quarta-feira, 3 de junho de 2015

AUTÓPSIA PSICOLÓGICA






A autópsia psicológica é um procedimento utilizado em casos onde há dúvidas sobre as circunstâncias de uma morte, fazendo-se necessário uma reconstrução do perfil psicológico da vítima e seu estado mental antes do fato juridicamente questionado.

Podemos considerar um instrumento útil na medida em que ajuda a esclarecer até que ponto a vítima pode ter provocado as circunstâncias que resultaram em sua morte (suicídio, homicídio, acidente); diminuindo o risco de acusações injustas contra outras pessoas ou a própria pessoa morta. Por exemplo: alguém pode estar sendo acusado de ter matado um suicida, ou então, um caso aparente de suicídio ter sido na verdade um homicídio, ou até um suicídio induzido.

Tratando-se realmente de suicídio, a importância da autópsia psicológica pode estar na pesquisa de sintomas que o sinalizem, para que se possa a partir daí avaliar pessoas que corram o risco de se matar e agir preventivamente.

A autópsia psicológica é um processo indireto de exploração da personalidade e vida da pessoa falecida: vai se reconstruindo seus sentimentos, seus afetos, seus relacionamentos, suas dificuldades, seus conhecimentos, seu trabalho, além de histórias clínicas, processo judicial (se houver), escritos, gravações, notas suicidas ou cartas da vítima nos meses anteriores ao evento. No geral, seus antecedentes médicos, psicológicos, sociais e judiciais. A palavra utilizada, “indireto”, deve ser destacada: a análise é feita a partir do relato de outras pessoas (familiares e pessoas do convívio da vítima), o que dá margem a uma eterna dúvida quanto a veracidade das informações, já que a subjetividade da pessoa jamais poderá ser alcançada. A visão de outras pessoas pode ser diferente da que a própria pessoa tinha de si e do que vivia. Além de que, a memória humana é sujeita a muitas falhas, podendo inclusive ser influenciada pelas emoções do luto, por exemplo.

Por fim, uma outra crítica feita a este procedimento se refere à falta de um modelo sistemático de como realizá-lo. Se cada pessoa ou equipe o aplica de uma forma particular, isso interfere nos seus índices de validade. Entretanto, é importante lembrar que a autópsia psicológica resulta apenas em probabilidades; nunca poderá determinar com exatidão se a morte foi suicídio, homicídio ou acidente.

Considerando todos os argumentos levantados, podemos considerar a autópsia psicológica um instrumento útil, já que trata-se apenas de um elemento adicional, para auxiliar na elucidação do caso e não resultante em algo absoluto.

Apesar do alto grau de subjetividade que geralmente contamina esse tipo de análise, é possível avaliar, com boa margem de segurança, quais as intenções e o contexto psicológico de uma pessoa que se suicidou, fazendo assim sua autópsia psicológica. O objetivo é firmar sintomas que sejam determinantes de suicídio, com os quais um número satisfatório de analistas concordem, para que se possa a partir daí avaliar pessoas que corram o risco de se matar e prevenir o problema. A avaliação é importante porque o suicídio está entre as dez principais causas de morte entre pessoas de todas as idades em todo o mundo, embora tenha pouca atenção dos meios médicos e psicológicos. Essas são as propostas da tese de doutorado da psicóloga clínica Blanca Susana Guevara Werlang, defendida na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e divulgada pelo Jornal da Unicamp. A tese foi orientada por Neury José Botega, coordenador do Laboratório de Saúde Mental do Hospital Geral da Unicamp.

Blanca, que pertence ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, selecionou, entre 399 casos de suicídio na região metropolitana de Porto Alegre, 21 que atendiam a alguns critérios como a possibilidade de acesso a dois informantes sobre o caso, o consentimento formal destes informantes em participar da estudo e a coincidência entre os depoimentos deles e o que foi registrado nos laudos periciais. Os critérios para a autópsia psicológica foram estabelecidos com base em algumas estratégias como a avaliação da intenção da vítima em relação à sua própria morte (ponto principal), dos precipitadores ou estressores, da motivação e da letalidade (o grau de gravidade do gesto suicida). Com base nesses critérios, a pesquisadora acredita ser possível estabelecer com razoável grau de certeza os "aspectos psicológicos de uma morte específica", segundo ela declarou ao Jornal de Unicamp.

As entrevistas realizadas por Blanca com parentes das vítimas foram acompanhadas por uma observadora independente e depois submetidas a mais dois profissionais de saúde mental, que ela classificou na tese como "juízes", que também fizeram avaliações independentes. Foi constatado que a autópsia psicológica, uma técnica que surgiu nos Estados Unidos há cerca de 50 anos para utilização em julgamentos judiciais mas que ainda está imatura no Brasil, é aplicável e mantém um grau marcante de concordância entre os avaliadores. A autora sugere que seus critérios possam sustentar outras pesquisas com o objetivo de aprimorar programas de prevenção ao suicídio.

Fonte: 
www.prometeu.com.br
sanidadeinsana.blogspot.com.br


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