“Minha intenção não era manter relações sexuais. Inventava uma desculpa, tipo: ‘Vou sair do carro para urinar’. Em seguida, retornava e arrancava as pessoas de dentro do carro pelos cabelos e batia com a tranca. Algumas vezes, usei também uma faca que eu carregava no carro para minha segurança”
A cinco dias de se tornar impune pelos crimes que cometeu em Rio Preto entre os anos de 1987 e 1993, Paulo José Lisboa, 39 anos, conhecido como “Maníaco da corrente”, foi preso no último dia 15 em Vitória, no Espirito Santo (ES). Considerado pela polícia rio-pretense um matador em série, Lisboa estava foragido há 10 anos do Hospital de Custódia e Tratamento de Franco da Rocha, para onde foi encaminhado após ser condenado a cumprir 14 anos e 6 meses de prisão pelo assassinato de cinco pessoas e tentativa de homicídio contra outra seis. O mandado de prisão contra ele, expedido após sua fuga pela 4ª Vara Execução Criminal do Fórum da Barra Funda de São Paulo, era válido até a última sexta-feira, dia 19. Lisboa havia cumprido apenas cinco anos de sua pena quando fugiu do Hospital para Guarapari (ES). Naquela cidade, ele viveu até 2007, ano em que se envolveu em uma confusão num bar e foi acusado de tentar matar um homem. Com o objetivo de se esconder da polícia capixaba, o maníaco então se mudou para Vitória e lá trabalhava como vendedor de uma loja de móveis.
O foragido foi preso em seu trabalho pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), numa operação montada pelo Departamento de Polícia Judiciária (DPJ) de Vitória. Segundo o delegado-chefe Gilson Lopes, essa foi uma estratégia para evitar uma tentativa de fuga em local de grande movimentação de pessoas, pois Lisboa jamais suspeitaria que seria preso dentro da loja por policiais rodoviários. Levado para a sede do DPJ, o maníaco falou com a imprensa capixaba e demonstrou bastante frieza, de acordo com Lopes. “Tenho 32 anos de polícia e não me choco com qualquer coisa, mas ele é um psicopata. Confessou tudo friamente, com riqueza de detalhes.Apesar de ter afirmado estar arrependido”, disse.
O maníaco tinha como alvo travestis e mulheres. Os homens eram agredidos com facadas e as garotas, com uma trava de carro (usada para travar o volante). Conforme a polícia, Lisboa disse que eram vítimas fáceis de serem abordadas. Os crimes sempre ocorriam nos finais de ano e Carnaval, datas em que a primeira mulher do maníaco sempre viajava para São Paulo, na casa do pai. “Foi um desafio a prisão dele. Desde sua fuga, em 1998, estamos o rastreando por todo País. A mudança de sua família para Espírito Santo foi determinante para este trabalho. No início deste ano tivemos a informação de que ele estaria em Guarapari e acionamos o DPJ de Vitória. Em contato com o doutor Gilson soubemos então que ele também era procurado pela polícia de lá”, afirmou o delegado assistente do Departamento de Polícia Judiciária do Interior (Deinter-5), Guerino Solfa Neto.
Tipo galã, Lisboa foi sinônimo de terror
Quando os policiais da Delegacia de Investigações Gerais de Rio Preto (DIG) apresentaram Paulo José Lisboa à imprensa, no dia 15 de março de 1993, ninguém poderia supor que o rapaz com pinta de galã, bem vestido com camiseta de grife, fala mansa e ares de bom-menino aterrorizou Rio Preto por seis anos. Os crimes acontecerem entre dezembro de 1987 e março de 1993. O “maníaco da corrente” tinha como alvo travestis e mulheres, prostitutas ou não, dispostas a fazer programa. Por seis anos a Polícia Civil de Rio Preto procurou por Paulo Lisboa, antes de sua condenação. O modus operandi do primeiro serial killer da região era sair de carro - um Fusca amarelo em seus primeiros crimes e depois o Voyage do pai nos últimos - e convidar travestis e mulheres para fazer programas. Mas os programas nunca se concretizaram, pois Paulo apreentava uma desculpa para voltar ao carro e pegar uma trava com corrente, com a qual agredia quem o acompanhava.
As investigações para a captura de Paulo se intensificaram no começo de 1993, quando os sobreviventes dos ataques relatavam como eram atraídas por ele. Entre janeiro e março de 1993, a polícia anotou placas de carros cujos motoristas paravam para abordar mulheres e travestis no centro da cidade e checou a identidade de centenas de homens. Paulo passou por uma destas checagens. Como usava o carro do pai na época não foi investigado mais a fundo. Até que um dos vizinhos disse à policia que Paulo usava o Voyage muito mais do que o pai.
Ao ser preso, em 13 de março de 1993, Paulo surpreendeu até os policiais com a riqueza de detalhes dos crimes. Na época, afirmou que não sabia porque cometia os crimes. “Eu saía de casa sem essa intenção. Mas ao encontrar uma mulher eu oferecia carona, e dentro do carro era impulsionado por uma força estranha”, disse à reportagem do Diário. Lisboa está preso no Centro de Detenção Provosória (CDP) de Viana (ES) e não deve ser recambiado para São Paulo enquanto não for julgado pela Justiça do Espírito Santo.
CRIMES
5 de dezembro de 1987
tentativa de homicídio
A primeira vítima foi uma mulher de 31 anos, que foi abordada quando andava sozinha pelo centro de São José do Rio Preto, São Paulo.
Foi levada para um local deserto, na estrada da Matinha, zona rural, e espancada com uma trava de carro. Ela ficou com marcas de corrente pelo corpo e ficou três dias em coma, mas sobreviveu.
25 de dezembro de 1987
assassinato
Um dos crimes que mais chocou a cidade de São José do Rio Preto foi o assassinato de uma adolescente de 16 anos, em Jardim Tarraf II. Ela foi morta no Natal, por volta da 1 hora.
Para matá-la, ele usou sua trava e a espancou até a morte, dando correntadas. Ela também foi atraída para dentro do carro do maníaco, imaginando que iria fazer um programa.
27 de janeiro de 1988
Tentativa de homicídio
Uma jovem com 22 anos foi agredida pelo maníaco da corrente durante a madrugada. Foi levada para Jardim Tarraf II, onde foi espancada até desmaiar.
Depois de lutar na tentativa de escapar, caiu no chão e o agressor foi embora. Ela ficou com muitas seqüelas, inclusive, usando cadeiras de rodas, segundo a polícia.
27 de março de 1988
assassinato
Um travesti de 33 anos estava fazendo programa no centro da cidade, quando percebeu que um homem parou um Voyage. Ele entrou no carro, sem saber que era um maníaco, e foi levado para Dom Lafayette, que na época estava começando a se transformar em um loteamento. Lá, ele foi puxado pelas costas e morto com várias facadas. O maníaco foi para casa dormir.
7 de abril de 1988
tentativa de homicídio
Uma mulher de 28 anos foi espancada e ficou internada. As pancadas foram tão fortes que ela teve os ossos quebrados e ficou com o rosto totalmente deformado com marcas da corrente usada no espancamento. O ataque também foi em Jardim Tarraf II. Esse era um dos locais preferidos do maníaco, já que o loteamento fica num ponto alto da cidade e ele tinha uma visão privilegiada.
1988 (dia e mês não informados)
assassinato
Um travesti foi morto a facadas depois de ter sua roupa rasgada enquanto tentava escapar das garras do maníaco. Esse crime foi no loteamento Dom Lafayette, às 4h30, e o corpo só foi encontrado pela manhã, aumentando o pânico na cidade.
1992 (dia e mês não informados)
tentativa de homicídio
Embora a polícia não tenha informado a data, há relatos de que o maníaco atacou uma mulher durante o Carnaval. Ela foi abordada após a saída de um baile onde ele se divertiu e tomou cerveja.
21 de fevereiro de 1993
tentativa de assassinato
Imaginando que faria um programa, uma jovem de 21 anos, que foi levada pelo maníaco para a estrada da Matinha, em Jardim Tarraf II, e agredida durante a madrugada. Em depoimento à polícia, ele disse que ela era “pretinha” e entrou no seu carro. No local, ele disse que iria urinar, abriu a porta e pegou a trava que estava no banco de trás do carro e a arrastou pelos cabelos e a agrediu.
22 de fevereiro de 1993
homicídio
Após o baile de Carnaval, o maníaco levou sua família para casa e saiu dizendo que iria rodar de carro. Encontrou uma mulher, “branquinha”, como declarou à polícia. Ele a agarrou e a empurrou para fora do carro, puxando-a pela sua blusa. Depois de bater na vítima, a deixou caída no chão.
24 de março de 1993
tentativa de homicídio
Sua última vítima foi uma mulher de 39 anos. Ela foi agredida, desmaiou e parou no hospital, mas sobreviveu. Mesmo delirando devido à febre, ela contou aos policiais que viu um adesivo no carro do maníaco e era de uma empresa onde o pai dele trabalhava. Foi aí que tudo foi descoberto.
Obs: Ele é acusado de outro homicídio, mas a polícia de São Paulo não passou detalhes, pois o processo estava arquivado em outro setor.
Fonte:
Diretoria do Departamento de Polícia
Judiciária do Interior-5 (Deinter-5), em São José do Rio Preto e delegado Gilson Lopes, do Departamento de Polícia
Judiciária (DPJ) de Vitória.
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