A manchete estampada nas capas dos principais jornais de Itu e Região naqueles primeiros dias de junho de 1984 deixaram a cidade perplexa: “Monstro violenta e mata criança” .
A notícia era o desfecho sangrento do misterioso desaparecimento da garotinha Silvia Aparecida do Espírito Santo, de apenas 9 anos.
Ela morava no número 800 de uma casa alugada na rua Santa Cruz. Estudava na escola Cesário Mota, das 13h as 17h.
Em uma terça feira do dia 29 de maio de 1984, Silvia saiu de casa por volta das 11h30 para ir à escola. Por volta das 17h30 a mãe da menina ficou preocupada com a demora dela. Ela não costumava se atrasar, mas até aquele momento não havia retornado para casa.
A mãe foi até a escola. Ficou surpresa e assustada com a notícia: Silvia não havia entrado na aula naquele dia. No anterior também, não, embora tivesse saído de casa nos dois dias com destino à escola.
Preocupados, os pais da menina passaram a procurá-la em todos os lugares possíveis. Hospitais, delegacias e casas de conhecidos foram percorridos. Nenhum resultado. Ninguém sabia do paradeiro de Silvia.
O desespero tomou conta da família da menina enquanto seu desaparecimento tornava-se notícia na cidade.
Na sexta feira, dia 1 de junho, surgiu a primeira pista do desaparecimento dela. Não era nada boa. A bolsa escolar da menina havia sido encontrada em um matagal da estrada Jurumirim. Estava danificada, como se tivesse sido arrancada com violência de suas mãos.
Já esperando pelo pior, a polícia passou a concentrar todas as buscas naquela região. Dezenas de quilômetros foram percorridos a pé, de carro e a cavalo. Mas, nenhuma outra pista que pudesse ajudar na localização da menina fora encontrada.
No domingo, dia 3, Roberto Peixoto, proprietário da chácara São José, localizada na estrada Jurumirim, aproveitou um momento de folga e pediu para dois de seus funcionários, Ivone Batista Tardioli e José Batista Silva, que vasculhassem o matagal das proximidades, na tentativa de localizar a menina.
Durante mais de uma hora, os dois lavradores vasculharam o matagal, mas não encontraram nada. Resolveram então procurar no mato do outro lado da estrada. Estavam a 80 metros da cerca, em um local de difícil acesso quando se deparam com a cena macabra e aterradora:
O corpinho semi-nu de Silvia estava estendido no meio do mato. Seu pequeno vestido, preso no meio do corpo, levantado pra cima e cobrindo parcialmente seu rostinho. Sua calcinha e sandálias estavam a dois metros de distancia do corpo. Mais adiante havia um para de luvas de borracha e uma lata de vaselina pela metade. Os dois homens foram tomados pelo horror ao se aproximarem e verem o rosto de Silvia. Estava desfigurado de tantos hematomas, que cobriam até sua cabeça. A menina havia sido agredida com violentos socos na cabeça, o que ocasionaram lesões no crânio encefálico, provocando sua morte, segundo o relatório do legista comprovaria mais tarde. A autópsia revelaria de imediato que, além do espancamento, Silvia havia sido estuprada das formas mais sádicas e perversas.
A garotinha Silvia Aparecida do Espírito Santo. Violentada e espancada até a morte
Silvia Aparecida do Espírito Santo
Mas o fato mais sinistro, era que Silvia havia morrido a apenas 48 horas antes de ser encontrada. As autoridades, a imprensa e a população passaram a acreditar por algum tempo que a menina havia sido mantida em cárcere antes de ser morta. Mas isso nunca aconteceu. O assassino não tinha recursos pra isso, e também não era seu estilo. Silvia foi violentada e espancada no mesmo dia em que desapareceu. Depois de agredir a menina com vários socos na cabeça o maníaco foi embora tranqüilamente do local, acreditando que ela estava morta. Não estava. Viva, porém agonizando de dor, Silvia entrou em coma. Durante três dias permaneceu viva no meio do espesso matagal. Foi picada por inúmeros insetos e ferida por outros animais do local. Durante a noite seu corpo foi castigado pelo frio intenso daquele mês de junho, e durante o dia, o sol escaldante queimou tanto seu corpo, que acabou derretendo a pele de sua barriga. Sem suportar os ferimentos, Silvia morreu sozinha naquele matagal, dois dias antes de ser encontrada.
A Polícia Civil de Itu, principalmente o investigadores Dimas de Cavalli e Henrique Lago Netto, juntamente com o delegado Cirineu Alves de Lima e o escrivão Vital, trabalharam intensamente no caso.
Prender o maníaco tornou-se a prioridade da policia da época. Mas, o que as autoridades ituanas não sabiam, é que nunca iriam prendê-lo.
Exatamente quatro meses após a morte de Silvia, outra garotinha foi brutalmente assassinada em Itu. Foi só naquele momento que a polícia compreendeu que poderia estar lidando com um Serial Killer.
Mas... já era tarde demais.
“a menina dos pãezinhos”
Três meses e três semanas depois ele voltou a atacar. A nova vítima tinha o mesmo padrão da anterior. Menina branca, entre 9 e 10 anos de idade, que andava sozinha pelas ruas. Exatamente como ele gostava.
Muita gente ainda se lembra dela. Seu nome era Izabel Bezerra da Silva, mas era mais conhecida como “a menina dos pãezinhos”. Tinha 10 anos de idade. Morava no número 219 da antiga rua 6 do bairro São Luiz, junto com o pai, a mãe e mais três irmãos mais novos. Desde que o pai, um pedreiro, ficara desempregado, a mãe de Izabel passara a fazer pães caseiros e mandava ela sair vendê-los pelas ruas do bairro.
A garotinha estudava na escola Rogério Lázaro, a poucos metros de sua casa, no período da tarde. Após às 16h30 a menina pegava uma cesta de bambu cheia de pães e perambulava até altas horas da noite, na tentativa de vendê-los.
Inconformada com a situação em que viviam, a menina, que era muito magrinha, aparentando desnutrição, sempre dizia que um dia “ainda ficaria rica”e com isso iria tirar a família daquela situação precária.
No entanto, o destino reservava outros planos para ela. Sábado, dia 15 de setembro de 1984. O assassino serial que rondava Itu havia voltado. Depois de matar Silvia ele tinha “dado um tempo” fora da cidade, mas não ficou longe muito tempo. Tentou se controlar, mas não conseguiu. Anos depois, ele iria dizer que gostava das crianças de um jeito diferente. Gostava de vê-las aterrorizada, gritando por socorro, enquanto eram estupradas. Gostava de bater no rosto delas até quebrar os dentes. O terror de suas vítimas o excitava. Ele gostava disso.
Nunca atacava ninguém por acaso. Premeditava seus crimes com antecedência. Sabia tudo sobre elas.
Izabel já estava sendo observada há algum tempo pelo monstro. Ele sabia seu nome, endereço, local em que estudava e até que horas ficava na rua.
No dia 14 de setembro daquele ano, ele passou uma tarde com Izabel. Com o pretexto de comprar alguns pãezinhos, ganhou a confiança da menina. Conversou muito tempo com ela, e ficou sabendo tudo a seu respeito.
A garotinha Izabel Bezerra da Silva, estuprada e morta aos 10 anos de idade
Marcou de se encontrar com ela no dia seguinte para comprar vários pães. Inocente, Izabel acreditou. Ela não sabia, mas estava marcando um encontro com a morte. Quando chegou em casa contando que havia conhecido um homem bonzinho, que inclusive lhe dera algumas moedas e iria comprar vários pães no dia seguinte, os pais da menina desconfiaram. Proibiram que fosse visitar o misterioso cliente.
No sábado, 15 de setembro, Izabel trabalhou muito. Apesar de ser apenas uma criança tinha uma enorme responsabilidade nas costas, já que ajudava a sustentar a casa com aquele trabalho diário.
Durante todo aquele dia ela esteve várias vezes em um bar localizado perto de sua casa, oferecendo seus pães. Era um dia aparentemente comum. O movimento estava bom. Vendeu vários pães, tanto é que por volta das 18 horas entrou em casa com a cesta vazia. Entregou o dinheiro das vendas aos pais, pegou mais três pães e pouco antes de sair novamente, disse rindo: “eu ainda vou ficar rica”.
Izabel estava errada. Seu destino estava nas mãos de um monstro.
Por volta das 20 horas, várias pessoas viram “a menina dos pãezinhos” com sua cestinha de bambu, indo em direção à fazenda Campo Neto. Ela estava em companhia de um elemento barbudo, desconhecido na cidade. Menos de quatro meses atrás, um indivíduo com essa descrição fora visto com a garotinha Silvia, na ocasião de seu desaparecimento.
Naquela noite, Izabel não voltou pra casa. Ela estava sozinha no meio de um matagal com um assassino sanguinário que iria estuprá-la e matá-la.
Depois de atrair a menina com sua boa conversa, o assassino revelou sua verdadeira face e partiu violentamente pra cima da criança indefesa. Para que Izabel não gritasse o maníaco arrancou a toalha de pano que cobria os pães e enfiou trinta centímetros dela dentro da boca dela. Os gritos foram abafados e o assassino pode violentá-la de todas as formas que quis, enquanto enchia seu corpo de “dentadas”. Depois de satisfazer seus impulsos doentios ele pegou o restante da tolha, enrolou no pescoço da menina e a matou estrangulada. Abandonando o corpo de Izabel no meio do mato, foi embora do local tranqüilamente. Estava na hora de dar mais um tempo fora de Itu. As coisas iriam ficar quentes com mais aquele assassinato. Era melhor procurar outras cidades. Havia várias na região, e todas estavam repletas de crianças.
O cadáver de Izabel foi encontrado no dia 18 de setembro, no pasto da fazenda Campo Neto, a menos de um quilômetro de sua casa.
Izabel Bezerra da Silva
Quanto ao assassino, ele continuaria matando por aí. Não iria parar. Em hipótese alguma. A menos que o pegassem, mas se dependesse dele, não seria tão cedo.
Um dia, anos mais tarde ele iria dizer : “Se a criança não se comportava eu matava no soco, mas se obedecia eu só estrangulava. Gosto de matar, gosto de ouvir os gritos delas”.
Provavelmente Silvia não havia se comportado e por isso foi morta com socos na cabeça. Já Izabel, talvez tenha obedecido, mas nem por isso teve destino melhor.
Com um ar sereno, acima de qualquer suspeita, uma boa conversa e uma aparência inofensiva, o serial killer que estava aterrorizando Itu, iria continuar sua onda de matança por toda região. Afinal, Silvia não foi sua primeira vítima e Izabel... estava longe de ser a última.
CHICO VIDRACEIRO, O MATADOR DE CRIANÇAS
1984 foi um ano macabro para Itu. Os horrendos assassinatos das garotinhas Silvia e Izabel haviam provocado um profundo mal-estar na cidade. O temor que o assassino serial que rondava Itu voltasse à atacar a qualquer momento, deixava todos inquietos. Uma constante insegurança pairava no ar.
Era evidente que o assassino ainda estava solto. Era óbvio que ele continuaria matando. Ele poderia ser qualquer um, mas a pergunta principal era: Quem?
Elucidar o caso parecia cada vez mais impossível. O maior problema não era a falta de suspeitos e sim o excesso.
Alguns dos principais suspeitos que a polícia interrogava tinha o perfil psicológico bastante parecido com o do assassino que estava matando crianças na cidade. Porém, outros não passavam de imbecis, que apenas tiveram atitudes erradas no momento errado e acabaram se tornando suspeitos de um crime que nunca cometeram.
Vários nomes acabaram entrando para a história da crônica policial de Itu, como eternos suspeitos de cometer os crimes. O padrasto da garotinha Silvia foi um deles. Trabalhava como limpador de piscinas e usava luvas de borrachas, parecidas com as encontradas perto do corpo da menina. Um borracheiro que trabalhava no bairro São Luiz foi outro suspeito. Tinha visíveis falhas nos dentes, que lembravam de maneira incômoda as marcas de dentadas, encontradas no corpo de Izabel. Pelo mesmo motivo, José Carlos Furquim, que também morava no São Luiz e tinha inclusive passagens na polícia por estupro, tornou-se um forte suspeito. Em 1990 Furquim, acabaria sendo linchado até a morte na cadeia, acusado desses crimes.
Mas, em meio a tanta histeria, pistas falsas, rumores e temores, havia um homem, que tinha tudo para ser o serial killer de Itu. Ele adorava ver crianças, principalmente mortas.
Foi logo após o assassinato de Silvia que a polícia de Itu soube da existência dele.
O investigadores Rocha, Henrique, Despontim e o delegado doutor Cirineu tomaram conhecimento de que um serial killer que estava matando várias crianças na cidade de Rio Claro (também no interior de São Paulo) acabava de ser preso naquela cidade. Os quatro policiais foram até lá, acompanhados pelo repórter policial Ailton Barby, que divulgou os crimes a exaustão, na intenção de ver os casos solucionados.
Não encontraram um monstro aterrador como esperavam. Muito pelo contrário, o “monstro de Rio Claro” como o assassino estava sendo chamado, era apenas um velhinho aparentemente frágil e pacato. Mas só aparentemente. Seu nome era Francisco de Marco, mais conhecido como CHICO VIDRACEIRO. Casado, 66 anos de idade e pai de três filhos.
Havia sido preso em Rio Claro poucos dias após a morte de Silvia.
Muitos anos antes, ele havia morado na cidade de Marilia, onde violentara e matara um menino e uma menina.
Acabou sendo preso, mas fugiu alguns anos depois, se refugiando na cidade de Ponte Nova, interior de Minas Gerais. Dois anos se passaram. Então, ele assassinou outra menina, desta vez em Ponte Nova. Foi descoberto novamente e preso pela polícia local.
Transferido para uma penitenciária de São Paulo, foi condenado a 50 anos de prisão. Um irmão que morava em Rio Claro passou a visitá-lo com uma certa freqüência enquanto estava na prisão.
Apesar de ser um monstro na rua, Francisco tinha bom comportamento na cadeia. Foi por causa desse comportamento que ele acabou sendo considerado um preso exemplar e “merecedor de confiança”. Mesmo tendo assassinado “oficialmente” (pode ser mais) três crianças, foi solto, beneficiado com a prisão albergue. Voltou para dormir na cadeia apenas alguns dias e sem qualquer aviso desapareceu. Estava em Rio Claro. E, já que estava livre novamente, iria aproveitar a liberdade para fazer o que mais lhe dava prazer... estuprar e matar crianças.
Francisco adorava perambular pelo Jardim Público de Rio Claro. Ficava excitado vendo os meninos pobres que engraxavam sapatos, andando de um lado para outro, com suas pesadas caixas de madeira nas costas.
No dia 22 de outubro de 1982, o maníaco fez sua primeira vítima naquela cidade.
Depois de estuprar, matou com crueldade um menino de 11 anos conhecido por Betinho, que trabalhava como engraxate. Dois lenhadores encontraram o cadáver do menino em um matagal, no dia 31 daquele mesmo mês.
Em março de 1983, o garotinho José Nogueira Neto, de apenas 9 anos desapareceu. Cinco meses depois encontraram sua ossada em uma estrada velha do bairro Santa Gertrudes. Mas, antes mesmo de seu corpo aparecer, a menina Maria Márcia de Carvalho, a “Marcinha” , também estava desaparecida. Sua ossada foi encontrada em novembro de 1983. Ela só tinha 11 anos.
A mãe a reconheceu pelas sandálias melissa, que sempre usava.
No dia 15 de maio de 1984, o garotinho Moacir, de 10 anos, sumiu por um dia. Foi encontrado no dia seguinte. Violentado e morto. Exatamente como as outras três vítimas de Rio Claro. Exatamente como Silvia em Itu.
Graças a uma operação realizada em conjunto com o delegado de Marília, Dorival de Freitas e o delegado de Rio Claro Oswaldo Galvão França Filho e toda sua equipe, o assassino foi descoberto e preso.
No barraco imundo em que Francisco vivia, estava guardado todos os pertences de suas vítimas, desde alguns objetos pessoais, até caixas de engraxate e todo o material que os meninos usavam para trabalhar.
Interrogado pela Polícia Civil de Itu, Francisco negou o assassinato de Silvia e garantiu nem mesmo conhecer Itu. Ele não estava mentindo, pois no dia 15 de setembro de 1984, enquanto Francisco estava trancafiado em sua cela em Rio Claro, o serial killer de Itu, estuprou e matou a garotinha de 10 anos, Izabel Bezerra da Silva.
A população de Rio Claro respirou aliviada quando Francisco de Marco foi condenado a 71 anos de prisão em regime integralmente fechado.
Mas, o que os habitantes daquela cidade nem sequer imaginavam naquele momento, é que muito em breve iria surgir um segundo monstro de Rio Claro. E, esse, além de ser muito mais sádico e perverso do que Francisco estaria relacionado de maneira sangrenta com as mortes das garotinhas... Silvia e Izabel. Esse assassino era LAERTE PATROCÍNIO ORPINELLI.
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