um forte odor no banco de trás. Perguntaram o que ele estava fazendo àquela hora na estrada e o que havia nos sacos e Jeff utilizou sua lábia para enganar os policiais. Jeff disse que estava totalmente abalado pela separação dos seus pais e não conseguia dormir, e que estava se desfazendo de alguns objetos pessoais que o traziam lembranças ruins de sua vida. Ele foi convincente.

Jeff retornou para casa, e colocou novamente os sacos com os restos de Steven Hicks no porão. Antes de subir para a casa, ele masturbou-se em cima dos sacos. Na outra manhã ele enterrou os sacos na floresta atrás de sua casa. A cabeça e a faca foram descartadas no rio.

Como em várias tribos e civilizações ao longo da história, onde os adolescentes passam por cerimônias de passagem da infância para a fase adulta, podemos dizer que esse dia foi a cerimônia de passagem de Dahmer. Morria naquele dia um dissecador de corpos de animais e nascia um assassino necrófilo. Tendo feito uma vez sem maiores consequências e com um resultado sexual prazeroso, estava na cara que ele repetiria o fato. Mas não foi bem assim.

Em agosto de 1978, Lionel Dahmer fez uma visita para sua família e encontrou Jeff sozinho.
"Eu perguntei. ‘Onde está sua mãe? Onde está David ?’ E ele respondeu: ‘Eles foram embora’. Então eu disse: ‘O que? O que você quer dizer?’ Ele respondeu de novo: ‘Eles foram embora’.”[Lionel Dahmer]
Jeff e Lionel

Lionel voltou a morar na casa juntamente com seu filho. Enquanto Lionel tentava fazer com que Jeff arrumasse um emprego, o jovem só pensava em uma coisa: beber. Jeff passava seus dias bebendo e bebendo. Depois de descobrir o problema do filho, Lionel o levou para frequentar um grupo de alcoólicos anônimos e até o levou em consultas com psicólogos, mas nada disso poderia curar a violência e o terror que o seu primeiro assassinato causou em sua mente. Apenas o álcool parecia dar algum conforto para ele.
"Eu bebia para esquecer o que eu havia feito. Ficava triste quando lembrava do que eu havia feito.”[Jeffrey Dahmer]
 Jeffrey completamente bêbado

Jeff se afundava cada vez mais no álcool, o que o impedia de arrumar um emprego e fez seu pai pensar em uma alternativa: faculdade. Nessa época Lionel já estava casado com sua segunda esposa, Shari. Os dois convenceram Jeff a entrar na Universidade do Estado de Ohio. Ele também doava sangue em troca de dinheiro, e com a grana ele comprava mais bebidas. Ele bebeu durante todos os três meses que durou na universidade. Ele então voltou para a casa do pai.

Seu pai fez de tudo para corrigir o filho. O fez frequentar um grupo de alcóolatras anônimos, o colocou na faculdade, tudo sem sucesso. “Jeff, as portas estão fechando”, dizia Lionel.
Jeffrey Dahmer

Cansado da falta de atitude do filho, Lionel deu um ultimato: ele arrumaria um emprego ou deveria se juntar ao exército. Jeff negou-se a trabalhar e continuou bebendo durante todo o tempo. Seu pai então o levou contra sua vontade até o Escritório de Alistamento Militar e o fez entrar para o exército em janeiro de 1979. Lionel achava que a disciplina no exército daria um novo rumo na vida do filho.

Em San Antonio, Texas, ele teve treinamento médico, o que o deixou feliz pois estava aprendendo bastante sobre anatomia humana. Pela primeira vez em sua vida ele parecia excitado com o que fazia. Após seis meses no exército sua aparência foi melhorando, sua pele ficando mais corada e seu corpo mais forte. O garoto tímido e recluso agora saía e até sorria.

Jeffrey em foto do colegial

Mas essa mudança de comportamento foi temporária. Ele voltou às trevas quando foi convocado para servir em Baumholder, Alemanha Ocidental. Lá, mais uma vez, ele voltou a beber. Seu comportamento era solitário mas tranquilo, exceto durante suas bebedeiras, onde se tornava mal-humorado e desafiava seus superiores. Deitado na cama, fones de ouvido quase explodiam ao som de Black Sabbath e outras bandas de heavy metal. As vezes desmaiava de tão bêbado.

Cansado de suas bebedeiras e arruaças, seus superiores o dispensaram em 1981. Ele voltou para os Estados Unidos em um voo para Miami. Sem contar para seus pais que estava de volta, ele começou a trabalhar em uma lanchonete e morava em um motel. O dinheiro era curto, gastava com bebidas e chegou a dormir nas praias de Miami.
"Uma noite ele nos ligou, estava aterrorizado e disse que estava em Miami e que precisava de dinheiro. Eu disse que não mandaria dinheiro para ele e sim uma passagem de avião para que ele voltasse para casa. Nos encontramos no Aeroporto de Cleveland. Ele tinha um sorriso em seu rosto.”[Lionel Dahmer]
 Jeff, Lionel e David Dahmer em 1980

Durante todo ano de 1981, Lionel tentou ajudar Jeff com sua dependência de álcool. Isso tornou uma luta maior ainda quando Jeff foi preso em Bath, Ohio em 21 de junho de 1981.

Na foto: Jeffrey dahmer foi preso em Bath, Ohio em 21 de junho de 1981. Foi preso em um motel e acusado de conduta inapropriada, intoxicação pública (embriaguez) e resistir à prisão. Pela cara de Dahmer dá pra ver que ele realmente tinha bebido todas.

Essa prisão era o início de várias outras de Jeff, e nessa, como nas outras, lá estava o seu pai Lionel pagando advogados e cuidando para que o filho se endireitasse na vida. A vida para Lionel Dahmer seria uma montanha-russa daqui pra frente. Insistia com o filho para que ele fizesse tratamentos e cruzava os dedos para que tudo desse certo. Mal sabia que o problema de Jeff não era o álcool.

David, Lionel e Jeff Dahmer, 1982.

Depois de sua prisão em 1981, Lionel achou por bem que Jeff fosse morar com Catherine Dahmer (mãe de Lionel e avó de Jeff) em West Allis, Milwaukee. Lá Jeff morou pelos seis anos seguintes, e pareceu encontrar alguma estabilidade, se esforçando para endireitar sua vida. Ele parou de beber e até arrumou um emprego no Milwaukee Blood Plasma Inc e posteriormente em uma fábrica de chocolates chamada Ambrosia.

 Casa da avó de Jeffrey Dahmer em 2357 Sul 57th St., em West Allis, 
Wisconsin. onde viveu 6 ​​anos e matou três pessoas.

Casa da avó de Jeffrey Dahmer em 2357 Sul 57th St., em West Allis, 
Wisconsin. onde viveu 6 ​​anos e matou três pessoas.

Mas a aparente tranquilidade na vida de Jeff não duraria muito.

Na foto: Jeffrey Dahmer. Em 1982 ele comprou uma pistola Magnum .357 para praticar tiro ao alvo; seu pai descobriu e sumiu com a arma. Jeff foi preso novamente no dia 08 de agosto de 1982 depois de abaixar sua calça para um grupo de pessoas em uma feira de Milwaukee. Foi multado em míseros 50 dólares pelo ocorrido.

Pelos quatro anos seguintes Jeff conseguiu manter sua vida no lugar. Em 1983 conseguiu um emprego na Fábrica de Chocolates Ambrosia, onde era um funcionário de estoque e ganhava 9 dólares por hora. Começou a frequentar a igreja com sua avó e ir em livrarias. Na igreja, as pregações do padre contra o homossexualismo tiveram uma terrível influência na mente de Jeff. Ele, um homossexual reprimido, não aceitava o fato de ter atração por pessoas do mesmo sexo e isso ficava mais complicado ainda quando um padre (um homem visto por Jeff como alguém que fala por Deus) dizia que Deus era contra e não aceitava que pessoas do mesmo sexo se relacionassem. Sua ida às missas mais o prejudicaram do que ajudaram.

A cada dia e a cada semana que passava em sua vida, seus pensamentos sobre violência, morte, sexo e assassinato ficavam cada vez piores, ele não conseguia fazer com que aquilo fosse embora. Como ele não se abria com ninguém, tais fantasias em uma mente psicopata sem tratamento tendem a ficar cada vez mais terríveis.




Especificamente, suas profundas fantasias sexuais limitavam-se a apenas um desejo: alguém que fosse submisso o suficiente para satisfazer suas necessidades sexuais sem que tivesse que retribuir. Em outras palavras, Jeff queria apenas satisfazer a si mesmo. Certa vez ele estava lendo em uma livraria quando recebeu um bilhete. Era um homem oferecendo seus serviços sexuais. Jeff recusou, mas aquele bilhete foi mais um ponto-chave em sua vida. A partir daquele bilhete ele decidiu que deixaria suas convicções religiosas e internas de lado e começaria a por em prática sua fantasia de se relacionar com alguém.

Ele então começou com um parceiro submisso sexual perfeito: um manequim. Ele roubou um manequim de uma loja e o manteve no porão da casa de sua avó e masturbava-se em cima dele. Com o manequim, Jeff pôde colocar em prática seu controle total sobre “alguém”. Mas sua brincadeira acabou quando sua avó descobriu o boneco e insistiu para que Jeff o jogasse fora

Em 1986, ele voltou a preso por masturbar-se na frente de dois garotos de 12 anos de idade nas proximidades do Rio Kinnickinnic em Milwaukee. O relatório do juiz diz que “O cliente possui comportamento sexual, emocional, alcoólico e financeiro problemático”

Ele foi colocado sob liberdade condicional por 1 ano.

Suas perturbações interiores continuaram a entrar em erupção rumo à superfície. Quando ele perdeu seu manequim, decidiu que era hora de colocar para fora aqueles fortes e reprimidos desejos. Ele começou a explorar o submundo gay de Milwaukee, em busca de parceiros reais.

No Club 219 fez amigos, e um deles era um Pastor Luterano, com o qual Jeff conversava abertamente. “Ele falava abertamente sobre o por quê dele não poder ser gay, que havia algo de errado com ele".


Clube 219 em 1991. Imagem A&E Biography.
 Pista de dança do Clube 219 em Walker's Point.

Internamente, Jeff não aceitava o fato de sentir atração por pessoas do mesmo sexo. Para um dos oficiais que o acompanhou durante seu período de liberdade condicional, Jeff disse que estava pensando em se matar, afirmando que era “apenas uma questão de tempo".

Porém, ao invés de se matar, Jeff dirigiu sua frustração interior para fora. É bem possível que em sua doentia mente ele tenha passado a matar homossexuais como forma de punir a si mesmo

Jeff Dahmer volta a matar após 9 anos

Na fábrica de chocolates em que trabalhava, Dahmer fez alguns amigos, mas não socializava com eles após o trabalho. Sua vida se resumia em trabalhar durante a semana e ir a boates gays e saunas em busca de parceiros sexuais aos fins de semana. Nunca era o parceiro passivo, sempre o ativo. Foi duas vezes o parceiro passivo e não gostou. Nessa época ele começou um fascínio mórbido por filmes de terror como Sexta-Feira 13, A Hora do Pesadelo, O Exorcista e Star Wars Episódio VI: O Retorno de Jedi. Esses filmes teriam um impacto muito grande na mente perturbada de Jeff.

No verão de 1987, Jeff entrou no Club Milwaukee, uma popular casa de encontro de homossexuais em Walker’s Point. Pagou uma mensalidade que dava direito a seis meses de frequentação. A casa possuía mais de 100 membros na época, os quais reuniam-se na sala de musculação, sala de TV, sauna ou chuveiros, onde podiam conversar, ter relações sexuais ou ir para um dos 38 quartos privados do lugar. De acordo com Bradley Babush, gerente da casa na época, Jeff alugava um quarto de sete dólares, onde ele oferecia bebidas para os seus acompanhantes.

Dahmer começou a drogar seus parceiros, dando para eles bebidas com pílulas para dormir. Ele começou a usar essas pilulas porque alguns homens queriam ser os parceiros ativos, fazer a penetração anal nele, e ele não queria. Essa foi a maneira de manté-los longe dos seus desejos.

"Sua atividade favorita era o que ele chamou de sexo light, que consistia em beijos, toque, abraço. Troca de carícias comuns entre adultos e que ele fantasiava com suas vítimas. Ele descreve uma dificuldade em encontrar parceiros que queriam apenas isso. A maioria dos homens queriam mais do que aquilo, a maioria queriam realizar o sexo propriamente dito, sexo anal com ele. E ele não gostava de sexo anal. Teve algumas experiências e descobriu que não queria ficar naquela posição. Os parceiros também tinham que ir embora e não passavam o tempo que ele gostaria que passassem, realizando essas atividades descritas como sexo light. Ele apenas queria realizar essas atividades de beijar, abraçar, tocar, masturbar. Na tentativa de encontrar uma maneira de manter uma pessoa para isso, ele começou a drogar suas vítimas”, diz Park Dietz, psiquiatra forense que entrevistou Dahmer e testemunhou em seu julgamento em 1992.





Jeff misturava até cinco pílulas para dormir nas bebidas, o que fazia com que os homens ficassem desacordados por até 8 horas. Quando eles ficavam inconscientes, ele dava início ao seu ritual de satisfação sexual. Ele colocava o ouvido no peito dos homens e sentia prazer em escutar os batimentos do coração, o calor que o corpo exalava. Aquilo lhe fazia ter ereção. Ele tocava os corpos dos homens, lembrava de suas aulas de anatomia no exército e imaginava como seria ver o estômago, pulmão, e outros órgãos do corpo. Beijava, tocava, deitava e abraçava o seu parceiro desacordado. Dahmer ficava horas com o parceiro e chegava a masturbar-se três vezes durante o período. Quando a vítima dormia, Jeff podia exercer um controle completo e fazer o que desejasse. Ele não teria que entreter a pessoa e poderia deixar o quarto a hora que quisesse.

A moral de Dahmer na casa começou a ficar abalada quando cinco homens que haviam estado com ele queixaram-se horas depois que se sentiam mal. Quando um dos frequentadores da casa, um homem da cidade de Madison, tropeçou e desmaiou ao sair da casa, Bradley Babush expulsou Dahmer. “Falei pra ele sobre as regras da casa certo. Havia outros lugares”, disse Bradley em reportagem para a Revista People, em 1992.

Esses outros lugares eram as boates gays de Walker’s Point. Essas boates seriam o playground de Jeff pelos próximos quatro anos.

Em 15 de setembro de 1987, Jeff foi até o Club 219. Lá conheceu um bonito jovem chamado Steven Tuomi, de 24 anos.

Na foto: Steven Tuomi. Seus restos mortais nunca foram encontrados. Créditos: Biography Channel.

Depois de algumas bebidas, os dois foram passar a noite juntos em um quarto do Hotel Ambassador em Avenues West.

"Eles se conheceram no Club 219, o Sr. Dahmer o convidou para passarem a noite juntos. O Sr. Tuomi concordou. O Sr. Dahmer não se lembra de ter oferecido ou não dinheiro para ele. Eles entraram no quarto e tiveram o que o Sr. Dahmer chama de sexo light, beijaram e masturbaram um ao outro ao mesmo tempo. Após uma hora ou duas, o Sr. Dahmer fez uma bebida para o Sr. Tuomi e misturou algumas pílulas de dormir. Sr. Tuomi bebeu e dormiu. O Sr. Dahmer bebeu sua bebida e eventualmente dormiu. O Sr. Dahmer relembra que ao acordar, o Sr. Tuomi estava deitado e visivelmente machucado. Ele percebeu que o Sr. Tuomi estava claramente morto, havia sangue escorrendo por sua boca, seu tórax estava machucado, alguns dos ossos estavam quebrados".
[Detetive Dennis Murphy, em depoimento no julgamento de Jeffrey Dahmer, em 1992]

"Coloquei algumas pílulas de dormir em sua bebida. Ele ficou inconsciente. Eu queria passar a noite com ele. E a próxima coisa que eu me lembro é de acordar de manhã e vê-lo deitado na outra ponta da cama. Seus braços e seus peitos estavam machucados, escorria sangue de sua boca. Não me lembrava de absolutamente nada. Eu fiquei completamente em choque. Eu não conseguia acreditar que tinha acontecido aquilo de novo depois de todos aqueles anos. Eu não sei o que estava se passando em minha cabeça. Eu não me lembro. Eu tento lembrar, mas não consigo lembrar de nada".
[Jeffrey Dahmer]

É provável que Jeff tenha entrado numa espécie de transe e matado Steven. Matá-lo lhe trouxe memórias negras de 9 anos atrás, quando assassinou outro Steven. Apesar do choque inicial, agora Jeff estava são o suficiente para entender o que tinha feito. Ele colocou o corpo de Steven Tuomi no armário do hotel e foi até um shopping center. Ele comprou a maior mala que encontrou, colocou o corpo dentro da mala e esperou o dia inteiro no quarto do hotel. À uma hora da manhã do dia seguinte, ele chamou um táxi que o levou até a casa onde morava, a casa de sua avó, em West Allis. Levou a mala para o porão e deixou o corpo lá por 9 dias. Um determinado dia sua avó não dormiu em casa, ele então tirou o corpo da mala e masturbou-se em cima. Desmembrou o corpo de Steven Tuomi e descartou os pedaços no lixo.

Após 9 anos, Jeff Dahmer voltava a matar. Apesar da morte de Steven Tuomi ter lhe causado um trauma inicial, ele não podia mais combater seus obsessivos pensamentos sobre a morte. Ele decidiu que após aquela morte ele não tentaria mais controlar os seus mortais desejos. A vida de Jeff a partir de setembro de 1987 tornou-se uma implacável busca pela satisfação sexual. Apesar de ter matado Steven Hicks e Steven Tuomi, até então ele não era um serial killer. Jeff era na verdade um necrófilo, psicopata e sádico-maníaco (pus o diagnóstico todo pra dar mais um drama lol) que buscava a todo custo a sua satisfação sexual, frequentando principalmente saunas gays. Mas não mais; o dia 5 de setembro de 1987 viu nascer um mortal serial killer, o mais notório dos últimos 30 anos. E não pense que é um desses que vocês veemm nessas séries ruins de televisão como CSI e Law & Order e acham que são maus e perversos.

Essa experiência provocou duas mudanças em sua vida. A primeira foi que ele percebeu o quanto era complicado fazer o transporte de corpos de um quarto de hotel, o que fez com que ele não frequentasse mais quartos de hotel. A segunda foi que no porão da casa de sua avó ele percebeu que tinha toda privacidade que precisava. A outra coisa que ele me contou foi que após isso ele não pôde mais se controlar. Em suas palavras: ‘Após aquele incidente, pareceu que não havia maneira de tentar resistir à urgência e a compulsão que me levavam a fazer aquilo. Foi ai então que eu comecei a sair procurando em boates por outras pessoas’. Eu perguntei: ‘O que você quer dizer quando fala que não havia maneira?’ Ele respondeu: ‘Eu não sei, é difícil de descrever. Parecia que aquele momento de bater em uma pessoa e controlá-la era tão forte e tão significativo que saía do meu controle’”.
[Park Dietz] 

James Doxtator, 14 anos.
16 de janeiro de 1988



Dois meses depois, em 16 de janeiro de 1988, ele topou com o adolescente James Doxtator, de 14 anos, em um ponto de ônibus quando ia embora de uma de suas noitadas em Walker’s Point. Ele percebeu que o moleque havia bebido e ofereceu 50 dólares para o garoto para que ele passasse a noite com ele. James concordou e eles pegaram um ônibus até West Allis. Quando a avó de Dahmer dormiu, James fez sexo oral em Dahmer. Jeff então o drogou e o estrangulou e levou o corpo para o porão da casa.

Com James Doxtator, Jeff pôde colocar em prática suas mais terríveis fantasias. Ele manteve o corpo por uma semana no porão para que pudesse fazer sexo a hora que desejasse. Ele masturbou-se várias vezes em cima do corpo. Quando o corpo começou a decompor-se, Dahmer o esquartejou e removeu a carne dos ossos com ácido. Esmagou os ossos com uma marreta, colocou em sacos de lixo e colocou na lixeira da casa de sua avó.

Casa da avó de jeffrey Dahmer em West Allis, Milwaukee

Bobby Duane Simpson, 27 anos.
Fevereiro de 1988

Um mês depois foi a vez de Bobby, lembram dele? Bobby foi um dos poucos a escapar de Dahmer.

Em fevereiro de 1988, Dahmer conheceu Bobby no The Phoenix. Eles começaram uma conversa e Dahmer o convidou para ir até sua casa. Foram de ônibus até West Allis. Entraram na casa e Dahmer sussurrou para Bobby que sua avó estava dormindo.

"Nos beijamos uma vez”, disse Bobby para a Revista People em 1992.

Dahmer foi para a cozinha e fez um café irlandês para os dois. Bobby tomou dois goles e desmaiou. Ele acordou no porão da casa, grogue e confuso. Dahmer estava nu, em pé sobre ele. De alguma forma ele conseguiu se soltar e fugiu. Ao comentar o fato na boate dias depois, um homem que estava sentado ao seu lado disse: “Ele drogou você também?"

Richard Guerrero, 23 anos.
24 de Março de 1988



A mesma sorte não teve Richard Guerrero, 23 anos. Um mês depois de Bobby conseguir escapar, Jeff fez uma nova vítima. Em março de 1988 ele foi até o Club 219. Lá conheceu um bonito jovem de origem mexicana, Richard Guerrero.

Richard caiu na lábia do “carente” Dahmer e aceitou seu convite para ir até a sua casa. Lá teve o mesmo destino de James Doxtator. Richard fez sexo oral em Dahmer, foi drogado e estrangulado. Dahmer desmembrou seu corpo e descartou os pedaços no lixo.

Na foto: Richard Guerrero, 23 anos. Morto por Dahmer em 24 de março de 1988. Quando Dahmer foi preso em 1991 e confessou o assassinato de Richard, sua família questionou o fato dizendo que Richard não era homossexual.

Ronald Flowers
Abril de 1988

Poucas semanas depois de esquartejar Richard Guerrero, Jeff Dahmer atraiu outra presa para o seu matadouro. Ronald Flowers, lembram-se dele? O cara que estava com o carro estragado em Walker’s Point e recebeu de Jeff uma oferta de ajuda.

"Ele olhava em meus olhos, mas quando eu olhava nos dele, ele desviava o olhar. Parecia que ele não queria ter contato olho no olho”, disse Ronald Flowers, que foi uma testemunha da promotoria durante o julgamento de Dahmer em 1992.

Como sabido por vocês, Dahmer ofereceu ajuda a Ronald, que aceitou ir até a casa onde Dahmer morava com sua avó. Lá Dahmer ofereceu uma xícara de café para Ronald. “Pela primeira vez ele me olhou nos olhos”, disse Ronald ao descrever Dahmer vendo ele tomando o café.

Ronald acordou no hospital. Ele tentou entrar com uma queixa contra Dahmer mas não foi em frente porque testes laboratoriais não mostraram vestígios de drogas em seu corpo. Halcion, a pílula de dormir que Dahmer usava para drogar suas vítimas dissipa-se rapidamente no organismo não deixando vestígios.

Mas por que Dahmer não o matou??????

Essa resposta foi dada ao detetive Dennis Murphy em 1991.
"Não o matei porque minha avó nos viu juntos." [Jeffrey Dahmer]
"Não sei que horas eram, sei que era tarde, umas onze horas da noite. Eu saí de uma boate e fui até o meu carro. Tentei dar partida, mas não funcionava. Eu fiquei tentando, tentando. Ele apareceu e me ofereceu uma carona até sua casa para pegar o seu carro e voltar para guinchar o meu carro. Quando chegamos lá eu disse que o esperaria do lado de fora e ele disse: ‘Não, eu faço questão que você entre. Só vai levar um minuto’. Ele me ofereceu uma bebida. A próxima coisa que eu me lembro foi de perguntar a mim mesmo o porquê de ele me olhar daquele jeito. Antes ele não me olhava nos olhos e agora ele me olhava fixamente. Me perguntei: ‘Por que ele está me olhando desse jeito?’ Eu sei que tomei o café bem rápido, pois o que eu queria mesmo era sair de lá. Me lembro de ficar extremamente confuso, e aí desmaiei. Minha próxima memória já era no hospital. Eu perdi todo meu dinheiro da carteira, perdi um bracelete que estava no meu braço direito".
[Ronald Douglas Flowers Jr, em depoimento no julgamento de Jeffrey Dahmer, em 1992]

"O Sr. Dahmer disse para mim que drogou o homem [Ronald Flowers] e o levou para o porão. De manhã o homem acordou após o Sr. Dahmer fazer sexo light com ele. O Sr. Dahmer deu 8 dólares para ele e o viu subindo em um ônibus. O Sr. Dahmer disse que o homem estava muito drogado e aparentemente recobrou os sentidos em algum hospital. Perguntei se ele sentia que poderia ser pego por esse incidente e ele disse que não, pois não o havia machucado. Eu disse: ‘Mas você o drogou e tirou seu dinheiro, certo?’ Ele respondeu: ‘Certo, mas achei que ele pensaria que havia perdido o dinheiro depois de beber''.
[Park Dietz, psiquiatra]

Bobby e Ronald escaparam no exato momento em que Dahmer construia sua escalada de assassinatos. Três homens foram mortos no porão da casa de sua avó num curto período, outros escaparam, e quantos outros provavelmente declinaram ao pedido de Dahmer em boates ou na rua...

Mil novecentos e oitenta e oito foi o ano em que Jeffrey Dahmer perdeu completamente o controle sobre si mesmo (se é que ele tinha algum controle). Aos 18 anos cometeu o seu primeiro assassinato, e de alguma forma ele conseguiu segurar e lutar contra sua vontade interior de matar pessoas por longos 9 anos. Mas ao 27 anos ele voltou a matar. Diz não lembrar de como matou Steven Tuomi no Hotel Ambassador no fim de 1987, mas essa morte foi o ponto de partida, a fagulha que aquela mente perturbada precisava para ligar o motor ao máximo. A patir daquele crime ele decidiu que faria a “sua fantasia de vida mais poderosa do que a sua vida real".

O açougue de Jeff era o porão da casa de sua avó, e é realmente incrível pensar que ele matou três pessoas (e fez o que fez com os corpos) no porão da casa sem que ninguém da família levantasse qualquer tipo de suspeita. O fato de Jeff morar apenas com sua avó, uma mulher de idade, contribuiu para o seu sucesso. Mas o fato é que o comportamento estranho do neto e o cheiro podre que vinha do porão começaram a incomodar a velha. Ela começou reclamando com o próprio neto, depois passou a reclamar com seu filho, Lionel, pai de Jeffrey.

''Eu gosto de usar ácido para descarnar animais mortos”, disse Jeff para sua madrasta Shari Dahmer na época, quando Lionel e Shari conversaram com Dahmer.

Se de um lado a avó de Dahmer não tinha a mínima idéia do que acontecia no porão de sua casa, do outro ela estava completamente consciente do barulho e das bebedeiras que Jeffrey fazia com seus “amigos”. Alguma coisa deveria ser feita. Cansada do neto, ela pediu para que ele fosse morar em outro lugar.

Então, em 25 de setembro de 1988, Jeffrey mudou-se para um apartamento na North 24th Street, número 808, em Avenues West, Milwaukee. Agora ele estava sozinho no seu próprio lar para fazer o que bem entendesse. Seria o ambiente ideal para ele continuar sua onda de matança, certo?

Errado!

Um dia após se mudar para a sua nova casa, Jeffrey Dahmer se deu mal, mas muito mal.

A Família Sinthasomphone

Os Sinthasomphone eram imigrantes vindos do Laos, um pequeno país asiático localizado na Indochina e que faz fronteira com China, Vietnã, Myanmar, Tailândia e Camboja. Eles chegaram em Milwaukee em 1979, atraídos pela esperança de ter uma vida melhor na América. Nos anos 70 a cidade de Milwaukee tornou-se o ponto final de imigrantes vindos daquele país, e vários amigos e parentes dos Sinthasomphone já viviam por lá, o que contribuiu para que eles fossem para a cidade para recomeçar a vida.

A família deixou o Laos em março de 1979 devido a ameças comunistas de tirarem a fazenda de arroz da família, em uma vila perto da capital do país.

''Os comunistas tentaram roubar sua terra, é por isso que ele fugiu. Eles também tentaram prendê-lo, os comunistas disseram que ele fez algo de errado, mas ele não fez nada de errado”, disse Kongpheth Vongphasouk, casado com Thaeone Sinthasomphone, filha mais velha do patriarca da família Sinthasomphone, em uma reportagem publicada no The New York Times no do dia 31 de julho de 1991. “A Tailândia ofereceu refúgio para os laosianos e cambojanos que fugiam de regimes repressivos. A Tailândia ficava do outro lado do Rio Mekong, o Sr. Sinthasomphone construiu uma canoa e enviou toda a sua família pelo rio, de madrugada, com as crianças pequenas drogadas com pílulas para dormir, para que não chorassem e assim não atraíssem a atenção dos soldados que patrulhavam o rio".

Poucos dias depois, o patriarca da família, Sounthone Sinthasomphone, atravessou o Rio Mekong a nado e se reuniu com o resto de sua família em um campo de refugiados, onde viveram por um ano. No acampamento, a família fez contato com representantes de programas norte-americanos que tinham como objetivo realocar famílias fugidas de guerras. Com a ajuda do programa e apoio da arquidiocese católica de Milwaukee, a família se mudou para a cidade em 1980.

Os Sinthasomphone tiveram um período de difícil adaptação em sua nova casa; outra cultura, outra língua, foi um impacto muito grande. As crianças da família tiveram menos problemas, se adaptaram muito bem e tornaram-se fluentes em inglês (crianças são sempre mais espertas!). Os mais velhos da família conseguiram empregos como soldadores, operadores de máquinas e trabalhadores de linha de montagem.

"Suas vidas [pais] aqui não tem sido fáceis, mas eles sentiram que a América ofereceu mais oportunidades e melhor qualidade de vida do que o que eles tinham”, disse Anouke Sinthasomphone, com 27 anos na época, e um dos irmãos de Konerak Sintasomphone.

As vidas sofridas (em direções opostas) dos Sinthasomphone e do serial killer Jeffrey Dahmer cruzaram-se pela primeira vez no dia 26 de setembro de 1988. Um dia após mudar-se para o seu apê, Jeffrey Dahmer ofereceu 50 dólares a um garoto de origem asiática, de 14 anos, que viu andando na rua para que ele posasse em fotos para ele. O garoto asiático confiou naquele homem normal e aparentemente inofensivo e aceitou a oferta. Quem era o garoto asiático?

Seu nome não foi divulgado (por ser menor na época), mas ele era um Sinthasomphone, mais precisamente um irmão mais velho de Konerak Sinthasomphone, que seria morto por Dahmer três anos depois. Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, não? Cai, e se bobear cai muitas outras vezes.

Dahmer convenceu Sinthasomphone a se despir parcialmente, tirou duas fotos com sua máquina Polaroid, beijou sua barriga e tocou em seu pênis. Colocou halcion em uma bebida para o garoto, que bebeu mas não dormiu. A droga não fez efeito e o moleque saiu o mais rápido que pôde daquele lugar sem que Dahmer o impedisse ou machucasse. Ao chegar em casa, a família Sinthasomphone percebeu que algo estava errado e levaram o menino para o hospital. Lá, foi confirmado que ele havia sido drogado. A rápida ação dos pais do garoto foi crucial para que os exames laboratoriais comprovassem que ele fora drogado. Diferentemente de Ronald Flowers, que foi drogado por Dahmer na noite anterior e só depois de várias horas fez o exame no hospital, os exames em Sinthasomphone foram feitos quase na mesma hora em que fora drogado, por isso conseguiu-se provar o fato.

Dois dias depois a polícia prendeu Dahmer na fábrica de chocolates Ambrosia. Foi preso sob acusação de exploração sexual de uma criança, ou em palavras mais modernas, pedofilia.

Dahmer agora não era um bêbado exibicionista que abaixava suas calças na rua. Ele agora havia sido preso por pedofilia e seu destino poderia ser bem pior do que pagar míseros 50 dólares de multa. Sem falar que ele ficaria preso até pelo menos o juiz decidir se ele poderia aguardar o julgamento em liberdade. Estupradores e pedófilos não são muito bem vistos por outros presos dentro da cadeia, certo?

Pela primeira vez na vida, o pai de Jeffrey Dahmer viu que os esforços feitos por ele durante toda a sua vida tinham sido em vão. Ele percebeu que o seu filho estava totalmente fora de controle.

''Meu filho parecia que seria aquele mentiroso, alcóolatra, ladrão, exibicionista, molestador de crianças. Eu não podia imaginar como ele havia se tornado aquela alma arruinada… Pela primeira vez eu senti que os meus esforços e recursos não seriam suficientes para salvar meu filho. Faltava uma coisa em Jeff… Nós a chamamos de consciência, que havia morrido ou talvez nunca tivesse existido”.
[Lionel Dahmer]

Dahmer declarou-se inocente em uma audiência preliminar e foi libertado sob fiança em dinheiro de US$ 2.500 dólares. Ele voltou a morar com sua avó em West Allis e em janeiro de 1989, e sob conselho do seu advogado, Jeff muda seu apelo para culpado e o julgamento é marcado para maio de 1989. Mas Jeff não consegue segurar seus ímpetos, e uma vez livre, ele retorna para a movimentada noite de Walker’s Point e é lá que, um mês antes do seu julgamento, ele conhece a sua quinta vítima.

Anthony Sears, 26 anos.
25 de Março de 1989, La Cage


Anthony Sears

A vítima dessa vez foi Anthony Sears, de 26 anos. Dahmer elogiou o corpo do negro atlético no La Cage e ele caiu na lábia do bonito homem loiro. Anthony estava na companhia de outros dois amigos. Jeff e os três homens saíram juntos da boate e um amigo de Anthony deixou-os em West Allis.

Com Anthony Sears, Dahmer daria início a um ritual macabro enraizado nas suas mais doentias fantasias. Dahmer esquartejou seu corpo, removeu a carne dos ossos usando ácido e ferveu a cabeça da vítima até que a carne do crânio despregasse. Tirou a pele e pintou o seu troféu de cinza. Também removeu o pênis. Mas onde guardar seus troféus? Na casa de sua avó seria muito perigoso, ele então guardou suas lembranças no seu armário particular na Fábrica de Chocolates Ambrosia. Vocês acham isso doentio? Vocês não viram nada.

Na foto: Anthony Sears, 26 anos. A quinta vítima de Jeffrey Dahmer e a terceira e última a ser morta na casa de Catherine Dahmer, sua avó. Com Anthony, Jeff daria início a um ritual que a cada morte se tornaria mais complexo e aberrante. Tendo matado outras 4 pessoas antes sem levantar suspeitas, Jeff agora havia decidido que suas vítimas ficariam com ele para sempre. Anthony Sears foi o primeiro de suas vítimas da qual Jeff manteve o crânio e pênis como troféus. O crânio de Anthony seria encontrado no dia 22 de julho de 1991 no apartamento de Dahmer. 

Jeffrey Connor, amigo de Anthony Sears.

"Eu o conhecia [Anthony Sears] a aproximadamente três anos. Naquele sábado fomos juntos ao La Cage, uma boate gay em Milwaukee. Fomos no meu carro. Conheci ele [Jeff Dahmer] perto do horário em que a boate fechava. Quando a boate fechou fomos eu, Anthony, Jeffrey Dahmer e outro amigo [de nome Bob] nosso para fora. Entramos no meu carro, Jeffrey Dahmer e Anthony sentaram-se no banco de trás. Deixamos os dois em West Allis… claro que eu sabia que os dois fariam alguma coisa [ficarem a noite juntos]. Eu e Anthony combinamos que eu o pegaria na manhã seguinte mas ele não ligou e nunca mais o vi".
[Jeffrey Connor, amigo de Anthony Sears, em depoimento no julgamento de Jeffrey Dahmer em 1992]

Park Dietz durante o julgamento de Jeffrey Dahmer.

''Ele disse que o achou muito atraente. Ele o matou e manteve o crânio. Foi nessa época que ele formulou um plano de construir um Templo da Morte. Ele desenhou um diagrama sobre sua idéia de construção do templo e o diagrama mostrava 10 crânios em cima de uma mesa preta, incensos queimando em ambos os lados, dois esqueletos inteiros que seriam montados ao lado da mesa preta. Lâmpadas azuis seriam colocadas acima da mesa, e no meio, uma imagem de Satã. Uma cadeira preta seria colocada de frente para o templo para que ele pudesse se sentar e admirar sua coleção, como um mestre. Segundo ele, com isso, ele seria capaz de se tornar uma força espiritual muito poderosa''.
[Park Dietz]

Veja abaixo o diagrama feito por Dahmer e apresentado pelo psiquiatra em seu julgamento em 1992.

O diagrama do santuário da morte de Jeff Dahmer. Dahmer desenhou em detalhes o Santuário que construiria. Ao centro uma grande mesa preta (black table), em cima dela 10 crânios humanos, 5 de cada lado da mesa. Nas extremidades da mesa preta, incensos queimariam. Ao lado da mesa, os homens desenhados referem-se a esqueletos inteiros que seriam pintados (painted skeletons). Acima da mesa presta, 4 grandes globos com lâmpadas azuis (lamp with blue globe lights). Acima, nota-se a imagem de Satã (rosto desenhado com chifres). De frente a mesa, Dahmer planejava colocar uma cadeira preta, para que ele (O Mestre) pudesse se sentar e admirar o seu trabalho.

O Diagrama do Santuário da Morte de Jeffrey Dahmer. Atrás do Santuário Dahmer pensou em colocar cortinas azuis.

Na foto: Em destaque a cadeira preta do "Mestre". Nela Dahmer poderia sentar-se, admirar e dar órdens aos seus súditos.

Mas para que esse plano desse certo ele teria que continuar matando. Seu altar macabro tornou-se seu único plano de vida, sua única ambição. A morte significava mais do que a vida para Jeffrey Dahmer.

O julgamento de Jeff Dahmer por exploração infantil
23 de Maio de 1989

Em 23 de maio de 1989, o advogado de Dahmer, Gerald Boyle, e o promotor, Gale Shelton, apresentaram seus argumentos ao Juiz William Gardner. O promotor queria uma sentença para Dahmer de no mínimo cinco anos de prisão.

''Em meu julgamento está absolutamente claro que o prognóstico de tratamento para o Sr. Dahmer dentro da comunidade é extremamente sombrio… Sua percepção do que ele fez de errado foi a de que ele escolheu uma vítima muito jovem… Ele parece ser cooperativo e receptivo, mas nada do que vejo por fora indica que ele pode lidar com sua raiva e seus profundos problemas psicológicos''.


Três psicólogos que o examinaram concordaram que Dahmer era manipulador, resistente e evasivo. A hospitalização e o tratamento intensivo foram recomendados pelos psicólogos.

O advogado de Dahmer argumentou que ele era doente e que precisava de tratamento, e não prisão. Gerald Boyle enfatizou o fato dele ter um trabalho.

''Nós não temos um infrator múltiplo aqui. Eu acredito que ele foi pego antes do ponto que poderia ser pior, o que acredito ser uma uma bênção disfarçada''.

Dahmer falou em sua própria defesa, culpando o alcoolismo por seu comportamento. Ele era articulado e convincente.

''O que eu fiz foi muito sério. Eu nunca estive nessa posição antes. Nada é mais terrível. Isto é um pesadelo tornando-se uma realidade para mim. Isso chocou a mim mesmo. A única coisa que eu tenho em minha mente, e que é estável e que me dá uma fonte de orgulho, é o meu trabalho. Eu estive muito perto de perde-lo por causa dos meus atos, dos quais eu admito total responsabilidade… Tudo o que eu posso fazer é implorar para você, por favor poupe o meu trabalho. Por favor me dê uma chance de mostrar que eu posso, que eu posso trilhar meu caminho e não me envolver mais em nenhuma situação como essa… Seduzir uma criança foi o clímax da minha idiotice… Eu quero poder ajudar. Eu quero poder transformar minha vida'',

O juiz caiu de joelhos diante da lábia de Dahmer. Uma das características mais comuns em psicopatas é a ilimitada capacidade de mentir para se proteger da sociedade. A sentença do Juiz foi cinco anos de liberdade condicional e um ano de prestação de serviços na Casa de Correção de Milwaukee, o que permitia que ele trabalhasse durante o dia e retornasse para casa durante a noite. Ele também não podia se aproximar de crianças. O serial killer escapava de ficar enjaulado por cinco anos.

Durante todo o resto do ano de 1989, Dahmer cumpriu sua sentença. Trabalhava durante o dia na Fábrica de Chocolates e voltava para a Casa de Correção de Milwaukee durante a noite. Sendo vigiado de perto, ele não tinha como matar.


''Ele foi alguém que veio, cumpriu seu tempo e foi embora. Ele era um cara normal”, disse Jerry Wentzel, chefe de segurança do Centro.

No Natal de 1989, o juiz deu 12 horas para que Dahmer pudesse passar a data com sua família. Ao invés disso, ele foi para um bar e bebeu até cair. Algumas fontes dizem que ele acordou amarrado em uma cama de motel onde um homem o teria abusado sexualmente com um castiçal. Será mesmo? O predador teria virado presa? Esse fato está descrito em uma extensa pesquisa sobre serial killers feita pelo Departamento de Psicologia da Universidade de Radford, Virgínia.

O fato é que ele chegou na prisão várias horas depois do horário marcado.

Após dez meses, o juiz concedeu-lhe liberdade antecipada, ignorando uma carta de Lionel Dahmer implorando para que o juiz não soltasse seu filho até que ele pudesse receber um tratamento adequado.

''Eu sinceramente espero que você possar intervir de alguma maneira para ajudar o meu filho, o qual eu amo muito e ao qual desejo uma vida melhor. Essa pode ser a nossa última chance de fazer algo que o ajude.''
[Parte da carta que Lionel Dahmer enviou ao juiz pedindo para que ele não soltasse seu filho antes de um tratamento adequado]

Ele voltou para a casa de sua avó em março de 1990, mas sob a condição de encontrar um lugar para viver.

Depois de sair do Centro Correcional de Milwaukee, ele voltou à vida subterrânea de Walker’s Point. Nas quintas-feiras à noite ele ia ao The Triangle, onde por apenas 3 dólares ele podia beber quantas cervejas quisesse. No bar Partners, ele conversou com Tom Neuman. Conversaram, dentre outras coisas, sobre programação de computadores. Uma noite Tom convidou Dahmer para dar uma volta. Pararam atrás do bar This Is It. Tom convidou Dahmer para passar a noite com ele, mas Dahmer recusou. É possível que Dahmer não tenha se sentido atraído por Tom, um branco gordo e de aparência desleixada.

Bar Triângulo (The Triangle Bar) na 135 East National Avenue. Desde sua inauguração em 1988, o Bar Triângulo, em Walker’s Point, tem sido um point da cena gay. A promoção dos três dólares continua até hoje, mas apenas aos domingos. Créditos da imagem: Google Street View.

A mudança para os Apartamentos Oxford
14 de Maio de 1990

Dois meses depois de sair em liberdade, Dahmer mudou-se para o Prédio dos Apartamentos Oxford na 924 North 25th Street. Era o ambiente ideal para em 15 meses matar mais 12 pessoas, 10 delas negras.

O local era barato e ficava perto das boates gays de Walker’s Point. Uma vez que Dahmer tinha seu próprio apartamento, ele pôde colocar em prática toda sua fantasia de crueldade.

Um mês depois de ter se mudado, ele conheceu Edward Smith, de 28 anos, no Club 219. Dahmer o convidou para esticar a noite em seu apartamento, e lá Edward foi drogado e estrangulado. Foi a primeira vítima da qual Dahmer tirou fotos dos vários estágios de sua morte.

Edward Smith

Poucas semanas depois, Dahmer conheceu Raymond Smith no mesmo Club 219. Raymond fez sexo oral em Dahmer antes de ser desmembrado. Seu corpo foi derretido em ácido. Sua cabeça foi fervida em uma panela e Dahmer guardou o seu crânio.

Raymond Smith

Com vítimas abundantes, a lentidão da polícia e ninguém na comunidade gay enviando um alerta sobre uma onda de desaparecimentos, Dahmer, assim como vários outros assassinos em série, pode ter crescido desleixado. Isso se faz perceptível por outras vítimas que conseguiram escapar do canibal. No verão de 1990, foi a vez de Leonard, “Ele colocou um lenço em minha boca e assim não podia gritar”, lembra L. Dahmer então iniciou a sessão de tortura batendo com um martelo em seu pescoço. Após três horas de brincadeiras violentas, Dahmer soltou sua vítima dizendo: “Se você falar qualquer coisa para qualquer pessoa eu mato sua família''.

Mas L. viu a morte muito perto, e mesmo sendo um criminoso vendendor de drogas chamou a polícia, que visitou o apartamento de Dahmer mas não o encontrou.

Alguns acreditam que o fato de Dahmer ter soltado L. pode ter sido um sinal de que ele queria que a polícia o pegasse. Mas outros especialistas, como o ex-agente especial do FBI John Douglas, acreditam no contrário. “Isso não é um grito de socorro. Não há o desejo de ser pego. Eles se divertem, eles tem orgulho dos seus trabalhos, eles não se arrependem''.

Ninguém percebeu que havia um serial killer em Milwaukee, pois Dahmer não deixava rastros. Nessa época ele encontrava regularmente com o policial da condicional encarregado de escrever relatórios sobre o ex-condenado. As visitas, porém, sempre aconteciam no escritório do policial, e não na casa do acusado, como de costume.

Mais duas vítimas
Setembro de 1990

Earnest Miller, 24 anos, tornou-se a oitava vítima do serial killer. Dahmer manteve seu esqueleto inteiro em seu apartamento como um troféu. Ele obteve satisfação sexual ao comer o bíceps e o coração de Earnest. Agora Earnest era parte dele e segundo Dahmer, viveria eternamente através dele.

Earnest Miller

Em 24 de setembro de 1990 foi a vez de David Thomas, 24 anos. Ao chegarem ao apartamento, Dahmer percebeu que aquele homem não o atraía. Ele o matou porque David não lhe daria prazer. Dahmer tirou várias fotografias do seu corpo enquanto desmembrava.

David Thomas

Feriado do dia de Ação de Graças
22 de novembro de 1990.

Em 22 de novembro de 1990, Jeffrey Dahmer passou o feriado do dia de Ação de Graças na casa de sua avó, em West Allis. Seu pai e sua madrasta, como faziam todos os anos, foram passar o feriado na casa da matriarca da família. Lionel levou uma câmera e filmou o seu filhote. Ver o vídeo dá uma certa tristeza, dá para notar que Lionel sentia orgulho do seu filho. Jeff estava bem vestido, com uma aparência muito boa, conversando muito bem, e isso fez com que seu pai ficasse orgulhoso dele. Já haviam se passado dois anos desde o último incidente com o filho e, desde então, Dahmer parecia estar muito bem. Estava trabalhando e não tinha se envolvido em encrencas. Dá pra perceber que Lionel parecia estar pensando: “Finalmente meu filho está indo pelo caminho certo''.

Mas esse mesmo homem inofensivo aos olhos da família já havia trucidado nove homens em crimes bárbaros. E depois desse dia sua onda de matança continuaria, e continuaria muito pior.

Técnica para perfuração do topo do crânio

Cinco meses após Dahmer matar David Thomas, ele atacaria de novo. Catorze dias após a estréia de O Silêncio dos Inocentes, ele conheceu Curtis Straughter, 19 anos, que aceitou o seu convite para ir até o apartamento 213. Lá Curtis fez sexo oral em Dahmer e cometeu o erro de querer penetrar o loiro. Dahmer o algemou (foi a primeira vez que ele usou suas algemas), drogou e estrangulou Straughter. Seu crânio foi mantido como troféu. Porém, antes de estrangulá-lo, algo estranho aconteceu.

''Ele estava deitado na minha cama quando começou a desmaiar, ele caiu e bateu em uma mesa preta.”
(Jeffrey Dahmer)


David Thomas

Essa mesa preta de Dahmer tinha duas estátuas de grifos (criatura mitológica com corpo de leão e asas de águia). Para Dahmer, o fato de Straughter ter caído e batido nessa mesa preta não fora mera coincidência. Em sua mente ele imaginou que aqueles dois grifos faziam parte do oculto e simbolizavam aquilo que ele procurava: O poder de controlar alguém.

Em 1991, as perturbações mentais de Dahmer chegaram a um nível assustador. Um nível até hoje pouco conhecido da psiquiatria. Depois de 10 assassinatos, ele chegou a conclusão de que o mais perfeito para sua vida agora seria conseguir um parceiro totalmente submisso, alguém que apenas obedecesse o que ele ordenasse. Alguém que não reclamasse de nada, alguém que sempre estivesse disposto a fazer tudo o que ele quisesse e mandasse, da mesma forma que os grifos fizeram com Curtis. Foi ai então que ele começou uma experiência bizarra. Uma experiência para tentar criar o que ele chamou de “ZUMBI''.

Dahmer queria um homem que lhe servisse de escravo sexual, naquele momento ele não queria mais corpos, talvez ele tenha cansado de matar. Masturbar e transar com corpos já não o satisfazia como ele queria. Ele queria um companheiro vivo, mas de preferência que não falasse ou enchesse o saco. Nada melhor do que um zumbi, não?

Em abril de 1991, Errol Lindsey, 19 anos, foi drogado por Dahmer. Com a vítima inconsciente mas ainda viva, Dahmer fez o que descreveu como “técnica para perfurar o topo do crânio”. Com uma furadeira, ele abriu um buraco na cabeça de Errol e injetou ácido muriático.
''Essa foi a primeira vez que ele perfurou a cabeça de uma vítima com uma furadeira. E aqui o Sr. Dahmer disse que ele primeiramente drogou o Sr. Lindsey e depois ele fez o que descreveu como técnica para perfurar o topo do crânio. Nós discutimos isso em detalhes. Ele disse que após perfurar o crânio, ele injetou ácido pela cavidade que havia aberto. O Sr. Lindsey acordou, e quando ele ficou consciente o Sr. Dahmer disse que ele estava grogue mas coerente. Ele deu mais bebidas com pílulas para dormir para o Sr. Lindsey e então o estrangulou. O que O Sr. Dahmer queria aqui era um parceiro sexual submisso, um zumbi, como ele mesmo descreveu. Ele não queria mais corpos. Sua intenção ao deixar esse indivíduo vivo era que ele tivesse um zumbi para lhe servir de escravo sexual. Mas o Sr. Lindsey acordou e o Sr. Dahmer percebeu que ele havia falhado no seu experimento, então ele o estrangulou. Eu lhe perguntei em nossa conversa: ‘Você esperava que ele se levantasse após esse experimento e dissesse: pois não mestre?’ Ele respondeu: ‘Não, não. Eu apenas estava tentando desabilitar a vontade’. Eu disse: ‘Sua vontade?’ E ele respondeu: ‘Sim'''. [Park Dietz]
O corpo de Errol Lindsey foi mantido por alguns dias para que Dahmer fizesse sexo com ele a hora que desejasse.

Errol Lindsey

Em 24 de maio de 1991, o surdo-mudo Tony Hughes, 31 anos, envia um bilhete de paquera para Dahmer no Club 219. Dahmer o convida para ir até o seu apartamento para beber e ver vídeos pornográficos. Tony nunca mais seria visto.

''O Sr. Dahmer não tentou matá-lo. O Sr. Hughes morreu em consequência dessa técnica de perfuração. O Sr. Dahmer perfurou o seu crânio com uma furadeira e injetou ácido. O Sr. Hughes morreu imediatamente. A intenção do Sr. Dahmer era mantê-lo vivo. Aqui não há compulsão em matar, ele não queria matar, ao contrário, queria manter o Sr. Hughes vivo para que ele lhe servisse para satisfazer o seu prazer sexual.''
[Park Dietz]


Anthony Hughs

Dee Konerak Sinthasomphone

Três dias depois foi a vez de Dahmer ter um novo encontro com um membro da família Sinthasomphone.

Dee Konerak Sinthasomphone

''Ele viu a vítima andando pelo shopping. Se apresentou para ele e ofereceu 50 dólares para ele posar para fotos em seu apartamento. Eles chegaram ao apartamento por volta das dezessete horas. Dahmer tirou várias fotos da vítima. O Sr. Dahmer disse que Tony Hughes, o qual ele havia matado dias atrás, estava deitado nu na porta do banheiro. Ele acredita que o garoto asiático o viu mas não reagiu, provavelmente por causa das pílulas de dormir que ele havia ingerido. Após ele beijar o garoto e tocar o seu pênis ele não conseguiu penetrá-lo satisfatoriamente. Ele então sentou no sofá para beber cerveja e assistir a vídeos pornográficos até que ele adormeceu. Depois de algumas horas ele acordou e percebeu que a vítima ainda estava dormindo. Ele decidiu sair para beber mais cervejas em um bar nas proximidades do seu apartamento. Ao caminhar de volta para o apartamento ele viu a vítima completamente nu na esquina da 25th state. Ao lado dele havia duas garotas negras e elas pareciam estar histéricas. Ele andou até a vítima e percebeu que Konerak parecia falar uma língua asiática com as duas garotas. A vítima estava desorientada. Ele chegou e disse para as garotas que ele era um amigo do garoto e tentou levá-lo para o seu apartamento. As meninas disseram que não sabiam se ele realmente conhecia aquele garoto e que haviam chamado a polícia''.


[Dennis Murphy, foto, em depoimento durante o julgamento de Jeffrey Dahmer]

Konerak foi levado de volta ao apartamento 213 por policiais. Dahmer deu uma segunda injeção de ácido muriático, causando sua morte (não há informações aqui se Dahmer tentou uma lobotomia em Konerak, o que parece ser provável). Removeu seu pênis, dissolveu sua carne em ácido e ferveu sua cabeça no fogão. Pintou o crânio de Konerak e o colocou junto aos outros em sua estante.

Dee Konerak Sinthasomphone. O garoto nascido no Laos foi morto aos 14 anos de idade pelo serial killer Jeffrey Dahmer. Seu crânio virou um troféu. Três anos antes, Dahmer abusou sexualmente de um irmão mais velho de Konerak, que conseguiu escapar.

No dia 30 de junho de 1991 ele conhece Matt Turner em uma parada gay. Ele masturbou Dahmer, que em seguida o drogou e estrangulou. A cabeça de Matt foi parar no freezer de Dahmer.

Matt Turner

A carnificina continuava e cinco dias depois ele conheceu Jeremiah Weinberger, 23 anos, em um bar em Chicago. Ele levou Jeremiah para o seu apartamento oferecendo dinheiro. A vítima fez sexo oral em Dahmer, beijaram e masturbaram-se. Assistiram vídeos pornográficos e Jeff lhe ofereceu uma bebida. Dahmer já havia falhado em tentativas anteriores de criar um zumbi. Mas por que? Dahmer deve ter martelado essa pergunta em sua cabeça durante muito tempo. Injetou ácido na cabeças de vítimas anteriores e o negócio não funcionou. Então, com Jeremiah, Dahmer fez diferente. Ele perfurou sua cabeça com uma furadeira, colocou água para ferver no fogão e injetou água quente no buraco. Jeremiah acordou e Dahmer percebeu que ele não era um zumbi, estava apenas grogue. Dahmer repetiu a experiência. Deu mais drogas para Jeremiah. A vítima desacordou novamente e Dahmer injetou mais água quente dentro de sua cabeça. Dessa vez Jeremiah nunca mais acordaria. A vítima entrou em coma. Na manhã seguinte ele ainda estava em coma e Jeff tentou acordá-lo. Dahmer foi para o trabalho e ao voltar notou que a vítima estava morta.

Jeremiah Weinberger

''Ele disse que quando voltou e percebeu que Jeremiah estava morto, se sentiu mal, pois ele queria que a vítima estivesse bem para que os dois pudessem conversar''.
[Judith Becker, psiquiatra que entrevistou Dahmer e testemunhou em seu julgamento em 1992]

A cabeça de Jeremiah teve como destino o freezer de Dahmer, e foi colocada ao lado da de Matt Turner.

A essa altura Dahmer já possuía um barril azul com 57 litros de ácido clorídrico que ele usava para dissolver suas vítimas. Após dias no ácido, a carne das vítimas reduzia-se a uma pasta preta que Dahmer tentava descartar usando o vaso sanitário e ralos. Um odor terrível de carniça invadiu o prédio e muitos vizinhos farejaram o cheiro e deram de cara com o apartamento 213.

''A única coisa da qual os vizinhos reclamavam era do mau cheiro que vinha do apartamento. Uma vez liguei pra ele e disse: ‘Ei, Jeff limpe esse seu apartamento, já estou cansado de receber reclamações de mau cheiro’. Ele respondeu: ‘Pode deixar, vou resolver isso’”, disse o síndico do prédio na época.

Pamela Bass. "Era um cheiro insuportável. Certa vez eu fui farejando em todas as portas dos vizinhos. Quando cheguei na porta do Jeff, eu pude perceber que o cheiro vinha lá de dentro. Achávamos engraçado também o fato de que, o que quer que seja que Jeff estivesse cozinhando, ele comia sozinho, ele nunca levou uma namorada para o apartamento. O cheiro era muito particular, apimentado." Créditos: Biography Channel.

Dahmer era um solitário patológico, ele não queria que os seus parceiros sexuais o deixassem, mesmo após a morte. Manter certas partes dos corpos era uma maneira de Dahmer exercer seu controle sobre eles. Mesmo que fossem apenas crânios.

No dia 12 de julho de 1991, Oliver Lacy, 23 anos, perdeu sua vida quando aceitou o convite do homem loiro para ir até o seu apartamento. Oliver era um negro atlético que chamou a atenção de Dahmer. Tiveram o que Dahmer chamou de “sexo light”. Foi drogado e Dahmer tirou fotos do seu corpo nu. Quando Dahmer teve sua satisfação completa matou Oliver. Descarnou a vítima e colocou sua cabeça e o seu coração na geladeira (para comer mais tarde). Foi a cabeça de Oliver que o policial Ron Mueller viu no dia 22 de julho de 1991.

Oliver Lacy

No dia 15 de julho de 1991, Dahmer foi demitido da Fábrica de Chocolates Ambrosia depois de sucessivas faltas sem explicação (ele estava muito ocupado). Dahmer vivia o ápice doentio do seu distúrbio mental, nada mais importava para ele. Ele só queria matar e matar. Era o seu novo trabalho: matar pessoas.

Quatro dias depois de ser demitido, Dahmer faria sua décima sétima vítima. Seu vizinho do apartamento 214, Vernell Bass, chegou em casa por volta das seis horas da manhã. Ele ouviu o barulho de uma serra elétrica. Dahmer estava ocupado trabalhando no que seria a sua última vítima, Joseph Bradehoft, 25 anos.

''Eu me perguntava o que diabos ele estaria construindo lá. Minha mulher pensou que ele estava construindo estantes para armários. Então de repente, quando o barulho cessou, eu escutei ele gritando: ‘Desgraçado, eu te disse, porra!’ Me pareceu estranho porque não escutei ninguém responder ou falar''.

Joseph esperava por um ônibus nas imediações da Universidade de Marquette. Dahmer fez a mesma oferta em dinheiro e ele concordou em ir com ele para o apartamento. Fez sexo oral no indivíduo antes de matá-lo. Colocou sua cabeça no freezer. Seu corpo foi corroído por ácido e depositado no barril.

Joseph Bradehoft

No dia 19 de julho de 1991, Jeffrey Lionel Dahmer fazia a sua 17ª vítima. De maio de 1990, quando se mudou para o apartamento 213 da 924 north 25th street, até sua prisão, no dia 22 de julho de 1991, Jeffrey Dahmer viveu sua luxúria assassina intensamente. Matou 12 pessoas no seu apartamento num período de 15 meses. Mas ele queria mais.

Um dia após trucidar Joseph Bradehoft, ele procurava vítimas no Club 219 em Walker’s Point. Cerca de 20 minutos antes da boate fechar, um jovem afro americano de nome A.(ele não deu seu nome completo por medo de sofrer represálias por sua bissexualidade) dançava nas luzes quentes e brancas da pista de dança.

De repente A. encontou-se olhando para Dahmer, que estava bêbado mas de uma aparência muito boa. Dahmer disse que ele era um eletricista de Chicago, cansado de ficar sozinho. A. rejeitou as investidas de Dahmer duas vezes. Dahmer então partiu para o plano B, ofereceu 100 dólares para uma conversa, nada de sexo. Implorando, ele dizia: “Você é o cara mais legal que eu encontrei em Milwaukee''.

Finalmente, às três horas da madrugada, A. concordou com um encontro em um estacionamento do lado de fora do Prédio Oxford. Ele foi ao encontro do estranho, que estava fumando um cigarro e bebendo uma cerveja. “Oh, eu estou tão feliz que você veio, a maioria das pessoas nunca vem”, disse Dahmer.

Os dois subiram as escadas, indo ao apartamento 213, A. tinha um bigode bem aparado. Confundindo-o com um latino, Dahmer disse que tinha uma foto de um porto riquenho nu, bem dotado, em seu quarto, mas ele não estava preparado para mostrar a ele ainda. Quando A. levantou-se para ir embora, a voz de Dahmer cresceu em pânico. Ele foi até o quarto, murmurando que conseguiria algum dinheiro para dar a A. para que ele pudesse ficar mais tempo. Desconfiado, ele foi atrás de Dahmer, acendeu a luz e viu uma mancha de sangue na cama e uma faca. A. conseguiu permanecer calmo.

''Eu sabia e ele sabia que eu sabia que alguma coisa estava errada. Eu coloquei meu braço em volta dele e disse: ‘Agora me mostre o porto-riquenho’. Foi a alternativa que eu tive para manter a situação”, disse A.

Eles retornaram para a sala onde A. continuava a dar atenção a Dahmer. Dahmer pediu para que ele tirasse suas roupas e deitasse sobre seu corpo. Ele esfregou nas costas de A. murmurando que sua pele era “como manteiga”. Quando A. tentou se levantar, Dahmer apertou seu braço. “Ele não era mais a pessoa educada que eu conheci”, lembra A. Ele então gritou, bateu na porta e conseguiu se soltar de Dahmer. Olhando para trás, ele viu um último vislumbre de um serial killer na derrota, seus braços cruzados, o rosto abatido. Dois dias depois de uma aventura semelhante com outro homem, Dahmer foi preso. A. viu sua imagem no noticiário. Ele foi até o Crimeline Anônimos e no escritório da promotoria de Milwaukee para contar apenas sua história, mas não seu nome.
''Só porque você vai na casa de alguém e confia nessa pessoa, não significa que você merece perder a vida. Ele veio como um amigo e um cara legal. Você pode ouvir esse homem gritando por ajuda, e isso é a minha fraqueza, ajudar as pessoas''.[A]
A. foi um dos poucos que escapou da fúria assassina de Jeff Dahmer, mal ele sabia que naquele mesmo apartamento, um dia antes, Dahmer havia esquartejado um homem. A. conseguiu fugir, mas a desesperada e doentia corrida cega de Dahmer pela sua 18ª vítima continuava. A essa altura Jeff Dahmer era um serial killer totalmente fora de controle, sem nenhum tipo de conexão com a realidade do mundo que o cercava, ele já era um dos mais notórios assassinos em série que já pisou na terra.

O fim da linha para Jeffrey Dahmer
22 de julho de 1991

Tracy Edwards. Esse é o nome do homem que colocou um ponto final na carnificina realizada por Jeffrey Dahmer ao longo de 13 anos. Com sua habitual conversa fiada de sempre, Jeff Dahmer convenceu Tracy a ir até o seu apartamento.

Tracy Edwards

''Estava bebendo, por volta de 18 horas, 18h30, com dois amigos, quando ele se aproximou e começou a conversar conosco. Disse que era de Chicago e que estava passando alguns dias na cidade. Disse que era fotógrafo profissional e nos ofereceu US$ 100 dólares para que posássemos para ele em fotos. Eu aceitei. No primeiro momento em que entrei no apartamento parecia ser um apartamento normal, tudo limpo e em ordem. Apenas um odor muito forte. Ele foi até o seu quarto e depois de uns minutos me chamou, entrei no quarto e o filme O Exorcista estava passando em seu vídeo-cassete. Não sei qual dos filmes era, talvez o Exorcista III. Ele parecia um cara legal mas notei algo estranho quando começava a falar sobre pessoas que o haviam abandonado. De repente ele algemou um de meus punhos e me ameaçou com uma faca. Fiquei paralisado. Perguntei para ele o que estava acontecendo e disse que aquilo não era necessário… Seu comportamento mudava de uma hora pra outra. Ele olhava para o filme e fazia movimentos para a frente e para trás, além de fazer um ruído estranho com a boca. Certas cenas o interessavam mais do que outras. Colocou o ouvido em meu peito e disse que queria sentir os batimentos do meu coração porque depois iria comê-lo. Então ele disse que tinha que sair novamente para a rua e começou a andar pela casa como se eu não estivesse lá. Conversava com ele e ele não respondia. Me levantei e fui até um banheiro e ele não me seguiu, era como se eu não estivesse lá. Nesse momento eu aproveitei, saí correndo, o derrubei e fugi''.
[Tracy Edwards]

Robert Rauth e Rolf Mueller, como todos bons policiais veteranos, achavam que já haviam visto de tudo em suas carreiras. Nada, entretanto, poderia prepará-los para a câmara de horrores que os esperavam atrás da porta do apartamento 213.

 Apartamento 213. 

Apartamento 213. 

 Vernell Bass, vizinho de Jeffrey Dahmer no corredor ao lado da  porta do 213.





Oficiais removem a geladeira que continha partes de corpo humano 
do apartamento 213 em Milwaukee.




O tambor de plástico azul de 57 litros levado do apartamento de Jeffrey Dahmer onde foram encontrados três torsos humanos e o congelador em que três cabeças humanas e um torso foram descobertos.


Polícia remove vítimas de Dahmer do edifício de apartamentos Oxford 
na 924 N 25 no Milwaukee.

Um dia após ser preso, Dahmer é fichado pela Polícia de Milwaukee. O serial killer nunca mais pisaria nas ruas.

Geladeira de Dahmer com restos humanos embalados em plásticos

Frascos contendo restos humanos

No canto superior esquerdo um crânio em saco plástico



Dahmer foi preso e começou a confessar. Começou por Steven Hicks. Dahmer fez um mapa da área onde enterrou os pedaços de Steven para os investigadores, que conseguiram recuperar cerca de 50 ossos, a maioria foram identificados como humanos, costelas e fragmentos da vértebra.

Após a prisão de Dahmer, o mundo tomava conhecimento de uma história que provavelmente nunca pensara existir. Nem mesmo naqueles filmes de terror alternativos. Os detetives Dennis Murphy e Patrick Kennedy foram os primeiros a saber dos detalhes macabros da vida de Dahmer, detalhes que só viriam a público no seu julgamento, em janeiro de 1992. Olhando para aquele homem, os detetives viram uma pessoa solitária, fria, mas muito esperta. Ele lembrava de cada detalhe.

''Ele sabia exatamente o que tinha feito, desde o momento em que pegou a vítima, o momento que a matou, o momento que jogou fora as evidências ou os ossos''.
[Dennis Murphy]

Os detalhes sobre a dissecação dos corpos e o canibalismo praticado por Dahmer deixaram os detetives assustados. “Se você conversasse com ele sem saber o que ele havia feito, o acharia normal. Como se você tivesse conversando com um amigo, e isso é assustador.” (Patrick Kennedy)

Dahmer narrou um a um os seus assassinatos. E à medida que os corpos eram identificados, começava a notificação às famílias. Em 26 de julho de 1991, quatro dias após a prisão de Dahmer, notícias sobre Konerak Sinthasomphone foram disponibilizadas pela polícia. Dahmer havia confessado o assassinato do garoto asiático. A notícia caiu como uma bomba para a família e também para os policiais John Balcerzak e Joseph Gabrish.

Somdy Sinthasomphone, mãe de Konerak, começou a tremer ao receber a notícia, desmaiou três vezes e foi levada ao hospital. Seu marido, Sounthone Sinthasomphone, era a imagem da desolação, sentado em uma cadeira na sala de sua casa, não falava com ninguém, apenas olhava para o nada. Seus sete irmãos (4 homens e 3 mulheres), choravam compulsivamente.

''Tudo o que eu posso dizer é que a família está destroçada pela notícia, isso é tudo o que eu tenho a dizer”, disse o religioso Peter Burns.

A família Sinthasomphone sofreu em silêncio após receber a notícia de que os restos do membro mais jovem da família haviam sido encontrados no apartamento 213. “Meu sogro disse: ‘Eu escapei dos comunistas e agora acontece isso. Por que?'”, disse Kongpheth Vongphasouk, genro do patriarca da família e único a falar com repórteres.

''Eu sinto muito. Eu nunca imaginei que algo como isso pudesse acontecer.”
[Vongpheth Vongphasouk]

Em 6 de setembro de 1991, seguindo um relatório que concluiu que três policiais do departamento de polícia de Milwaukee não seguiram os procedimentos da polícia no caso Jeffrey Dahmer/Konerak Sinthasomphone, o chefe do departamento de polícia de Milwaukee, Phillip Arreola, despediu John Balcerzak e Joseph Gabrish e colocou um terceiro de “molho”. 
John Balcerzak e Joseph Gabrish foram demitidos da polícia após serem negligentes quando levaram Konerak para o apartamento do serial killer jeffrey dahmer

Para a polícia, muitas das vítimas de Dahmer viviam na chamada “linha de risco”. Muitos tinham passagens pela polícia.

Dahmer a essa altura era tratado pela imprensa sensacionalista como “O Monstro de Milwaukee”, ninguém queria saber se o loiro era ou não doente. Seu pai foi hostilizado, mas nunca se escondeu.

Como todo pai, Lionel defendia seu filho: “Ele não é um monstro!"



O caso Dahmer é assustador. E ele mostra que a não ser que as pessoas ou a polícia tomem atitudes em estudar e investigar com mais afinco desaparecimentos, assassinatos e outros crimes, um serial killer pode ter uma longa e sangrenta carreira até, acidentalmente, ser pego.
"Ele tinha prazer no fato de que ele estava no controle do seu próprio mundinho. Ninguém sabia o que estava acontecendo. Ele era o mestre absoluto ali. Ele teve muita facilidade por ser muito atraente, ele era o mel naquele ambiente. Muitas pessoas nos disseram que ele se mostrava como uma pessoa muito sozinha e carente. Muitos queriam cuidar dele, sabe, como um bebê."[Patrick Kennedy]

Uma análise de Jeff Dahmer

Todos os psiquiatras que entrevistaram Dahmer são unânimes em dizer que neste caso tudo se resume a uma palavra: CONTROLE
       
Dahmer tinha pavor em ser rejeitado ou abandonado, isso ficou definitivamente claro em seu primeiro assassinato em 1978: Conheceu Steven Hicks na estrada e o convidou para ir até sua casa, e quando Hicks quis ir embora Dahmer não aceitou e o matou. Talvez isso possa ter sido acentuado pela separação dos seus pais pouco tempo antes. Dahmer se sentia abandonado pelos dois. “Eu poderia completamente controlar uma pessoa, uma pessoa que eu achasse fisicamente atraente e mantê-las comigo o maior tempo possível, mesmo que isso significasse manter apenas uma parte delas”, disse Dahmer em uma entrevista para Stone Phillips da NBC em 1994.

No caso de Dahmer, podemos dizer que sua fantasia era ter o controle sobre as pessoas, até mesmo em suas relações homossexuais, ele nunca era o passivo, era sempre o ativo, buscando apenas o seu prazer, e o seu prazer significava fazer sexo oral (e receber) ou anal no seu parceiro, vivo ou morto.

Se ele possuía o controle de suas ações ou não é difícil de saber. O fato é que Jeffrey Dahmer tinha uma necessidade extrema em matar, e de certa forma ele parecia saber que aquilo não era certo. Depois da morte de Steven Hicks em 1978, Dahmer só cometeu outro assassinato 9 anos depois. Ele parecia lutar contra seus demônios, uma forma de fugir de suas fantasias era a bebida. “Eu bebia para esquecer o que eu havia feito. Ficava triste quando lembrava do que eu havia feito".

Talvez sem um tratamento, Dahmer chegou a um ponto onde era impossível fugir de suas fantasias e se entregou ao que realmente o satisfazia. Isso fica claro no verão de 1991 quando chegou a matar um homem por semana. E teria matado mais caso sua última vítima não tivesse escapado.

Para o Dr. James Fox, especialista em assassinos em série, Jeffrey Dahmer era um tipo raro de serial killer.

"Ele se adéqua ao estereótipo de alguém que realmente está fora de controle e sendo dominado por suas fantasias. A diferença é que a maioria dos serial killers pára de agir quando suas vítimas estão mortas. Eles amarram as vítimas pois gostam de vé-las gritar e implorar por suas vidas. Isso faz com que o assassino se sinta grande, superior, poderoso, dominante… No caso de Dahmer, todo o seu prazer vinha após a morte… toda sua diversão começava após as vítimas estarem mortas. Ele levou uma rica fantasia de vida que se concentrou em ter o controle completo sobre as pessoas… Essa vida de fantasia, misturada com ódio, talvez o ódio de si mesmo, fez com que ele projetasse isso em suas vítimas. Se ele sentia um desconforto com sua orientação sexual, é muito fácil de vê-la projetada nessas vítimas. Punir elas era uma forma indireta de punir ele mesmo".

Realmente, Jeffrey Dahmer era um serial killer incomum. Ele não tinha prazer na morte em si, mas ele tinha que matar, porque o assassinato era um caminho que ele tinha que percorrer para chegar ao que realmente lhe dava satisfação. “Dahmer disse que não gostaria de machucar ninguém, é tão estranho quanto parece, mas essa é a razão pela qual ele matou por estrangulamento todas suas vítimas. Ele não tinha prazer no ato do assassinato em si, mas essa foi a maneira mais humana que ele encontrou." (Patrick Kennedy)

"A maioria dos serial killers são mentirosos patológicos. Dahmer era diferente. Ele estava disposto a revelar suas experiências com as mortes, e nós pudemos aprender muito com ele", disse Jack Levin, professor de criminologia da Universidade de Northeastern em Boston. Jack Levin entrevistou o pai e a madrasta de Dahmer.

De fato, Dahmer falou desde o começo. Depois que um homem algemado escapou do seu apartamento em julho de 1991 e levou a polícia à medonha cena de carnificina, Dahmer confessou todos seus assassinatos, incluindo um que não foram encontradas provas suficientes para condená-lo. E ele falou exaustivamente sobre seus motivos, tentando explicar o inexplicável: o que o levou a pegar jovens homens gays em bares, levá-los até sua casa, drogá-los, estrangulá-los, ter relações sexuais com seus corpos, e depois, em alguns casos, canibalizá-los. Ele precisava viver em um mundo paralelo, o seu mundo.

Na época, seu pai, um PhD em química, sugeriu que medicamentes tomados por sua mulher durante a gravidez poderiam ter tido alguma influência em Dahmer. Mas Dahmer nunca culpou ninguém pelos crimes. Em entrevistas, ele também negou que sua infância solitária e alienada em Bath, Ohio, fora responsável por torná-lo um psicopata. Nem mesmo o amargo divórcio dos seus pais em 1978 foi motivo para isso. Em suas próprias palavras “A pessoa culpada por tudo isso está sentada em frente à você. Nem meus pais, nem a sociedade, não a pornografia. Isso são apenas desculpas”, disse ele para o Programa Inside Edition em 1993.

"Eles sofrem de baixa autoestima e solidão”, diz Eric W. Hickey, um criminologista e autor do livro Serial Murderers and Their Victims.

Os filmes de terror e o Templo da Morte

"A ideia é compreender o que ele tinha em mente a respeito desse templo. Ele queria construir esse templo e assistir todas aquelas cenas de filmes de terror que ele achava significantes. Como por exemplo O Exorcista III. Ele poderia sentar em sua cadeira preta, assistir as cenas e assim ele estaria apto a explorar os significados que aquelas cenas tinham para ele… O Sr. Dahmer considera-se como um personagem de cada um dos filmes. O personagem conhecido como O Imperador (Star Wars) e o personagem que obviamente supõe-se ser Satã de O Exorcista III. O que esses personagens tem em comum é que eles são o mal, corruptos e poderosos e ambos tem a habilidade de usar poderes especiais para controlarem os outros. No caso do Imperador ele tem a capacidade de manipular as pessoas e no Exorcista III o poder vem de possibilitar criar ilusões para que as pessoas sofram, como na cena das cobras que rastejam em volta do policial. Esses personagens atormentam as pessoas de uma maneira que podemos chamar de tortura. Mas o Sr. Dahmer me disse que aquilo não era algo que o satisfazia. Suas fantasias não consideravam tortura, ele insistentemente me disse que fazer o outro sofrer não era o seu desejo. Ele gostava da ideia do poder que os personagens tinham e acontece que ambos personagens em particular tinham olhos amarelos, o que dava um olhar sombrio a eles e o Sr. Dahmer comprou lentes de contatos amarelas que ele usava quando ia para as boates. Ele queria ter aquele olhar, ele queria ser como aqueles personagens e isso o influenciou de alguma forma, pois ele saia a noite em busca de vítimas e em algumas vezes ele assistia partes dos filmes com elas. Ele se identificava com os personagens porque ele sentia que era tão mal e corrupto como eles".
[Park Dietz]

Necrofilia

O psiquiatra da promotoria, Park Dietz, disse que Dahmer foi condicionado para a excitação sexual sobre cadáveres através de suas fantasias sexuais em torno da mutilação de animais. O que pode ter começado como a curiosidade de um menino sobre atropelamento e morte de animais, tornou-se a obsessão de um homem com a morte em uma escala maior. Se o desenvolvimento sexual fica associado à morte, a pessoa tem uma maior chance de ter uma atração erótica por cadáveres.

Houve uma sugestão de que Jeff torturava animais, mas isso é improvável. Ele teve animais de estimação quando criança e tinha peixes em um aquário quando foi preso. O fascínio de Jeff era por criaturas mortas.

Sadismo

Jeffrey Dahmer pode ser um pervertido sexual sádico? Se você perguntar isso para 10 psiquiatras provavelmente você terá umas cinco ou seis respostas diferentes. Para os psicólogos Bruce A. Arrigo e Catherine E. Purcell, da Escola Califórnia de Psicologia Profissional em Fresno, pervertidos sexuais sádicos são “Indivíduos que se privam de experiências emocionais para evitar mais frustrações e se evadem em fantasias compensatórias, em que predominam solidão, masturbação e conteúdos perversos, paulatinamente se distanciando da vida social. O prazer sexual o entusiasma e preenche temporariamente seu vazio".

Jeff Dahmer se encaixa perfeitamente nessa definição, não? Mas Park Dietz tem uma opinião diferente: “Não o considero um sádico. Ele não praticou tortura e tomou medidas para evitar o sofrimento das vítimas".

Por que negros?

Há vários indícios que levam a crer que Dahmer era um branco racista. Muitos serial killers tendem a matar tipos de pessoas em relação às quais há ressentimento, ou mesmo algo em comum. A maioria das vítimas de Dahmer eram homens negros e gays. Na fábrica de chocolate, pessoas lembram dele como o branco que constantemente resmungava sobre “niggers” (palavra em inglês para designar negros de forma pejorativa e racista). Ele fazia o mesmo perante a família e amigos. Em 1988 ele chegou a dizer para um companheiro de cela: “Odeio negros. Mataria mil deles".No entanto, serial killers interraciais são raros. Como então explicar sua motivação para assassinar homens negros?

Dahmer pode ter desenvolvido seu modus operandi porque em sua mente ele achava que os negros eram uma raça mais fraca, ou talvez, porque ele pensou que o racismo poderia trabalhar em seu favor. O criminologista Eric Hickey especula que Dahmer selecionava “vítimas mais descartáveis” porque isso poderia chamar menos atenção da polícia do que o desaparecimento de brancos. Patrick Kennedy, o primeiro detetive a mergulhar nas fantasias doentias de Dahmer, pensa diferente, “Ele escolhia homens de corpos atléticos. Não importava se eram negros, brancos, índios, amarelos, vermelhos ou marrons. Se ele o achasse atraente, ele tentaria pegá-lo".

A madrasta de Dahmer tem uma teoria interessante, “Algo aconteceu com ele, ele nunca conversou a respeito. Todo mundo sabe o que acontece com um molestador de crianças na cadeia [ela refere-se ao período em que ele ficou preso em 1988]. Eu não sei se isso aconteceu, mas quando ele saiu, ele estava diferente, não conversava e passou a odiar negros".

Dahmer era um homossexual reprimido e odiava negros. Mas o fato de ser racista não significa que os crimes tiveram motivação racial. Como um homossexual, ele poderia ter atração por negros. E essa atração por negros poderia ser a fonte do seu ódio por eles e ele disfarçava (essa atração) dizendo frases racistas. Ao matar homossexuais e negros, ele poderia estar matando a fonte do que ele odiava dentro de si mesmo.

Para finalizar, Robert Ressler, chefe da Unidade da Ciência do Comportomanento do FBI nos anos 70 deu o seguinte depoimento sobre Jeffrey Dahmer: “Dahmer foi tão sincero e tão cooperativo como qualquer outro serial killer que já confrontei e ainda assim não conseguia compreender como ele poderia ter cometido todos os atos atrozes que ele sabia que tinha feito. Não há como pensar que este homem estava são no momento de seus crimes".

Julgamento


Um mês depois de ser preso, em 22 de agosto de 1991, Jeffrey Dahmer fez uma nova aparição pública no Tribunal de Milwaukee. Dessa vez para receber as três últimas, das 15 acusações de assassinato que recebeu (a 16ª pelo assassinato de Steven Hicks veio posteriormente e um assassinato a polícia não conseguiu levantar provas o suficiente). Sua fiança aumentou para cinco milhões de dólares. Ele apareceu com um uniforme laranja e escutou calmamente a Juíza falando sobre a pena que ele poderia pegar por cada uma das 15 acusações.

Os crimes de Dahmer pareciam provas óbvias de insanidade. O que mais poderia explicar um homem que mata pessoas, faz sexo com os cadáveres, esquarteja seus corpos, os derrete em ácido, preserva seus crânios e come sua carne? E tudo isso por gratificação sexual?

Mas a alegação de insanidade é uma pratica incomum e quase nunca é usada nos tribunais.


Polícia usa um cão farejador de bombas para verificar o tribunal no dia do julgamento de Jeffrey Dahmer em Milwaukee. Devido ao alto perfil e a natureza perturbadora do julgamento, a polícia tomou precauções extras para proteger Dahmer e o tribunal do público durante o julgamento.

Em 23 de janeiro de 1992, Jeffrey Dahmer ignorou o conselho do seu advogado e declarou-se culpado mas insano. E essa decisão selou o seu destino. De acordo com Don Davis no livro The Milwaukee Murders, “A declaração de Dahmer mudou totalmente a defesa do seu advogado. Agora, em vez de provar que o seu cliente não cometeu os assassinatos, ele teria que fazer algo totalmente incomum em um tribunal, provar que Dahmer era louco, que apenas uma pessoa insana faria essas coisas".

O promotor na outra mão, precisava provar que Dahmer não era legalmente insano, e que ele sabia que o que estava fazendo era errado, mas fez mesmo assim. Em outras palavras, Dahmer era um perverso psicopata que enganava suas vítimas e as matavam a sangue frio.

Foto do Tribunal

Apesar da natureza bestial dos seus crimes, o advogado de Dahmer teria uma difícil tarefa em convencer o júri de que ele era insano. Quando Dahmer decidiu se declarar culpado mas insano, o caso mudou de culpa para responsabilidade.

"Segundo a lei, a questão agora não é se ele é pervertido e tem bizarras motivações. A questão é se ele entendia o que estava fazendo, se ele sabia a diferença entre o certo e o errado”, disse o professor de direito da Universidade da Virgínia John Jeffries na época.

A defesa da insanidade é uma das áreas mais enlouquecedoras do direito, um lugar onde legalidade, moralidade e a medicina disputam o domínio. Em última análise, o julgamento de Dahmer se resumiria a uma “batalha de psiquiatras”, que foi o que acabou acontecendo. Os advogados de Dahmer deveriam provar que ele estava sofrendo de alguma forma de doença mental, delírios psicóticos possivelmente. Mas demonstrar a doença mental não seria suficiente: o advogado de Dahmer precisaria mostrar que ele não só estava doente na época dos crimes, mas que ele não tinha a capacidade de entender a ilicitude de suas ações. Sua capacidade de mentir para a polícia poucos minutos antes de assassinar Dee Konerak Sinthasomphone poderia ser suficiente para convencer os jurados de que ele era um assassino calculista e que entendia o que estava fazendo.

Uma lista de nomes das vítimas e as datas da sua morte paira ao lado de um retroprojetor durante o julgamento do serial killer Jeffrey Dahmer.

Enraizada nas noções bíblicas de justiça, a defesa de insanidade existiu de alguma forma desde a Idade Média. A maioria dos estados, no entanto, baseiam suas leis em um caso ocorrido em 1843, o caso McNaughtan, onde em uma decisão histórica, a corte britânica estabeleceu que culpa implica na capacidade de distinguir o certo do errado. Nos anos 70, a maioria dos estados dos Estados Unidos faziam seus testes de insanidade através do chamado “padrão de controle”, que consistia da pergunta: “O Assassino poderia ter parado de matar?” Baseado nesse padrão, Dahmer seria considerado um “insano crônico”. Porém, esse padrão mudou em 1982 com a indignação pública depois que John Hinckley (que tentou matar o então presidente norte-americano Ronald Reagan) foi considerado insano. A pressão da opinião pública fez com que o Congresso americano mudasse os estatutos sobre insanidade. O resultado foi que a maioria dos estados americanos mudaram a forma como lidam com a insanidade, agora é a defesa quem tem que provar que o réu é insano.

Insanidade porém é algo raro, advogados consideram isso como um último recurso. Apenas 10 por cento dos assassinos em série e dos assassinos em massa e um em casa dez réus criminais alegam insanidade, e 2/3 deles não obtêm sucesso. Críticos da defesa de insanidade argumentam para a sua abolição, alguns dizendo que ela é muito branda (afinal, um criminoso como Dahmer poderia ir para um hospital mental e até sair de lá se ele se curasse), outros dizem que a insanidade obriga os jurados a decidir sobre questões que transcendem suas competências.

Cela de prisão que foi usada para confinar Jeffrey Dahmer entre as sessões de julgamento.

O fato é que Dahmer colocou o seu advogado em uma enrascada, talvez ele tenha feito isso de propósito já que muitos afirmam que o que ele mais desejava naquele momento era a morte. Ele não queria se safar (nesse caso indo morar em um hospital psiquiátrico). “Isso é minha culpa. Existe uma hora para ser honesto”, disse Dahmer para o seu advogado.

O destino do Canibal parecia estar selado antes mesmo do julgamento começar em 29 de janeiro de 1992.

O advogado de Dahmer contratou um psicólogo forense para estabelecer as bases para um apelo de insanidade.

Não há dúvida de que ele é insano”, disse seu pai Lionel, que visitou seu filho na prisão. Mas como explicado, esse já não era o caso.

Anne Schwartz, a jornalista que acompanhou o caso desde o começou, relatou em seu livro The Man Who Could Not Kill Enough: “No segundo dia da seleção dos jurados estávamos em uma sala e Boyle trouxe um jornal com a seguinte manchete: ‘Canibal de Milwaukee Come Seu Companheiro de Cela’. Todos nós rimos, especialmente Dahmer… Realmente ele era um homem muito atraente com seu sorriso… Nesse momento eu pude perceber o quanto era fácil para ele convencer ou seduzir alguém".



Em 29 de janeiro de 1992, o júri e dois suplentes foram selecionados. Apenas uma pessoa de cor negra foi selecionada, o que causou um grande protesto de familiares. O caso foi polarizado como uma questão racial, nesse ponto as pessoas já conheciam a história de Glenda Cleveland (uma negra ignorada pela polícia) e sabiam que a maioria das vítimas eram negras. Parecia que o júri de 6 homens brancos e 7 mulheres brancas era um outro exemplo de injustiça racial.

No tribunal, emissoras de TV filmavam policiais com armas semi-automáticas e cachorros do esquadrão anti-bombas, andando por todos os lados. Era como se finalmente eles tivessem pegado Jack, O Estripador e o mesmo seria julgado naquela sala. O promotor Michael McCann temia que a cobertura feita pela imprensa pudesse prover aulas sobre como drogar e retalhar uma pessoa para aspirantes a sádicos assassinos.

Em 30 de Janeiro de 1992 começou um dos maiores julgamentos dos Estados Unidos. Emissoras de várias partes do mundo cobriam os fatos. Durante o julgamento, Dahmer foi mantido numa barreira de vidro e metal à prova de balas. Ninguém entrava na corte sem passar por um detector de metais, cachorros farejadores de explosivos trabalhavam antes, durante e depois das sessões.

Jeffrey Dahmer entra na sala do tribunal em 30 de janeiro de 1992.

Uma barreira de vidro à prova de balas separava o serial killer Jeffrey Lionel Dahmer do resto do público.

O julgamento durou duas semanas. A estratégia da defesa era provar que Dahmer era “louco”, o que parecia ser óbvio devido às evidências:


  • canibalismo, 
  • necrofilia, 
  • crânios como troféus, 
  • experiências para criar zumbis, 
  • empalhamento de animais, 
  • lobotomias, 
  • santuários, 
  • satanismo, … 
Se os jurados entendessem que Dahmer não tinha consciência dos seus atos e que realmente não estava em plena consciência de suas faculdades mentais, ele poderia ser internado em um hospital psiquiátrico e até ser solto caso se curasse de suas doenças.

Antes de começarem os trabalhos, o advogado de Dahmer advertiu os jurados:
“Vocês irão ouvir coisas que provavelmente nunca pensariam existir no mundo real. Vocês irão ouvir sobre comportamento sexual antes da morte, durante a morte e após a morte. Vocês acham que realmente estão aptos a ouvir?”
Na foto: Gerald Boyle, jeffrey dahmer e uma assistente da defesa.

Durante o julgamento, a defesa convocou 45 testemunhas que atestaram os vários aspectos bizarros do comportamento de Dahmer. As testemunhas, através dos seus testemunhos, mostraram que os distúrbios sexuais e mentais do réu , o impediam de compreender a natureza dos seus crimes. O objetivo era provar para o júri que tais distúrbios provocaram pensamentos e ações que seriam impossíveis de ocorrer em um homem são. Ao final da exposição, Boyle levantou a pergunta: “Ele era mal ou ele era doente?”. Neste ponto do julgamento, o júri estava tendendo à decisão de que o réu era realmente insano.

O Promotor público Michael McCann aponta para a lista de vítimas no tribunal. 31 de janeiro de 1992.

Quando foi passado à vez à promotoria, o promotor Mike McCann disse, “Ele era um mestre da manipulação, enganou a todos, ele sabia exatamente o que ia fazer, cada passo, cada caminho, era capaz de transformar seus impulsos e deslizar em sua conversa tão facilmente como nós acendemos um interruptor. Ele atacou outros soldados enquanto esteve no exercito? Outros estudantes enquanto esteve na Universidade do Estado de Ohio? As mortes não foram causadas por atos de um louco, mas pelo resultado de um plano altamente meticuloso.”

Dois detetives leram 160 páginas da confissão de Dahmer. Era um aberrador catálogo de perversão sexual. Era a primeira vez que os detalhes das mortes vinham a público.

"Nós não sabíamos, ninguém nos disse, ninguém nos preparou para nenhum desses detalhes. Como isso pôde acontecer? Como eu não soube disso antes?"
[Lionel Dahmer]

Shari Dahmer e Lionel Dahmer. Lionel Dahmer compareceu em quase todos os dias do julgamento do filho. Só não compareceu (por orientação do Tribunal) nos dias em que foram permitidas a entrada de parentes das vítimas. Créditos: A&E Biography.

"Era uma situação muito difícil, estávamos cercados por parentes das vítimas. Uns sentavam ao nosso lado, outros pediam que nós saíssemos. Nós não podíamos estar lá, mas tínhamos que estar lá."
[Shari Dahmer]

O Detetive Dennis Murphy disse que Dahmer “…sentiu uma tremenda quantidade de culpa por causa de suas ações. Ele se sentiu completamente mal.” Então ele leu uma frase de Dahmer, “…é difícil para mim acreditar que um ser humano pudesse fazer o que eu fiz, mas eu sei que eu fiz."

O detetive afirmou que o temor de ser capturado foi esmagado pela excitação que ele sentia em estar totalmente no controle.

Durante todo o julgamento vale destacar a “batalha”o entre os psiquiatras de defesa e da promotoria. Suas falas mais confundiam o júri do que esclareciam, ora pendiam para a insanidade de Dhamer, ora para sua sanidade.

Durante todo o julgamento Jeffrey Dahmer não disse uma palavra, olhava para o nada, seu rosto parecia não ter vida, parecia estar presente naquele fórum apenas com seu corpo, mas sem sua alma. Não esboçou nenhuma reação, nenhuma expressão em seu rosto, nem mesmo quando os mais macabros e bizarros detalhes de sua vida eram discutidos.

O júri deliberou por cinco horas. Chegava a hora de saber se eles decidiram se Dahmer era realmente insano ou não. E o júri decidiu que Jeff Dahmer não merecia passar o resto de sua vida em um hospital, mas em uma cela de prisão. Em todas as 15 acusações recebidas, Dahmer foi considerado legalmente são e culpado. A defesa não conseguiu convencer o júri que as práticas de canibalismo e necrofilia eram resultados de um homem louco.

Parentes das vítimas comemoraram e choraram ao saber da decisão. Após a decisão do júri, foi aberto espaço para que os familiares das vítimas falassem em público. Era a primeira vez que Dahmer encararia frente a frente os parentes dos homens que ele trucidou. Muitos deram depoimentos emocionados, uns sem rancor ou ódio em suas palavras, depoimentos bonitos como os da mãe de Anthony Hughes, mas outros, literalmente, mandaram Dahmer ir para o inferno.

Shirley Hughes, mãe de Anthony Hughes.

"Eu gostaria de dizer para Jeffrey Dahmer que ele não sabe a dor e o machucado que ele fez em nossa família. Eu apenas gostaria de ler um poema: O Tony achou que você era o seu amigo. Ele conhecia você. Ele colocou sua confiança em você, ele pensou que você era o seu amigo… Quando você chorar, tome uma lágrima e coloque-a no parapeito da sua janela para quando eu passar, eu poder trocá-la por uma das minhas. Dois dedos e um polegar” [ela faz o sinal]. Esse sinal (foto) feito pela mãe de Anthony Hughes é o símbolo da linguagem universal de sinais para Eu Amo Você. Para quem não se lembra, Anthony Hughes era surdo-mudo.
Dorothy Straughter.

"Meu nome é Dorothy Straughter, eu sou a mãe de Curtir Straughter. Você tirou meu filho de 17 anos de mim. Eu nunca terei a chance de dizer a ele que eu o amava. Você tirou o único irmão da minha filha. Ela nunca terá a chance de dançar e cantar com ele novamente. Você tirou o neto mais velho da minha mãe e por isso eu nunca poderei perdoá-lo. Você quase me destruiu, mas eu recuso a deixar que você me destrua. Eu continuarei."
J.W.Smith.

"Eu sou J.W.Smith, irmão de Edward Smith. Edward Smith tentou ser amigo de Jeffrey Dahmer e como resultado ele perdeu sua vida. Sr. DAHMER o Eddie se foi agora. Para onde vamos agora? Perguntamos a nós mesmos. Por que isso aconteceu a uma pessoa como Eddie? Tudo o que ele queria era a chance de ser ele mesmo. Uma chance de ser feliz. Nosso pai se foi e agora ele. Eu nunca terei a chance de dizer adeus para nenhum dos dois. Você é único e eu amo você."


Donald Bradehoft.

"Sou Donald Bradehoft, irmão de Joseph Bradehoft. Minha mãe teve cinco lindos filhos. Ele destruiu… nós perdemos o bebê da família e eu espero que você vá para o inferno! Eu amo este mundo. Vocês rapazes fizeram um trabalho maravilhoso. Do fundo do meu coração, graças a deus eu tenho muita força. Obrigado a todos. Deus abençoe a América".

O momento mais tenso foi quando a irmã de Errol Lindsey, Rita Isbell, deu seu depoimento. Ela já entrou na sala visivelmente alterada. Gritou, xingou Jeffrey Dahmer e teve que ser contida pelos guardas.

Não precisa dizer que as imagens de Rita Isbell surtando no tribunal de Milwaukee serviram como uma cereja do bolo para a imprensa sensacionalista norte-americana. Após o julgamento ela deu entrevistas para vários canais norte-americanos. Ela inclusive recebeu apoio de pessoas de que ela realmente não queria. Ela passou a receber telefonemas de homens que identificaram-se como presidiarios. Eles enviavam suas condolências e prometiam a ela que o “Sr. Dahmer seria muito bem cuidado".

Após a desordem inicial causada por Rita, chegava a hora que todos esperavam. A última estrofe daquele julgamento seria lida. Finalmente depois de duas semanas calado e cabisbaixo, Jeffrey Dahmer falaria pela primeira vez. Sua voz seria acrescentada ao capítulo final dos contos de mutilação, necrofilia e canibalismo que ocupavam todo o espaço midiático dos Estados Unidos desde que os seus crimes foram descobertos.

Seus óculos de grau, o cabelo loiro bem penteado, a cabeça baixa em uma aparente humildade. Ao ler sua declaração, ninguém poderia imaginar que ele foi capaz de tais atos.

Anne Schwartz escreveu o seguinte para o Milwaukee Journal na época, “Me surpreendi com o quão normal este homem soava… No dia que Jeffrey Dahmer foi condenado, eu ouvi sua declaração no tribunal com calma e eloquência, e me perguntei como eu poderia ter sido facilmente enganada".


Declaração Final de Jeffrey Dahmer. A tradução segue abaixo.

"Meritíssimo, acabou agora.

Este nunca foi um caso de tentar escapar, eu nunca quis a liberdade, sinceramente eu queria a morte para mim. Este é um caso para dizer ao mundo que eu fiz o que fiz, não por razões de ódio, eu nunca odiei ninguém. Eu sabia que era doente, ou perverso, ou ambos. Agora eu acredito que era doente. Os médicos disseram sobre a minha doença e agora eu tenho alguma paz.

Eu sei quanta dor eu causei. Eu tentei fazer o melhor que pude após ser preso, amenizar, mas não importa o que eu fizesse, eu não poderia desfazer o terrível dano que causei. Me sinto mal pelo que fiz à aquelas pobres famílias e eu entendo sua raiva.

Decidi passar por esse julgamento por inúmeras razões. Uma das razões era deixar o mundo saber que isso não eram crimes de ódio. Eu gostaria que o mundo e Milwaukee, a qual eu profundamente machuquei, soubessem a verdade do que eu fiz. Eu não queria questões não respondidas. Todas as questões agora foram respondidas. Eu queria saber exatamente o que me levou a ser tão mal e perverso. Mas acima de tudo, o Sr. Boyle e eu decidimos que talvez houvesse uma maneira de dizer ao mundo que, se existem pessoas por ai com esses transtornos, talvez eles possam receber alguma ajuda antes que eles acabem sendo feridos, ou antes de ferir alguém. Eu acho que esse julgamento fez isso.

Eu vi suas lágrimas e se eu pudesse dar minha vida para trazer seus entes queridos de volta eu faria. Eu sinto tanto.

Eu sinto muito pelas pessoas que machuquei. Eu machuquei minha mãe, meu pai e minha madrasta. Eu amo muito todos eles. Eu espero que eles possam encontrar a mesma paz que estou procurando".


Jeffrey Dahmer volta ao banco do réu após ler sua declaração final. Sempre de cabeça baixa não olhando para ninguém.

Jeffrey Lionel Dahmer foi condenado a 15 prisões perpétuas consecutivas sem direito a pedir condicional. Somando todos os anos sua pena chegou a 957 anos. O estado de Wisconsin é um dos poucos que não tem pena capital, por isso Dahmer escapou da pena de morte. Ele passaria o resto da sua vida na cadeia. Ele não tinha completado 32 anos ainda.

"Esse homem nunca mais verá a liberdade”, disse o juiz.

Os Anos Preso

Quando Dahmer foi setenciado a 15 prisões perpétuas em fevereiro de 1992 (a décima sexta veio depois pelo assassinato de Steven Hicks em 1978), ele pareceu aliviado que sua onda de matança tenha chegado ao fim.

"Meritíssimo, acabou agora. Isso nunca foi um caso onde eu tentei ficar livre. Eu não queria a liberdade. Francamente, eu queria a morte para mim".

Este desejo pela morte pode explicar por que Jeffrey Dahmer rejeitou um tratamento especial dentro da prisão. Se ele sentiu que sua vida estava em perigo lá dentro, ele nunca reclamou para as autoridades. Com mais frequência, ele estava simplesmente entediado por ser o preso número 177252. “Eu tenho mais de 900 anos pra cumprir, isso é uma morte em vida”, disse ele certa vez para um guarda.

Mas o que mais chamou a atenção de todos no presídio, foi o senso de humor do serial killer. “Ele tinha um senso de humor muito interessante", disse o porta-voz do sistema prisional Joseph Scislowicz.

Devido à natureza dos seus crimes, ele se tornou alvo de piadas mas nunca deixava se abater. Respondia aos insultos e às brincadeiras dos guardas e outros presos de maneira brincalhona, era também, uma forma de criar risos naquele ambiente monótono e triste. “Cuidado, eu mordo!”, disse ele certa vez aos guardas, arrancando risos deles. Ele também entrou na brincadeira feita por outros presos que publicaram no mural de avisos da prisão um folheto que dizia o seguinte, “Canibais Anônimos. Encontros à noite na Sala 213.”. Ele claro respondeu ao anúncio que rapidamente foi retirado pelos guardas.

Por sua notoriedade, Dahmer passou seu primeiro ano em Columbia, uma area rural no centro-sul do estado de Wisconsin, 56 quilômetros a norte da cidade de Madison, em uma cela isolada onde seus movimentos eram bastante limitados devido ao tamanho. Saia da cela com mãos e pés algemados.

Mas em meados de 1993, seu bom comportamento fez com que o Diretor do Presídio o colocasse em uma área com menos segurança, onde ele obteve alguns privilégios. Ele teve acesso a 15 revistas, 30 livros, 4 jornais e uma Bíblia, ele podia também fazer 2 telefonemas e receber três visitas por semana, foi disponibilizado uma televisão e um rádio em sua cela, além de poder frequentar a escola do presídio e trabalhar. Foi zelador, onde ganhava 24 centavos por hora e começou a jogar tênis na esperança de perder os mais de 15 quilos que ganhou dentro da prisão.

Na maioria do tempo, Dahmer ficava consigo mesmo, em sua cela de número 648, fumando cigarros, lendo vorazmente materiais religiosos e escutando fitas de música clássica e canto gregoriano. Ficava acordado a maior parte da noite, um hábito que ele pegou quando trabalhava na Fábrica de Chocolates Ambrósia em Milwaukee. Ele também confessou que os fins de semana eram os dias mais difíceis para ele, pois era quando “as velhas compulsões” se abatiam sobre ele. Ainda assim as pessoas que entraram em contato com ele, sentiram que a prisão o fez mudar.

Enquanto esteve preso, Jeffrey Dahmer deu duas entrevistas para redes de TV. A primeira, em janeiro de 1993, foi para a jornalista Nancy Glass do programa Inside Edition, do canal CBS. A entrevista é antológica, diferentemente de outros serial killers, Dahmer parece muito sincero, não foge ou não esconde em nenhum momento suas bizarras ações. Apesar do sensacionalismo da matéria final, Nancy Glass faz perguntas pertinentes, e Dahmer as responde sem nenhum pudor. Nunca confie num psicopata, mas aqui, posso dizer que o que ele diz é verdade.

Um dos pontos interessantes da entrevista, é quando Nancy Glass pergunta: “Qual o propósito do altar?” Dahmer dá um longo suspiro, como querendo dizer: "Como explicarei isso?” E então ele diz, “Como uma espécie de memorial. Eu não sei. É tão bizarro e estranho. É difícil de descrever".

Um ano depois da entrevista para a Inside Edition, em fevereiro de 1994, Jeffrey Dahmer deu outra entrevista antológica dentro da prisão para Stone Phillips, da rede NBC. Ele só aceitou dar a entrevista se ele estivesse acompanhado do seu pai. Abaixo algumas partes interessantes da entrevista.

Jeffrey Dahmer apareceu em rede nacional em fevereiro de 1994 em uma histórica entrevista para Stone Phillips.

Stone Phillips: Há alguma parte do livro do seu pai da qual você discorda? 

Jeffrey Dahmer: Sim, eu discordo sobre a descrição de mim como sendo muito tímido e introvertido porque… isso deve ser como meu pai me via pois eu não era brincalhão na maioria das vezes… mas com meus amigos na escola, eu tenho uma boa lembrança, uma boa vida social, então eu não era extremamente recluso. Só discordo disso.

Stone Phillips: Te surpreendeu isso? [Ele pergunta para o pai de Dahmer].

Lionel Dahmer: Isso me surpreendeu. Talvez minha percepção tivesse sido extrema demais.

Stone Phillips: Houve algum prazer em… em abrir um animal?

Jeffrey Dahmer: Sim. Houve. Não… não prazer sexual, mas apenas…

Stone Phillips: Senso de poder, senso de controle?

Jeffrey Dahmer: Eu suponho que é uma boa maneira de dizer, sim. Eu acho que isso poderia ter se tornado em um hobby normal, como taxidermia, mas não foi isso que aconteceu. Desviou-se disso.

Stone Phillips: Era a morte que o excitava ou o que acontecia após a morte?

Jeffrey Dahmer: Não, a… a morte era apenas um meio para chegar ao fim. Que… era uma parte menos satisfatória. Eu não gostava de fazer aquilo. Eu tinha essa fantasia recorrente de encontrar alguém pedindo carona na estrada e levá-lo como um refém para que eu pudesse fazer o que quiser…

Stone Phillips: Por que o canibalismo?

Jeffrey Dahmer: Foi… foi uma outra etapa. Aquilo… aquilo me fazia sentir como se eles fossem uma parte permanente de mim… Além da curiosidade de como poderia ser, se aquilo me daria uma satisfação sexual.

Stone Phillips: E isso ainda existe… Isso nunca vai embora?

Jeffrey Dahmer: Em parte. Não, nunca… nunca desaparece por completo. Eu gostaria… que houvesse alguma maneira de desaparecer por completo… esses pensamentos compulsivos, os sentimentos. Não é tão ruim agora… que não existam caminhos para agir sobre ela. Mas não, parece que nunca irá embora. Eu provavelmente terei que conviver com isso pelo resto de minha vida.

Stone Phillips: Então os pensamentos ainda vem para você?

Jeffrey Dahmer: As vezes, sim.

Stone Phillips: Há uma época específica de quando esses pensamentos negros vieram para você?

Jeffrey Dahmer: Eu acho que foi por volta dos meus 14, 15 anos. Eu começei a ter pensamentos obsessivos com violência.

Jeff se levanta, abraça seu pai e caminha para ir embora, mas então ele pára ao lado de Stone Phillips

Com um copo de café em uma mão, ele levanta o outro braço e aponta para uma caixa da equipe de produção que estava em cima de uma mesa, ele diz a Stone Phillips, “Apenas um ponto de interesse, aquele tipo de caixa".

O áudio entre os dois é cortado mas Stone Phillips explica depois, “Ele queria que soubéssemos o quanto aquela caixa era parecida com uma que o seu pai havia encontrado e que ele tinha usado para esconder partes de corpos".








Voltando ao seus anos preso ..

“Ele pareceu para mim um ser humano que tinha uma doença. Foi horrível o que ele fez, você não pode esqueçer, é claro, mas existia um outro Jeffrey Dahmer. Eu sentia que ele era uma pessoa muito boa”, disse Deborah Heasman, umas das inúmeras “fãs” que correspondiam através de cartas com Jeffrey Dahmer.

Esta transformação pode ter se originado a partir do brotamente das crenças religiosas de Dahmer. De acordo com Roy Ratcliff, um Padre que pregava nas prisões de Wisconsin, Dahmer, após ler alguns artigos sobre o criacionismo enviadas a ele por seu pai, um cristão, decidiu em meados de março de 1994 que queria ser batizado na Igreja de Cristo. Duas correspondências de Dahmer chegaram até Roy, que na época liderava uma congregação de cerca de 90 pessoas em Madison.

No primeiro encontro, em abril de 1994, Roy lembra que Dahmer estava nervoso. “Ele pensou que eu diria algo do tipo: Eu não batizarei você, você é o mal. Mas quando ele viu que eu estava aberto à conversa, ele ficou aliviado”, diz Roy.

Uma das raras imagens de Jeffrey Dahmer na Penitenciária Columbia Corretional Institute, em Portage, Wisconsin

Em 10 de maio de 1994, algo muito raro e estranho aconteceu.

Um eclipse solar ocorre quando a Lua passa entre a Terra e o Sol, assim, total ou parcialmente,obscurecendo a imagem do Sol para um observador em terra. Um eclipse solar anular ocorre quando o diâmetro aparente da Lua é menor do que o do Sol, fazendo com que o sol se pareça com um anel, bloqueando a maior parte da luz do sol.

O Eclipse Solar Anular que ocorreu no dia 10 de maio de 1994. Apesar de ser dia, nuvens negras cobriram a maior parte do céu em vários estados dos Estados Unidos e Canadá. Imagem Tirada em Toronto, Canadá. 

Enquanto o céu escurecia estranhamente naquele dia, dois eventos acontecidos em terra firme fizeram com que os mais fundamentalistas acreditassem que aquele fenômeno não era um fenômeno da natureza, mas sim uma resposta da natureza a esses dois eventos acontecidos em terra. Será?

Um eclipse solar anular escureceu o céu no meio do dia 10 de maio de 1994, e foi nesse dia que o serial killer John Wayne Gacy, conhecido como “O Palhaço Assassino”, foi executado com uma infeção letal em Crest Hill, Illinois. Quase que na mesma hora, não muito distante de Crest Hill, acontecia uma cerimônia na Penitenciária de Portage, Wisconsin: A imersão completa na fé cristã do notório serial killer Jeffrey Dahmer.

Para muitos, o eclipse solar anular pareceu totalmente apropriado, se não totalmente sobrenatural. Outros consideraram esse evento uma condenação celestial para esses dois eventos que aconteciam na terra.

Com o capelão da prisão e dois guardas vigiando, Roy submergiu Dahmer em uma banheira na prisão dizendo, “Bem vindo à família de Deus”, Dahmer sorriu e agradeceu ao pastor.

Muitos criticaram a decisão de Roy em batizar Dahmer. Entretanto, Dahmer admitiu remorso e um desejo de seguir o caminho de cristo. O Padre deveria saber muito bem que muitos prisioneiros fingem esse desejo ou simplesmente são atraídos para a estrutura da religião após a completa falta dela em suas vidas criminosas. No entanto, o que devemos ponderar é que os princípios da sua fé não permitem que Roy exclua um ser humano dos olhos de Deus, uma vez que a fé foi proclamada. Não interessam as críticas, Roy Ratcliff seguiu o que ele realmente acreditava.

Poucas semanas depois, um preso atacou Dahmer enquanto ele estava na capela da prisão. O prisioneiro, um traficante de drogas cubano, veio por trás e tentou cortar sua garganta com uma arma feita a partir de uma lâmina de barbear e escova de dentes. Dahmer sofreu apenas arranhões superficiais e as autoridades o colocaram em isolamento temporário. No entanto, Dahmer insistiu que ele não queria prestar queixa.

“Eu não acho que ele estava particularmente preocupado com a vida. Ele disse que qualquer coisa que a sociedade tinha para ele, ele sabia que merecia”, disse Robert Ressler, que entrevistou Dahmer durante nove horas.

Uma Breve Análise

Não podemos ser simplistas, certo? Cabe algumas perguntas aqui.

Depois que ele está trancado, sem mais nenhum acesso à possíveis vítimas, ninguém poderia se surpreender se Jeffrey volta-se para a religião e a bíblia. Isso acontece o tempo todo com todos os presos. Você mesmo já deve ter visto vários documentários de criminosos que “encontraram” Deus na cadeia. Perguntas ficam:

Ele foi sincero?

Quanto o amor de Deus penetrou e o motivou a ser diferente?

A Bíblia curou o serial killer?

Jeffrey Dahmer pareceu realmente ter sido muito sincero, principalmente depois que os seus crimes foram descobertos, e não sou eu que estou falando isso, foram vários psiquiatras, psicólogos, policiais e pessoas que o entrevistaram e conviveram com ele após ser preso. Mas não podemos esquecer que ele era um psicopata, que se safou inúmeras vezes da sociedade pela sua capacidade de mentir e ser convincente nisso.

Roy Ratcliff escreveu um livro chamado Dark Journey, Deep Grace, que é baseado na sua experiência de 17 meses de encontros com o serial killer. Em seu livro, Roy Ratcliff oferece apenas noções idealistas sobre o que pode acontecer a uma alma batizada, não sabemos realmente o que aconteceu com Dahmer em termos de mudança da forma como ele via a vida. Lamentável porque dada a atrocidade absoluta dos seus atos, teria sido importante aprender mais sobre como ele via a vida a partir de uma perspectiva espiritual e religiosa. O que sabemos mesmo é que com Dahmer, apenas a distância funcionava. Alguns dizem que ele manteve Roy Ratcliff ao seu redor com sua lábia e argumentos. Você concorda?

O eclipse do sol no dia que em que Gacy morreu e que Dahmer foi “salvo” foi mais do que uma metáfora sobre dois notórios serial killers do século 20. Roy Ratcliff pareceu um pouco cego em seu livro. Isso não me admira sabendo que ele é um religioso, nada contra religião, mas pessoas religiosas não gostam de enxergar todo um universo que existe fora dos seus livros. Ele não sabe, por exemplo, por que nunca Dahmer disse a seu pai que ele havia se tornado cristão. O fato é que Roy Ratcliff sabe muito pouco sobre Dahmer fora do quadro que ele quer ver. Mas não podemos culpá-lo, ele é um Padre certo ? Não é um psiquiatra acostumado a lidar com todo tipo de mentes. É um Padre que acredita nas pessoas, acredita em Deus, e que deseja salvar os pecadores em terra para que eles possam encontrar o paraíso quando se forem.

A Morte do Canibal
28 de Novembro de 1994


Jeffrey Dahmer e seu assassino Christopher Scarver

De acordo com aqueles que haviam contemplado o mais profundo instinto assassino impregnado em sua alma, Jeffrey Dahmer estava preparado para morrer.

A cada noite de domingo, quatro vezes ao mês, Joyce, mãe de Jeffrey Dahmer falava com seu filho, “Eu sempre perguntava se ele estava seguro e ele respondia ‘Não importa mãe. Eu não me importo se algo acontecer comigo".

E durante as reuniões semanais na prisão com o Padre Roy Ratciiff da Igreja de Cristo em Madison, Wisconsin, Dahmer, muitas vezes contemplava “a questão da morte”, perguntando a Roy Ratciiff se ele estava “pecando contra Deus por continuar a viver".

No último encontro dos dois, no dia 23 de novembro de 1994, a leitura semanal de Dahmer da Bíblia seria tirada do Livro do Apocalipse, um livro repleto de profecias do fogo do inferno, condenação e fúria apocalíptica. A passagem que Dahmer escolheu era estranhamente inapropriada para o seu maior desejo naquele momento: a morte. “Naqueles dias os homens buscarão a morte e não a acharão e desejarão morrer, e a morte fugirá deles.”

Mas a morte encontrou Jeffrey Dahmer apenas cinco dias depois dessa leitura. Na manhã do dia 28 de novembro de 1994, Dahmer foi escalado para limpar o banheiro do ginásio de esportes da penitenciária junto com outros dois presos:
  • Christopher Scarver, um negro alto e bastante forte, esquizofrênico, que havia cometido um assassinato em primeiro grau e;
  • Jesse Anderson, um branco racista que havia esfaqueado a sua mulher 23 vezes e culpava um homem negro por sua morte. 
Inexplicavelmente, os policiais que vigiavam os três saíram e ficaram ausentes por 20 minutos. O que poderia acontecer se você coloca em um mesmo lugar um perverso serial killer, um assassino esquizofrênico e outro assassino racista? Não precisa pensar muito para saber o que aconteceu entre esses três homens. Ao voltarem, os guardas encontraram Jeffrey Lionel Dahmer, 34 anos, caído no chão, sua cabeça com vários hematomas. Jesse Anderson também fora espancado próximo a um chuveiro.

Alegando ter recebido uma ordem de Deus, Christopher Scarver pegou uma barra de ferro e matou Jeffrey Lionel Dahmer e Jesse Michael Anderson. Foi o triste fim do psicopata que assustou o mundo nos anos 90.

Jesse Michael Anderson

Jeffrey Lionel Dahmer encontrou o que buscou nos últimos anos de sua vida, a morte. Talvez ele nem tenha tentado se defender. Ele pode ter visto o esquizofrênico Scarver como a sua salvação, algo bastante surreal já que Scarver era negro e atlético, assim como a maioria dos homens que Dahmer gostava de matar, além do mais, Scarver o matou com uma barra de ferro, a mesma maneira que Dahmer assassinou Steven Hicks, sua primeira vítima em 1978.

Apesar de sua notoriedade, Jeffrey Dahmer não era supervisionado adequadamente dentro da prisão. A morte teve motivação racial? Muitas das vítimas de Dahmer eram negros, e Jesse Anderson, 37 anos, que era branco, matou sua mulher em 1992 e culpou um negro pelo assassinato. Cristopher Scarver uma vez disse a um psiquiatra na prisão que “nada que os brancos fazem aos negros é justo.” Os arquivos da prisão mostravam que Scarver era um psicótico que acreditava ser Cristo. O fato é que o sistema prisional americano, tido por muitos como um dos melhores do mundo, falhou.

 O corpo sem vida de Jeffrey Dahmer. A imagem foi publicada na matéria do The New York Post e creditada ao fotógrafo Robert Miller.


A morte pode ter sido uma escapatória para os demônios de Dahmer, mas para sua família, era mais um capítulo numa dolorosa existência terrena.

“Agora todos estão felizes? Agora que ele foi espancado até a morte, isso é suficiente para todos?”, disse em tom de desabafo sua mãe após saber de sua morte.

Shari Dahmer deu a notícia ao seu marido. Pela segunda vez em sua vida, Lionel Dahmer, ficava paralisado, sentado na cadeira do seu escritório, olhando para o vazio.

Para alguns dos parentes das vítimas, a resposta ao desabafo da mãe de Dahmer é definitivamente SIM. “Eu estou muito feliz e bastante excitado que aquele monstro finalmente morreu, o demônio se foi”, disse Janie Hagen, irmão de Richard Guerrero, morto por Dahmer aos 21 anos. Mas para outros, matar é matar, não importa quem seja a vítima. “Eu não pude parar de chorar quando eu escutei as notícias. Eu chorei por sua família. Chorei por ele. Ele não devia ter sido morto daquela maneira”, disse Theresa Smith, que visitou Dahmer na prisão oito meses antes de sua morte. Theresa era irmã de Edward Smith, uma das vítimas de Dahmer e morto em 1990.

Para os policiais que prenderam Dahmer, ele esperava pela morte. Em junho de 1994, o Detetive Dennis Murphy teve um encontro com Dahmer na prisão, e Jeff disse para ele que “Vou conviver com os outros presos agora. Eu estarei morto em seis meses. E se alguém me atacar, eu não lutarei".

Ainda, na morte, como na vida, o nome Jeffrey Dahmer sempre irá evocar uma imagem que atraiu todo o mundo em 1991: freezers e potes cheios de partes de corpos humanos sendo removidos do apartamento 213 do Prédio na Rua 25th North em Milwaukee. Seu rosto pálido, sem afeto e com um olhar plano.

Em 12 de Dezembro, 1995, um juiz ordenou a cremação do cérebro de serial killer Jeffrey Dahmer, que tinha sido preservada a pedido da mãe de Dahmer, na esperança de tê-lo estudado. Daniel George fez sua decisão durante uma audiência de uma hora para decidir o que fazer com o cérebro. O pai de Dahmer, Lionel, de Akron, Ohio, procurou a cremação, porque seu filho tinha solicitado.O corpo de Dahmer, exceto para o cérebro, foi cremado em setembro, como Dahmer tinha solicitado. As cinzas foram divididos entre os pais de Dahmer, que são divorciados.


“Ele era como o Cometa Halley. Um criminoso como ele aparece a cada 75 anos e felizmente, não será visto novamente por outros 75 anos.”
[Gerald Boyle]


A Morte do "Mais Notório assassino americano" foi capa da revista People em 12 de Dezembro de 1994.

O jornal Daily Register noticia a morte de Jeffrey Dahmer

A morte de Jeffrey Dahmer também foi notícia no Brasil em publicação do jornal Folha de São Paulo

Cristopher Scarver é levado para julgamento após ter assassinado Jeffrey Dahmer e Jesse Anderson. Por esses crimes Scarver foi setenciado a mais 2 prisões perpétuas. "Deus apareceu e disse: Faça !" Disse Cristopher Scarver no julgamento.

“Para mim há uma sensação de alívio ao saber que Jeffrey não está mais sofrendo, e talvez o meu marido possa sair desse sofrimento. Talvez possamos ser apenas pessoas comuns agora”, disse a madrasta de Dahmer.

Mas nem na morte Jeffrey Dahmer conseguiu descansar. Lionel e Joyce entraram na justiça pelo direito de poder enterrar o corpo do filho. Joyce queria mais, queria doar o cérebro de Dahmer para estudos, pois segundo ela, cientistas e pesquisadores poderiam estudá-lo para tentar explicar o comportamento de Jeff. Seu pai foi contra, “Estudar um cérebro morto? Não! Deveriam estudá-lo quando ainda estava vivo, agora que está morto não adianta''.

O corpo de Dahmer permaneceu sob custódia durante um ano. Em um testamento, Dahmer dizia que desejaria que seu corpo fosse cremado. E assim foi feito, depois de um ano de brigas, cada um recebeu metade das cinzas do filho. Lionel possui as cinzas do filho até hoje, e segundo ele, estão guardadas em paz.

Christopher Scarver passou os 16 anos seguinte em uma solitária, isso mesmo: 16 anos! Saiu da solitária em 2010 e voltou para lá em 2011. Nesse meio tempo, ele enviou algumas cartas para o repórter Mike Jacobs do Today’s TMJ4.

Milwaukee Pós-Dahmer

Alguns dos familiares das vítimas de Dahmer entraram na justiça. Os pais de Konerak Sinthasomphone entraram com ações civis contra os policiais e a cidade de Milwaukee. Oito famílias de vítimas esperavam realizar um leilão dos instrumentos de Dahmer, incluindo a geladeira onde ele armazenou partes de corpos, uma furadeira e vídeos pornográficos. Um advogado que representou as famílias das vítimas disse na época que esperava arrecadar mais de 100 mil dólares com o leilão.

“Você pode se sentir bem com relação a isso, sabendo que o dinheiro está indo para as pessoas certas”, disse o advogado Thomas Jacob Son.

Mas nem todos foram a favor dessa ideia. Theresa Smith, cujo irmão morreu nas mãos de Dahmer, disse na época que não gostaria de fazer do Circo de Horrores que cresceu junto ao caso. “Eu não quero alguém dizendo: Este é o machado que cortou a cabeça de Eddie. É dinheiro de sangue, não importa a maneira que você olha para ele.”

Seja isso certo ou não, o fato é que um Juiz de Milwaukee autorizou que os bens de Jeffrey Dahmer fossem à leilão. E isso deixou horrorizado um importante empresário da cidade de Milwauke, seu nome: Joe Zilber.

Joseph Zilber. Filho de imigrantes russos, Joe Zilber cresceu em Milwaukee e tornou-se um magnata do ramo imobiliário. Fez doações na casa dos milhões de dólares para vários projetos de filantropia. Quando ele ficou sabendo que os objetos usados pelo serial killer Jeffrey Dahmer seriam leiloados, ele decidiu agir rápido.

Temendo que os itens fossem leiloados e mantidos como lembranças macabras de curiosos, o falecido (morto em 2010) empresário lançou um esforço para comprar todos os objetos e destruí-los. “Vender coisas que foram usadas para matar pessoas é errado, e seu impacto sobre a cidade de Milwaukee teria sido devastadora”, disse o braço direito do empresário, Mike Mervis, em uma entrevista em julho de 2011 para a TMJ4

Joe Zilber contou com a ajuda de amigos empresários, políticos e outras pessoas. Eles levantaram US$ 407,225 mil dólares (a maior parte do dinheiro veio de Joe) e compraram todos os itens de Dahmer. O dinheiro foi repartido entre as famílias das vítimas.

Às cinco horas da manhã do dia 26 de junho de 1996, Mike Mervis, policiais, promotores e técnicos reuniram-se na antiga sede da Polícia de Milwaukee e recolheram todas as “relíquias” do reinado da morte de Jeffrey Lionel Dahmer. Toda a tarefa foi filmada.

Podemos ver no vídeo um cerrote, um martelo e sua furadeira, os instrumentos que Jeffrey Dahmer usou para matar suas vítimas. Até mesmo a calça jeans e um travesseiro de Dahmer foram destruídos. Nota-se também no vídeo, drogas, sua geladeira e sua bicicleta. Talvez o mais interessante seja o seu infame barril azul. Os homens ficaram três horas fazendo a triagem do material. Os itens então foram colocados em um caminhão de lixo e levados até um aterro secreto no estado de Illinois.

"Todos os itens que haviam sido usados como prova no julgamento, eu quero repetir, todos os itens e outros materiais que tinham sido armazenados como prova foram levados para fora. Eles estavam em envelopes ou papel de embrulho”, diz Mike Mervis no vídeo.

Joyce Flint

Após a separação de Lionel Dahmer, Joyce Dahmer mudou seu nome para Joyce Flint, o seu nome de solteira.

Em 1991, Joyce Flint tornou-se gestora de uma casa para pacientes com AIDS (Central Valley AIDS Team). No mesmo ano seu filho foi preso acusado de matar 17 homens.

"Ela era uma entusiasta, ela tinha compaixão, ela pegou sua própria tragédia e a transformou numa forma de ajuda às pessoas com HIV”, disse Julio Maestro, Chefe da casa. A vida para Joyce foi bastante complicada principalmente após a morte de Jeff. “Ela se sentia muito culpada, ela teve sim uma parcela de culpa, e ela teve que conviver com isso pelo resto de sua vida”, disse o advogado de Dahmer, referindo-se à época em que ela abandonou o filho, em 1978.

Em 1994, quando seu ex-marido Lionel estava exposto na mídia por causa do seu livro, onde ele contava sobre a vida do casal e sobre os problemas psicológicos da ex-mulher, Joyce tentou suicídio tomando uma overdose de pílulas e deitando perto de um forno de gás aberto.

Joyce Flint morreu de câncer em 27 de novembro de 2000, aos 64 anos, em Fresno, Califórnia. Ela foi enterrada em Atlanta, Georgia.

Joyce Flint separou-se de Lionel Dahmer em 1977. Após a prisão do filho, sofreu com acusações sobre o abandono de Jeff em 1978. Nos últimos anos de sua vida engajou-se na escrita de um livro sobre o ocorrido, mas ela morreu antes que pudesse terminá-lo.

Lionel Dahmer

Em 1994 Lionel Dahmer teve que lutar contra um par de processos de famílias das vítimas que o acusavam de ser o responsável pela conduta do seu filho e por ter a privacidade invadida nomeando os nomes das vítimas em seu livro. Ele doou partes do dinheiro com a venda do livro para as famílias das vítimas. O PhD em química se aposentou e mora atualmente com sua esposa no Condado de Medina, estado de Ohio. Ocasionalmente ele é consultor em pesquisas científicas sobre o tema evolução vs. criacionismo. Não precisa dizer que até hoje ele carrega um enorme fardo.

Shari Dahmer, Lionel Dahmer e a irmã de Edward Smith. Shari Dahmer conseguiu se aproximar de famílias das vítimas de Jeff. A irmã de Edward Smith ficou amiga de Shari e Lionel. Ambas as famílias faziam visitas uma para as outras. Buscavam apoio e suporte em seus sofrimentos.

O irmão de Jeff, David Dahmer, mudou seu sobrenome e tem sua nova identidade e moradia mantidos sob sigilo por Lionel Dahmer e pelas autoridades. Vive no anonimato, é casado e tem 2 filhos.

Em 17 de junho de 2004, Lionel e sua mulher, Shari Dahmer, deram uma entrevista para o famoso apresentador Larry King na CNN. A entrevista pode ser vista no youtube ele fala que tem orgulho do nome Dahmer, e que ama muito o seu filho.

Na época, o especialista do FBI John Douglas, estimou que houvessem 50 outros serial killers em ação nos Estados Unidos. Com órgãos sobrecarregados e falta de recursos humanos, a detecção, monitoramento ou prisão desses assassinos se torna muito difícil dizia ele (fico imaginando aqui no Brasil). Serial killers existem em todos lugares do planeta, neste momento algum deles deve estar fazendo uma nova vítima, talvez, até perto de você. Pra quem é leitor do blog sabe que pelo menos dois estão ativos nos Estados Unidos atualmente, o serial killer de Long Island e o Assassino do Backpage.com.

O criminologista Eric Hickley disse certa vez que “Existem outros Dahmers lá fora. E eles estão ocupados.”

O psicólogo John Norris, autor de vários livros sobre assassinos em série, diz que os serial killers são pessoas com alta capacidade e potencial, mas eles nunca usam esse potencial, ao invés, eles canalizam essa inteligência no ato de matar.

Norris estudou mais de 300 serial killers e encontrou características comuns neles. Eles quase sempre mostram evidências de comprometimento neurológico ou do sistema central nervoso, que vão desde a dislexia à epilesia. Eles possuem lapsos de memória (lembram de Dahmer não conseguir lembrar como matou Steven Tuomi?) e sua violência é quase sempre uma resposta para suas fantasias e/ou alucinações. Eles são fascinados com fogo e geralmente mutilam animais na infância.

De acordo com Norris, a maioria deles abusam do álcool ou drogas. Muitos sofreram de desnutrição e "Praticamente todos foram abusados, emocionalmente, fisicamente e muitas vezes sexualmente em algum ponto de suas vidas".

As vítimas simbolizam algo dos seus passados. John Wayne Gacy matava garotos porque ele era extremamente homofóbico, ao matar, ele matava sua parte homossexual e homofobia e racismo (para John Norris) são palavras centrais no caso Dahmer. "A maioria dos tipos de serial killers acreditam que eles estão fazendo coisas boas para a sociedade matando certos tipos de pessoas".

Para John Norris, o caso Dahmer é emblemático. "Quanto mais as pessoas souberem sobre o Sr. Dahmer, maior a chance de que pessoas comuns possam desconfiar e reconhecer outros como ele. E eu garanto para você que nesse momento, existem pelo menos dois outros iguais a ele nas ruas, esperando para serem descobertos".

Jeffrey Lionel Dahmer não está mais entre nós, mas continua muito vivo nas aulas dos cursos de psicologia e psiquiatria em Universidades mundo afora. Continua muito vivo também na cultura popular. Pelo menos quatro filmes sobre sua vida já foram lançados, em 1993 ele foi lembrado no filme de Sylvester Stallone, O Demolidor. No filme (que se passa no ano de 2032), o vilão Simon Phoenix, interpretado pelo ator Wesley Snipes, pega uma lista com vários criminosos que estavam congelados. Ao ler a lista ele diz: "JEFFREY DAHMER!! Eu adoro esse cara, descongelem-o!"

Em setembro de 2010, a popstar norte-americana Kesha lançou um EP chamado Cannibal. A música título do EP faz uma explícita referência a Jeffrey Dahmer. O serial killer também é nome de banda de rock além de ter sido inspiração para músicas de duas das maiores bandas de thrash metal do mundo: Slayer e Soulfly. O Slayer escreveu uma música sobre Jeff, chamada 213. O mesmo aconteceu com a banda do brasileiro, e ex-Sepultura, Max Cavallera, o Soulfly, que escreveu Jeffrey Dahmer. Jeff também virou inspiração para histórias em quadrinhos como Zombie de Joyce Carol Oates.

FOTOS:





























Sites consultados:
http://oaprendizverde.com.br/2011/02/16/serial-killers-o-canibal-de-milwaukee/
angelfire.com
murderpedia.org