quarta-feira, 27 de maio de 2015

Marcos Antunes Trigueiro “Maníaco de Contagem”




Forte, olhos verdes, 1,86m de altura, Trigueiro é o mais velho de 3 irmãos – os outros são Alexandre e Viviane. A família tinha um histórico de violência: “Nosso pai, depois de separar da mãe, viveu com a gente à força, e só batia, era pontapé, soco, eu tenho uma clavícula quebrada até hoje, devido às agressões. O Marcos sempre foi calado, não tinha amigos”, diz o irmão Alexandre, de 29 anos. 



Há relatos de que o pai de Marcos, o falecido caminhoneiro Nívio Antônio, esquentava chaves de fenda para queimá-los. Tanto o pai e a mãe bebiam muito e sua mãe nunca foi visitá-lo na cadeia... não se viam há sete anos. Segundo Alexandre, o irmão não tinha amigos e seu único passatempo, já adulto, era jogar videogame: "jogos de luta, arrancar cabeça, perna, braço.Ficava até de madrugada jogando”. Como demonstram estudos sobre o tema, jogos violentos não produzem criminosos. Mas o comportamento obsessivo pode indicar problemas mentais. “É natural que um estuprador tenha prazer nesse tipo de jogo”, diz o psicanalista Francisco Daudt. “Mas nem todos que gostam desse tipo de jogo sairão estuprando e matando.”


Na avaliação feita pelos psiquiatras forenses, o “maníaco de Contagem” não quis falar sobre os crimes. “Ele demonstrou o que chamamos de frieza afetiva. Ele é indiferente ao outro e a ele mesmo”, disse Alan Passos, coordenador de psiquiatria do Instituto Médico Legal. “Ele é calmo, fala baixo, nunca olha nos olhos e não se perde no raciocínio. De doido ele não tem nada. É ruim mesmo”, diz o promotor Francisco Santiago.



Está no terceiro casamento e pai de 5 filhos, a sogra de Trigueiro disse que sua filha, Rose Paula, gosta muito dele e sempre o considerou um bom marido. Rose é evangélica, o marido a acompanhava nos cultos. Uma das duas ex-mulheres de Trigueiro também o elogiou ao depor e disse que a separação aconteceu por ela ser muito mais velha e por ele ser romântico demais. Segundo ela, depois da separação ele teria mudado. Passou a chantageá-la exigindo dinheiro para não sequestrar a filha.

Pintor desempregado, estava escondido embaixo da cama, no barracão onde morava com a mulher e uma filha, quando o policial chegou e se fez passar por um cliente, interessado em comprar seus objetos de artesanato.

O suspeito já era conhecido da polícia.Em 2004 foi acusado de roubar e matar o taxista Odilon Ribeiro. Poderia ter sido condenado a pena entre 20 e 30 anos de prisão. Saiu em 30 dias. Não houve denúncia, pois não havia sequer o auto de necropsia. Preso novamente em fevereiro de 2005 por roubo, fugiu em outubro. Recapturado em janeiro de 2006, cumpriu um terço da pena de 5 anos, passou ao regime semiaberto e saiu de vez em junho de 2008. Quando preso pelos assassinatos em Contagem, confessou o assassinato do taxista, ocorrido há 6 anos atrás.





Modus Operandi

O roteiro dos estupros seguidos de morte era o mesmo. Ele abordava as vítimas em seus carros, dando a entender estar armado, e as levava para locais desertos. Lá, ele as estuprava e depois pedia que vestissem novamente a roupa, como se fosse libertá-las. Então as estrangulava. 

Todas as suas vítimas eram morenas claras, de classe média e cabelos compridos. Curiosidade: as vítimas tinham o mesmo perfil da mãe de Marcos.

“Ele tenta nos convencer de que o sexo era feito com o consentimento delas e que elas gostavam”, afirma o promotor Francisco Santiago. “Diz que só queria provocar desmaios.” Só roubava o aparelho celular das vítimas. Para o representante do Ministério Público no caso, Trigueiro tem “amnésia de conveniência”: só lembra do que lhe interessa.




Vítimas

Janeiro de 2009
Adna Feitor Porto 1ª. Vítima
16 de Janeiro
Adna Feitor, 34 anos

De acordo com o marido da vítima, o comerciante Íris Oliveira Porto, 36 anos, que, depois do crime se mudou para Jacinto, no Vale do Jequitinhonha, sua mulher desapareceu em 27 de janeiro de 2009, no Bairro Lindeia, Região do Barreiro. O carro dela foi deixado na Via Expressa, Bairro Camargos, também na Região Noroeste.

O marido telefonou para o celular dela e notou que a mulher estava estranha ao telefone. O carro da comerciante foi encontrado, um dia depois do desaparecimento, abandonado próximo à estação do metrô da cidade. Uma semana depois o corpo foi encontrado. Depois do estupro foi estrangulada.

Segundo Porto, a perícia não teria coletado impressões digitais no veículo. O corpo de Adina apareceu uma semana depois, numa estrada rural da cidade de Sarzedo, e também apresentava sinais de estrangulamento. Devido à decomposição do corpo, não foi possível coletar o material genético do assassino.

“Levei o carro para um lava-jato e encontrei o retrato de um homem desconhecido, moreno, de cavanhaque, com idade de 30 a 37 anos. Pedi meu irmão para entregar o retrato a um delegado da 6ª Secional de Contagem, que prometeu investigar. Isso nunca aconteceu, pois não me deram nenhum retorno”. Porto disse que só decidiu revelar o fato após tomar conhecimento da atuação do maníaco.


Abril de 2009
Ana Carolina Assunção - 2ª. vítima
16 de Abril







A empresária Ana Carolina Assunção, de 27 anos, morava em Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, e ia todos os dias, com a mãe, buscar o filho pequeno na escola. Na tarde em que desaperceu, Ana Carolina telefonou para a ela e pediu que fechasse a loja e esperasse do lado de fora, pois não ia descer do carro. A mãe fechou a loja rapidamente, já estava escuro. Viu de longe, na esquina, Ana Carolina dando ré no carro e indo embora. Ela achou estranho e resolveu esperar um pouco. Acabou voltando para casa a pé e comentou com a família que a filha não a tinha esperado. Como a moça não voltava, resolveu pegar o carro e ir procurar pela filha no caminho da loja. Sem notícias, o irmão e o marido de Ana Carolina telefonaram para o celular dela. De forma estranha, a empresária atendeu e disse que estava voltando para casa. A família telefonou de novo. Ela atendeu dizendo que não podia falar e eles escutaram a voz de uma pessoa ao lado dela. Seu carro foi encontrado horas depois, na Avenida Governador Benedito Valadares, no bairro João Pinheiro, em local deserto e de pouca iluminação. A empresária estava morta no banco traseiro, estrangulada com o cadarço do tênis, e o filho dormia sobre o seu corpo.



Mais tarde, o assassino disse que abordou a empresária quando ela estava dentro do carro, brincando com o filho de 1 ano e quatro meses. Antes de abandonar o veículo com a vítima dentro, ele pôs a criança no colo da mãe, já morta, fechou o carro, acionou o alarme e foi embora. O maníaco contou à polícia que a empresária implorou diversas vezes para que a vida dela e a do filho fossem poupadas.



Os familiares da vítima ainda choram quando lembram a morte trágica de Ana Carolina.
"Minha irmã estava com o filho de um ano e foi atacada na frente dele. Até hoje não conseguimos nos recuperar. Ele tirou a vida de uma pessoa querida, de uma mãe e nós nunca vamos esquecer isso" – lamentam.

Setembro de 2009
Maria Helena Lopes Aguilar – 3ª. Vítima
Dia 16 de setembro

A comerciante Maria Helena Lopes Aguilar, de 48 anos, foi encontrada morta, estrangulada, dentro do próprio carro, numa área de vários motéis, na Região Noroeste de Belo Horizonte. A comerciante saiu para trabalhar e nunca mais foi vista. A família esperou por sua volta depois do trabalho e sem notícias, nem contato com a comerciante procurou a Delegacia de Desaparecidos para registrar o desaparecimento. A empresa responsável pelo rastreamento do veículo de Maria Helena foi acionada na manhã seguinte ao sumiço. O carro foi localizado. O filho da vítima, Leonardo Lopes, conta que ele e o irmão foram atrás do carro e encontraram a mãe morta antes mesmo da polícia chegar. Leonardo disse que nunca vai esquecer a cena do crime e chora ao dizer que se a polícia pudesse usar a identificação genética talvez a mãe ainda estivesse viva, pois o criminoso teria sido preso antes de cometer outro crime. Segundo a polícia, a vítima foi estrangulada com o cinto de segurança do banco de trás do veículo.

Outubro de 2009
Natália Cristina de Almeida Paiva - 4a. Vítima






A estudante Natália Cristina de Almeida Paiva, de 27, foi morta em 7 de outubro. Maria Aparecida de Paiva viu a filha pela última vez quando ela saía de casa, para ir à PUC, onde cursava o primeiro ano de Direito. Natália nunca chegou à faculdade. Mãe de uma menina de 3 anos e um menino de 9, morava com a mãe. Um dia depois do sumiço, a polícia localizou o carro da jovem nas imediações de uma delegacia, na mesma região. Os parentes desabaram. O veículo estava fechado, com marcas de batida e com os pertences de Natália dentro. Na época, a família ficou dias sem dormir, nem comer, desesperada à procura de pistas do paradeiro da moça. O corpo só foi encontrado 22 dias após o desaparecimento. A ossada da moça da foi enterrada como indigente. Somente muito tempo depois, a família conseguiu reconhecer os restos mortais de Natalia.

“Minha filha ficou esquecida no IML por três meses e depois foi enterrada como indigente. É revoltante o descaso com o sofrimento da gente, de tudo que nós passamos desde o ano passado quando ela desapareceu. A gente procurava todo dia, todo dia a gente ligava para o IML e para a Delegacia de Desaparecidos e nada. Agora, ela aparece assim, depois de tudo isso. Só Deus para me dar forças nesse momento”.

“descaso pela dor da família”. “Nós tínhamos até telefones pessoais de quatro funcionários do IML. Todos os dias a gente ligava para ver se tinha alguma coisa. A resposta era sempre a mesma: nada. Agora, ficamos sabendo que o corpo da Natália estava lá, abandonado, e o pior, foi enterrada como uma indigente”, desabafou Natiele Aparecida de Almeida Paiva, 17 anos, irmã mais nova de Natália na época em que o corpo foi identificado.

“Na manhã daquele dia (7 de outubro de 2009), eu e a Natália levantamos cedo e tomados café. Ela estava muito feliz, pois morava em São Paulo e tinha se mudado para cá há quatro meses. Seria seu primeiro dia de trabalho. Foi a última vez que conversei com ela”, disse Natiele, sem segurar o choro. A auxiliar de enfermagem Naiara de Almeida Paiva, 23 anos, disse que sua irmã, Natália, tinha sonho de estudar Direito e ser juíza.

“Ela dizia que queria lutar por mais justiça nesse mundo. Agora, acontece uma coisa assim com minha. Durante todo esse tempo, a gente tinha uma ponta de esperança que ela fosse aparecer, e ,agora, recebemos a notícia da pior forma. É muita falta de respeito com a gente”, resumiu.

Edna Cordeiro de Oliveira Freitas - 5a. Vítima




Edna Cordeiro de Oliveira Freitas, 35 anos, contadora, saiu da faculdade onde trabalhava, no bairro Floresta, indo buscar a filha de 15 anos na casa de uma amiga, a três quarteirões de sua casa. Antes, a contadora ia passar na Escola Municipal Nossa Senhor Aparecida, na rua Uruguai, para pegar um documento com um colega de trabalho. Edna telefonou para ele às 19h40min, dizendo que já estava quase na porta da escola, pedindo que ele a esperasse no portão, mas não apareceu. Seu carro foi encontrado no mesmo dia, com a chave na ignição, porém, seu corpo foi encontrado no dia seguinte, numa estrada de acesso ao Condomínio Retiro das Pedras, em Nova Lima, usando uma aliança com seu nome e estrangulada com um cabide de arame revestido com material plástico que Edna usava no carro para pendurar um blazer. Como mantinha as unhas grandes e bem cuidadas, a perícia encontrou pedaços de carne e pele debaixo delas. Por conhecer o temperamento de Edna, a família na época chegou a pedir que divulgassem que o assassino possivelmente estaria ferido, mas não deram atenção. Constataram que Edna foi violentada quando estava desmaiada ou morta.







Em todos os casos, os celulares das vítimas foram levados, deixando objetos de maior valor.

A Polícia Civil também encaminhou à Justiça da Comarca de Ibirité, no dia 20 de janeiro, o inquérito policial que investigou a morte da filha de Marcos Antunes Trigueiro. A menina, de três meses, foi espancada até a morte, em fevereiro de 2005.

“Não tenho a menor dúvida de que ele é um psicopata grave”, diz a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa, autora do livro Mentes perigosas – O psicopata mora ao lado. “O psicopata é desprovido de qualquer sentimento por outro ser humano.” Mas sabe exatamente o que está fazendo, segundo Ana Beatriz: “São pessoas que nascem com razão, mas sem sentimento, com um transtorno de personalidade”.

Laudos do Instituto de Criminalística que comprovam que dois celulares que tinham sido queimados e estavam enterrados na casa do maníaco eram mesmo de duas das vítimas dele: Natália Cristina de Almeida Paiva, de 27, e Edna Cordeiro de Oliveira Freitas, de 35.



CONDENAÇÃO

Em 30 de junho de 2010, ele foi condenado a 34 anos e quatro meses de prisão por homicídio, estupro, furto e exposição de incapaz ao perigo no julgamento da morte de Ana Carolina Menezes Assunção.



Já em 30 de setembro de 2010, Trigueiro foi condenado a 28 anos de prisão em regime fechado pela morte e estupro da empresária Maria Helena Lopes Aguiar, de 48 anos, e furto.


Em 11 de setembro de 2012, a Justiça condenou Trigueiro a 36 anos e nove meses, em regime inicialmente fechado, pelos crimes de homicídio triplamente qualificado, estupro e furto a Edna Cordeiro de Oliveira Freitas, de 35 anos. 


Em 11 de novembro de 2014 foi condenado pela morte de Natália Cristiana Almeida de Paiva, de 27 anos, em fevereiro de 2009.Acusado de homicídio qualificado, estupro e furto. Segundo a Justiça mineira, a pena é de 31 anos, oito meses e dez dias de prisão. Desta vez, ele foi julgado no Fórum de Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana de Belo Horizonte,


Trigueiro também é acusado de estuprar e matar Adna Feitor Porto, de 34 anos, em janeiro de 2009, mas ainda não há data para esse julgamento.


Entrevista com Rose Paula Teixeira Câmara, esposa de Marcos
publicado em 05/03/2010 pelo noticias.r7



"Também perdi a minha família. A dor que sinto é tão grande quanto a que as famílias dessas mulheres estão sentindo."
Este foi o desabafo feito ao Hoje em Dia pela vendedora e manicure Rose Paula Teixeira Câmara, de 27 anos, mulher do pintor Marcos Antunes Trigueiro, de 31 anos, acusado de ser o “Maníaco do Industrial”, ao falar sobre o envolvimento do marido em pelo menos cinco homicídios de mulheres na Região Metropolitana de BH.

Ainda usando a aliança de casamento, Rose afirma que vai pedir o divórcio a Marcos, com quem tem uma filha de um ano e oito meses, mas ainda não sabe quando.

Os dois se conheceram em outubro de 2005 e três anos depois, quando ele saiu da prisão ao cumprir pena por furto, se casaram. A filha deles nasceu no mesmo dia em que foram morar juntos.

"Assistiu o parto, segurou a minha mão. Ele é um marido e um pai amoroso", afirma.

A esperança, segundo Rose, era de que Marcos tivesse se arrependido e mudado de vida. A vendedora garante que não sabia dos crimes atribuídos ao pintor. Porém, quando a estudante de Direito Natália Cristina de Almeida Paiva, 27 anos, desapareceu em outubro do ano passado, chegou a perguntar ao marido se ele teria algo a ver com o caso.

"Negou, falou que eu estava ficando louca. Mas senti alguma coisa me incomodando. Não sei explicar isso", diz. Agora, ela planeja voltar a trabalhar, estudar e se formar em Direito.

"Queria ser jornalista, mas vou chegar a ser é delegada de polícia", planeja.



Confira a íntegra da entrevista abaixo:

Como você e Marcos se conheceram?

Tinha acabado de descer do ônibus, chegando do serviço, indo para a casa da minha mãe. Chovia e ele me ofereceu carona no guarda-chuva (risos). Depois, me convidou para ir ao cinema. Não rolou nada de cara. Estava grávida de dois meses, de um cara que me abandonou, disse que o filho não era dele. Estava passando por momentos tão difíceis, e ele me encantou por ser legal, romântico. Uma vez, ele disse que iria me dar um presente, e uma colega minha disse para ele que teria que me dar um berço, pois eu estava grávida. Ele disse que não tinha problema, que assumia meu filho. Marquinhos (Marcos Trigueiro) registrou meu filho no nome dele.

E como é o Marcos?

Romântico, carinhoso, muito presente em minha vida, me elogiava, não gostava que eu andasse desarrumada. Me ajudava muito a fazer as coisas dentro de casa, até comida fazia. Às vezes, chegava em casa e ele tinha lavado a roupa. Ficava nervosa com ele, dizia que não precisava lavar porque ele não sabia. É uma pessoa fechada, mas minha família gostava dele. Gosta de assistir filmes de terror. Eu era muito ciumenta, porque muitas mulheres ficavam de cima dele. Chegamos a brigar algumas vezes, e eu até avançava nele. Ele nunca encostou a mão em mim e me dizia para não bater na cara dele. Ao contrário do que as pessoas falaram, Marcos não era evangélico. De novembro para cá, ele mudou muito. Ficava mais em casa, pediu para orar com ele, assistia programas evangélicos. Passamos um Natal tranquilo, o Reveillon na igreja. Ele ia na igreja quando eu pedia.

Como o Marcos se comportava quando lia, via ou ouvia alguma coisa na imprensa sobre as mortes dessas mulheres?

Ele sempre ficou normal, nunca deu alguma pista para que desconfiasse dele. Por fim, já não estava mais assistindo jornal e dizia que queria assistir programa evangélico. Quando ele colocava nesses programas, eu virava de lado, fingia que estava dormindo. Se ele voltava para o jornal, me virava para ver. Ele até brincava: “É, você gosta é de jornal, né?”. Quando não dava para ver, eu comprava o jornal na rua para saber desses casos. Acompanhei essa menina Natália, quando a ossada dela foi encontrada. Nunca pensei que ele tivesse matado ela. 

E você, como lidava com essas informações, sem saber que o Marcos estava envolvido?

Fazia unha e as clientes comentando sobre o maníaco. Imaginavam um cara feio, e eu nunca pensei que meu marido, um homem bonito, estivesse envolvido nisso. Mesmo ele tendo confessado, ter provas contra ele, DNA, às vezes meu consciente não acredita que ele fez isso. A dor é muito forte. Como uma pessoa que me tratava tão bem pode ter feito tão mal a essas mulheres? É isso que quero que ele responda. Por que fez isso? Sonho à noite com as famílias dessas mulheres. Também perdi a minha família.

Você sabia como o Marcos conseguiu os celulares das vítimas?

Ele dizia que tinha recebido como parte de pagamento de serviço feito por ele como pintor. Mas não era nas datas dos crimes, era um tempo depois. Vendi dois por sugestão dele mesmo, para conseguirmos um dinheiro. Não desconfiei de nada. Os celulares estavam sem números na memória, sem nome, nem nada, sem mensagens, totalmente limpo.

Marcos realmente tentou se matar na cadeia?

Fiquei sabendo pelo advogado que falou que ele também tinha ficado sabendo disso, antes de sair a reportagem no jornal. Pedi a ele que perguntasse ao Marquinhos se isso era verdade, mas ele ficou calado, em silêncio, não respondeu a pergunta. No dia em que o delegado fez a acareação com ele (antes dela sair da prisão, na última segunda-feira), vi ele de uma forma que nunca tinha visto, maltratado, muito sujo, triste. Ele chorou, me pediu perdão. Pedi a ele que não fizesse nada de errado.

Vai visitar o Marcos na prisão?

(Silêncio) Ainda não estou com a cabeça boa, estou magoada. Não quero vê-lo, mas também não vou me opor se algum parente quiser levar meus filhos para vê-lo.

Você ainda o ama?

O amor não acaba de uma hora para outra, mas não sei se vai dar para ficarmos juntos. Estou magoada. A minha cabeça não está boa mesmo. Sei que ele me ama do jeito dele. Se não me amasse, eu não estaria aqui, estaria morta. Se ele fez o que fez, poderia ter feito comigo também. Depois de ser preso, pediu ao advogado que se preocupasse comigo.

Você tem recebido o apoio da sua família?

De todos. Até pessoas conhecidas minhas têm me apoiado. Outro dia um cara que arrumou um emprego uma vez para mim me deu R$ 50, mesmo eu dizendo que não estava precisando. Me perguntam se preciso de alguma coisa, de dinheiro. Uma prima, pra me ajudar, pediu que fizesse a unha dela. Cobrei R$ 10, é um dinheiro honesto que ajuda a comprar leite, fraldas. 

Tem medo de alguma coisa?

Tenho medo de que, com toda essa repercussão, perca minha mãe. Ela tem pressão alta e teve que ir para o hospital no dia em que fui presa. Já não tenho pai e, se ela morrer, aí vou perder de vez meu chão. Minha mãe e meus irmãos não têm nada a ver com isso. Mas estão (a opinião pública) julgando a gente.

E como estão seus filhos?

(Chora) A minha filha chora e chama pelo pai o tempo todo. Minha mãe escondeu os jornais, mas ela viu uma foto dele no jornal e começou a falar “Papai, papai”. Ele é louco pelos meus filhos. Vivemos momentos muito felizes juntos. 

Você perdoa o Marcos?

(Pausa) Olha, se eu não perdoar o inimigo, Deus nunca vai me perdoar.










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