sexta-feira, 6 de março de 2015

Francisco das Chagas Rodrigues de Brito




Em 17 de setembro de 1991 foi encontrado no Maranhão, nas Matas do Sítio Paraná, o corpo de Ranier Silva Cruz, de 10 anos, morador da Vila Nazaré, no Maiobão, que desaparecera no dia 11 de setembro. Seus órgãos genitais estavam extirpados, apresentava perfurações nas costas, vários hematomas, olhos e lábios lesionados por instrumento pontiagudo cortante.


De setembro de 1991 a fevereiro de 2002, vinte e dois meninos com idades entre 9 e 15 anos foram assassinados e submetidos a atos de violência sexual em áreas da periferia dos municípios que compõem a Ilha de São Luís; em onze deles, os meninos tiveram os órgãos genitais extirpados. Seus corpos foram encontrados em matagais.




No depoimento do suspeito, percebia-se que ele gosta de contar detalhadamente a sua versão e não quer ser interrompido, ansioso por falar os fatos conforme sua ótica e justificar as negativas das testemunhas, exigindo provas científicas de sua culpa. Tenta adivinhar as respostas certas. Nega enfaticamente ser homossexual. Relatou que um de seus passatempos prediletos era ficar sentado, à noite, jogando pedras em gatos. Afirmava que a polícia podia revirar sua casa que não ia encontrar nada, permanecia calmo e mantinha sua história. Seu tom era irônico e cínico; zomba da psicóloga, dizendo que só falta a ela acreditar que lê a mente das pessoas.


Francisco disse para a polícia frases como essas: 

"Doutor, se eu devesse eu tinha ido embora"; 

"To pagando por uma coisa que eu não fiz"; 

"Só Deus sabe que eu sou inocente"; 

"Isso não pode estar acontecendo comigo, meu Deus!"; 

"Meu advogado é Deus", 

"Eu não sou doido da cabeça", 

"Um dia a verdade vem", 

"Nunca matei ninguém".




A partir da avaliação de todo material disponível sobre o caso, foi elaborado o perfil psicológico do tipo de indivíduo que cometeria aqueles crimes em série e confrontado com o perfil psicológico de Chagas, concluindo-se de que se tratava da mesma pessoa.


De acordo com o perfil de Chagas e do tipo de serial killer que estava em ação, havia uma enorme possibilidade deste assassino ter enterrado parte de suas vítimas em sua casa ou quintal. Assim, foi solicitado um mandado que autorizasse uma nova perícia em sua residência.

Enquanto era aguardada a expedição do mandado, o comportamento do suspeito em sua cela foi observado. Com base nestas considerações, foi planejada uma estratégia de interrogatório a ser utilizada no momento em que se tivessem as provas científicas contra Chagas, uma vez que o modelo padrão de interrogatório não é eficiente quando se trata de um psicopata, pois estes não sentem culpa, não têm remorso e a sua capacidade de empatia é limitadíssima.




Novas buscas na casa do suspeito, realizadas no dia 25 de março, revelaram ossadas e roupas enterradas, que foram devidamente acondicionadas, segundo orientações do Médico Legista do IML de São Paulo, com o objetivo de que nenhuma prova se perdesse.


Neste mesmo dia, à noite, conforme estratégia planejada anteriormente, Chagas foi novamente inquirido. Durante semanas, em trabalho conjunto com um psicólogo forense, foi feito o acompanhamento dos trabalhos, com mudanças de estratégia quando necessário. Assim, Francisco das Chagas confessou todos os seus crimes, embora afirmando não ter lembrança do que acontecia durante os assassinatos. 

Nas reconstituições dos assassinatos, Chagas entrava na mata no local onde cada cadáver foi encontrado e mostrava exatamente onde havia matado cada criança. Os locais eram bastante ermos e foi bastante difícil chegar até eles, pois a mata era fechada. Munido de GPS, o perito criminal Wilton Ribeiro marcava o local exato apontado por Chagas, o qual era depois comparado ao local apontado pelos peritos, por ocasião dos laudos de local. A margem de erro de Chagas, mesmo nos crimes mais antigos, era de 50 cm. 

Chagas foi avaliado pela psicóloga forense e perita Maria Adelaide Freitas, do Núcleo de Psicologia Forense do Hospital das Clínicas de São Paulo, cuja conclusão do laudo aponta que o acusado possui transtorno de personalidade anti-social, tem discernimento do caráter ilícito de suas ações, mas não possui autodeterminação para evitá-las, ao tempo dos fatos, tinha plena capacidade de entendimento de seus atos, caracterizando semi-imputabilidade, o que derrubou a tese de inimputabilidade alegada pela defesa.





Processado, Chagas foi julgado no Maranhão, no período de 24 a 26 de outubro de 2006, tendo sido sentenciado a 20 anos e oito meses pelo assassinato do menino Jonathan Silva Vieira. Em face do laudo de semi-imputabilidade, o júri reduziu sua pena em um terço.

Francisco das Chagas foi uma criança abandonada pelo pai e pela mãe muito cedo. Foi entregue à avó para ser criado em um lugar isolado, com quase nenhum relacionamento social. O isolamento costuma ser uma característica comum na infância e na adolescência de um serial killer. A avó dele apresentava traços de comportamento sádico e Chagas era espancado com freqüência, além de ser torturado emocionalmente. A avó mantinha um papel na parede onde anotava as atitudes que achava merecedoras de castigo. Sempre que a soma chegava a oito, vinha a surra: ele era segurado pelas pernas, colocado de cabeça para baixo, a avó colocava o pé no pescoço dele e o surrava com cipó triplo, que ele próprio era obrigado a cortar. 





As Provas

  • Chagas foi visto com Jonnathan no dia de seu desaparecimento. 
  • Chagas foi visto com duas bicicletas, sendo que uma delas seria a do menino desaparecido. 
  • Chagas morou em Altamira/PA entre 1989 e 1993, época em que ocorreram os casos dos Meninos Emasculados de Altamira. 
  • No ano de 1991, ocorre o primeiro caso em São Luís do Maranhão, no mesmo mês em que Chagasvem para esta cidade acompanhando uma cunhada doente. Ele só retornou para Altamira após o carnaval de 1992 (março). 
  • Em 1994, Chagas passa a morar definitivamente em São Luís/MA. 
  • Os locais onde Chagas morou são os mesmos locais onde ocorreram os crimes. 
  • A baladeira (estilingue) do menino Siba, feita com a borracha de uma chuteira, foi reconhecida pelo pai. 
  • Nos locais de encontro de cadáver foram encontradas algumas camisetas cortadas à 10cm da gola. Na casa de Chagas também. 
  • Chagas residiu ou freqüentava a localidade onde ocorreu a maioria dos crimes de meninos emasculados. Os corpos foram encontrados sempre numa distância entre 50m e 200m de onde o mecânico morou. 




Ilana Casoy no caso (É ela contando):

“Recebi material sobre 26 crimes contra crianças em São Luís. Trabalhando em conjunto com o Médico Legista e bacharel em Direito André Ribeiro Morrone, definimos apenas 23 como sendo da mesma autoria. Três casos foram excluídos.”

“Foi elaborado o perfil psicológico do tipo de individuo que cometeria estes crimes em série e confrontado como o perfil psicológico de Francisco das Chagas. Concluímos que se tratava da mesma pessoa.”

“De acordo com o perfil de Chagas e do tipo de serial killer que estava em ação, havia uma enorme possibilidade deste assassino ter enterrado parte de suas vítimas em sua casa ou quintal. Pedi ao Dr. Diniz que efetuasse nova perícia na casa e foi requisitado novo mandado para que isso fosse possível.”

“Enquanto esperávamos ordem legal para procurar o “troféu” que Chagas levava de cada morte, supostamente ossos e roupas, foi solicitado ao Delegado Diniz que observasse Chagas em sua cela. Não posso relatar detalhadamente o que deve ser observado, para que outros criminosos não saibam o que devem ou não esconder, mas dentre outras coisas, sono REM, matutino/vespertino, masturbação compulsiva, etc.”

“Com base nestas observações, foi planejada uma estratégia de interrogatório a ser utilizada no momento em que estivéssemos de posse das provas científicas contra Francisco das Chagas.”

“Na quinta-feira, dia 25 de março, às 9 horas da manhã, recebi o telefonema do Dr. Diniz contando que havia encontrado três ossadas no chão da casa de Chagas, além de algumas roupas.”

“Durante várias horas, acompanhei as escavações por telefone, juntamente com o Dr. André Morrone. Ficou a cargo do Médico Legista do IML de SP orientar a perícia de São Luís sobre o acondicionamento das provas, para que nada se perdesse.”

“Neste mesmo dia à noite, conforme estratégia anteriormente planejada, Chagas começou a ser interrogado. Durante semanas, em trabalho conjunto com a psicóloga forense Maria Adelaide de Freitas Caíres, foi feito o acompanhamento dos trabalhos, com mudanças de estratégia quando necessário. Francisco das Chagas confessou assim todos os seus crimes, mas afirmava não se lembrar o que acontecia durante os assassinatos.”

“Foram feitas as reconstituições dos assassinatos, uma delas acompanhada por mim pessoalmente. Chagas entrava na mata do local de encontro de cada cadáver e mostrava exatamente onde havia matado tal criança.”

“Os locais eram bem ermos e foi bastante difícil chegar até eles, pois se tratavam de mata fechada. Munido de GPS, o perito criminalístico Wilton Carlos Rego Ribeiro marcava então o local exato apontado por Chagas, que depois era comparado ao local apontado pelos peritos, por ocasião dos laudos de local. A margem de erro de Chagas.mesmo nos crimes mais antigos, era de 50cm.”

“Chagas foi entrevistado por mim na Delegacia de Homicídios de São Luís, juntamente com o psicólogo forense Christian Costa. Começamos aqui a conhecer o homem por trás dos crimes.”



Alguns relatos de Chagas para Ilana Casoy e Dr. Christian Costa.


Chagas: "Bom, o que eu vi...é ... há alguns fatos que vocês precisam entender né ..Que aliás nem eu mesmo sei....isso que aconteceu...que aconteceu já....nem eu sei direito. E...Fica uma coisa que me deixa ainda meio perturbado."

Ilana: "É lógico."

Chagas: "Esse negócio...Por que que um negócio desses acontece comigo né. Por quê?"

Christian: "Você gostaria de entender também?"

Chagas: "Eu gostaria de entender, que eu não sei...Tem hora até que me fere até as palavras...Bom, pra dizer a verdade, o que mudou na minha vida foi só que...por causa disso aí é a mesma coisa que eu estar sozinho no mundo."

Christian: "Você se sente só?"

Chagas:  " É, me sinto só."
...

Ilana: "Você apanhou muito Chagas?"

Chagas:" Apanhei muito"

Ilana:" Apanhava de quê? De cinta, de chinelo?"

Chagas: "Era de cipó mesmo de jatobá. Tirava assim aquele cipó de três pernas e tem que tirar a folha, porque se não tirasse a folha a velha (a avó de Chagas) mandava buscar outro. Ajoelhava nos pé dela e ela batia e se brigasse muito, se estrebuchasse muito, ela...Daí dava no chão, pisava no pescoço e levantava a perna do moleque. Ela pisava no pescoço, estendia a perna e metia um tapa."

Ilana: "De ponta cabeça?"

Chagas: "Era."

Christian: " Ela batia aonde?"

Chagas: "Por onde pegasse. E aí quando...depois...quando feria né, porque, às vezes, feria, e aí ela pegava e ia passar água de sal. Às vezes eu quero que Deus perdoe isso né, porque por mim ta perdoado...Agora só que valeu, porque eu sempre fui uma pessoa que nunca pegou uma agulha de ninguém. Porque lá em casa quando a gente chegava com um brinquedo diferente ia deixar onde achou debaixo de tapa. Aí eu aprendi isso...Eu nunca peguei uma agulha de ninguém. Eu não sei, não me sinto bem..."

Christian: "Porque que ela batia?"

Chagas: "Ela batia porque naquele tempo a criação não era que nem hoje. Hoje em dia o filho não respeita mais o pai, o pai ta conversando com uma visita ele chega, toma a conversa,”foi assim e tal”...No meu tempo não era assim. Minha mãe tava conversando, se a gente dissesse “minha mãe, isso assim, assim”, ela não dizia nada, só olhava com um olho ruim. Às vezes, chegava visita pra conversar com ela e a gente ia brincar bem longe pra não atrapalhar ela e nem passar pelo meio."




Sua história ficou conhecida como “O caso dos meninos emasculados do Maranhão e de Altamira (PA)”, pois o assassino mutilava os órgãos sexuais da maioria das vítimas.

Porém, este não era o único ato bárbaro de Francisco. As mortes eram por asfixia ou com uso de objetos cortantes. Antes, ele abusava sexualmente dos garotos. Depois de mortos, de alguns ele cortou a cabeça ou dedos, de outros queimou o corpo.

Segundo o promotor do caso atual, Francisco, que está preso desde 2004 (ano em que foram encontradas duas ossadas enterradas em sua casa), confessou os crimes e colaborou com as investigações, mas às vezes se divertia fazendo um “jogo” testando a capacidade dos policiais em desvendar a história.

Uma das Vítimas de Francisco

Jonatham Silva Vieira é o nome de um jovem de 15 anos que Francisco das Chagas Brito matou em 2003, no Maranhão. Jonatham foi o primeiro dos homicídios de Francisco a ser levado a julgamento, em 2006.

Jonnatham freqüentava a oficina de bicicletas onde Chagas trabalhava (fazia bico) e comentou com sua irmã que foi convidado por ele para ir apanhar juçara (açaí) na mata. Chagas foi visto com Jonnathan no dia de seu desaparecimento. Também foi visto empurrando duas bicicletas na Estrada de Santana. Mesmo diante dessas "provas circunstanciais", ele negava firmemente o crime.

Do garoto só se encontrou a ossada, sendo impossível determinar se ele havia sido emasculado.

Neste julgamento, Francisco chorou ao ser interrogado pelo juiz, contando que, na infância, além de ter sido espancado pela avó “até sangrar”, também foi violentado por um adulto, de nome “Carlito”. Francisco disse que, ao matar Jonatham, estava vendo no jovem o seu agressor, Carlito. Anteriormente Francisco tinha negado o crime, dizia que as mortes eram provocadas por “uma força superior”.

A irmã de Francisco, ao depor, disse que ele realmente apanhava da avó. O advogado de Francisco contou que o assassino lhe disse que sua avó mantinha, em uma parede, uma lista de atitudes que eram proibidas. Assim que Francisco atingisse oito “pontos”, era surrado.


Infância e vida:

A mãe de Francisco abandonou o esposo quando a criança tinha quatro anos. O pai, dois anos depois, o deixou com a avó que batia nele.

Às vezes o pai aparecia com uma mulher a tiracolo, mas esta não aceitava Francisco como filho. Morando com a avó, Francisco trabalhava vendendo bolos na rua.

O assassino, já adulto, chegou a morar com uma mulher, com a qual teve duas filhas. Francisco morou no Pará, em Altamira, onde é acusado de ter matado 12 meninos. E no Maranhão, onde pesa sobre ele a acusação de 30 homicídios.

Francisco diz que, apesar de ter parentes, era solitário. Sua “diversão” era ficar só, à noite, jogando pedras em gatos.

Durante várias fases dos processos, Francisco já assumiu os crimes, já os negou, já deu várias declarações confusas e contraditórias. Em uma entrevista, tentou negar que tivesse extirpado os órgãos sexuais dos garotos, assim: “Se eu tivesse feito isso, tinha dinheiro. Não moraria humildemente.” (querendo sugerir que poderia ter vendido os pênis para traficantes de órgãos…). Ou: “A pessoa, quando morre, começa a diluir, a desmanchar.”

Modus operandi:

  • As vítimas de Francisco das Chagas eram meninos entre 10 e 14 anos, geralmente.
  • A exceção, aparentemente, é um garoto de 4 anos, parente de sua ex-mulher.
  • As crianças eram pobres e moravam perto de onde Francisco residia. Muitos eram vendedores ambulantes, como Francisco já havia sido.
  • Francisco as atraía para uma mata fechada, geralmente com algum convite como irem pegar frutas. Durante as investigações, Francisco conseguiu apontar com exatidão onde estavam vários corpos.
A negligência das investigações gerou ao Brasil e ao Maranhão um processo na OEA (Organização dos Estados Americanos). Por intermédio da OEA, as famílias das vítimas passaram a receber uma pensão.

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