quarta-feira, 10 de junho de 2015

André Barboza "Monstro da Ceasa"




Andre Barbosa, esse é o nome do monstro da Ceasa, que estuprou e matou três crianças no período de dezembro de 2006 a março de 2007 na mata que fica próximo a Ceasa. Ele confessou ter assassinado as três crianças após procedimentos psicológicos usados pela policia civil. O celular dele, que foi encontrado na mata, foi peça fundamental para o desvelar do caso.


José Raimundo Oliveira, Adriano Martins e Ruan Sacramento foram as três vitimas do serial killer, as investigações para pega-lo já tinham 6 meses, participaram da investigação o delegado Fernando Flávio, os investigadores Rui Santos, Anderson Almeida, Afonso Rodrigues, Muniz e Clério; o perito Vamilton Albuquerque (Centro de Perícias Renato Chaves); e as especialistas em assassinos em série, Cyntia Amorim, Ilana Casoy e Adelaide Cairos, as duas de São Paulo.

Com a confissão, detalhes escabrosos - o assassino, que fora adotado quando tinha três meses, foi abusado sexualmente entre os seis e os sete anos; declarou-se fã de armas, guerras e de Adolf Hitler; conhecia e visitava para consolar as famílias das vítimas; foi aos três enterros e chorou sobre o caixão de um dos adolescentes; matava entre dezembro e março por ser mês de festas familiares, em que sentia inveja das crianças e adolescentes na companhia dos parentes; disse que ouvia 'vozes' enquanto cometia os crimes e que, depois, não encontrava explicação para os fatos, ainda que se reconhecesse como o responsável.

André Barbosa também afirmou que, durante a noite do dia de cada crime, ficava em desespero e que, quando via os noticiários sobre as mortes, não acreditava que ele tivesse cometido os crimes, apesar de se lembrar de todos.

Também explicou com quais golpes dominava as vítimas: 'triângulo', 'arm lock' e 'guilhotina' e um outro que aplicava pelas costas dos adolescentes, de nome 'mata-leão'. André contou ainda que todas as mortes foram causadas por estrangulamento, usando cordas de nylon. Ele disse que estrangulava quando os garotos já estavam desacordados e que agia sozinho em todos os crimes.

Os policiais também quiseram saber a razão pelo qual os assassinatos eram praticados entre dezembro e março. André disse que essa era a época em que via os filhos reunidos com as famílias, por causa de festas como o Natal e o Ano Novo. E, por ter sido adotado, ele não estava com os pais biológicos nessas datas especiais, e sim com os adotivos. Sobre a idade das vítimas que atacou, entre 11 e 15 anos, disse que não as escolhia pela idade, mas que o fazia de forma aleatória.

HISTÓRICO

Morador do mesmo bairro dos meninos e amigos deles, Andre Barbosa, 26, ex-militar do exercito, paulista, veio para Belém quando era criança, usou de seu treinamento militar para matar e violentar os garotos, ele se aproximava das vitimas para conquistar a confiança, oferecia dinheiro para eles com a justificativa de reparar a sua bicicleta enquanto ele iria pagar conta, então era quando ele levava os “xaropinhos’, como ele disse, para a mata.

Em seu ultimo ataque, mal sucedido, ele teria tropeçado em um tronco, foi quando o menino conseguiu fugir, e deixou também seu celular cair na mata, então assim não existiu um homem salvador. 19 números conseguiram ser rastreados dos celular, ajudando a policia a localização do suspeito.

Seus vizinhos declararam que ele era “um ótimo rapaz”...

André Barbosa contou aos policiais civis ter sido violentado sexualmente várias vezes quando tinha de seis para sete anos de idade, por um homem que se chamava 'Max'. Esse homem teria sido morto por causa de problemas com traficantes de drogas, no bairro do Guamá.

De acordo com André, 'Max' lhe dava linha e papagaios (pipas) para brincar. Ele contou que, toda vez que era violentado, 'Max' ameaçava matá-lo, caso contasse a história para alguém. André Barbosa revelou que conhecia os três adolescentes que matou. Ele confirmou que freqüentava a mesma 'lan house' à qual as crianças compareciam, na avenida José Bonifácio, de nome 'Fox' e que foi fechada depois das mortes das crianças. Também passou a freqüentar a 'lan house' de nome 'Big Boi', naquela mesma avenida.




VÍTIMAS

José Raimundo Oliveira, 14 anos




No dia 16 de dezembro de 2006, o adolescente de 14 anos, José Raimundo Oliveira, saiu da casa de sua mãe de criação dizendo que ia acessar a internet em uma lan house do bairro onde mora, no Guamá, e depois voltaria para casa. Não voltou nem para casa de sua mãe de criação e nem da mãe biológica, que chegou a ser hospitalizada duas vezes desde o sumiço do menino. 

Primeira vítima do matador da Ceasa, embora a última a ser identificada, José Raimundo de Oliveira, de 14 anos, desapareceu no dia 16 de dezembro de 2006. O corpo dele foi encontrado quatro dias depois, completamente nu, sem cabeça, sem órgão genital e em avançado estágio de decomposição. A necropsia realizada à época não foi capaz de descobrir a identidade e nem a causa da morte. Por isso, o jovem foi enterrado como indigente no cemitério do Tapanã. José Raimundo ainda constava dos arquivos da Polícia como ‘desaparecido’, quando, em março de 2007, em novas incursões às matas da Ceasa, a Polícia encontrou uma bermuda e chinelos que foram identificados positivamente pela família. A Polícia solicitou ao Centro de Perícias Científicas Renato Chaves que fossem feitos exames de DNA em amostras do cadáver. A confirmação de que se tratava de José Raimundo veio no segundo semestre.

Adriano Augusto Nogueira Martins, 14 anos



No dia 11 de janeiro de 2007, aproximadamente às 17h30min, foi encontrado o corpo de Adriano Augusto Nogueira Martins, um dia após seu desaparecimento, seminu e estrangulado por um corda de náilon. Adriano saiu da casa dos pais por volta das 14h do dia 10 de janeiro, para ir até à oficina eletrônica de seu tio Renato. Como este não estava lá, foi para a lan house, onde permaneceu das 14h às 18h, na avenida José Bonifácio, para participar de jogos de computador.

Ruan Valente Sacramento, 14 anos


No dia 22 de março de 2007, à tarde, foi encontrado o corpo de Ruan Valente Sacramento, 14 anos (completaria 15 anos no dia 22 de abril), desaparecido desde a manhã, após ter dito a sua irmã que ficaria brincando em frente de casa. Por volta das 8h30min, a garota não mais o viu e achou que ele tivesse ido à casa dos primos, que moram ali perto. Às 11h ele deveria retornar para ir à escola, mas não voltou.

As três vítimas estudavam na Escola Estadual Ruth Rosita, frequentavam a mesma lan house do bairro onde moravam e desapareceram nas mesmas circunstâncias – ao dizerem que iriam até a lan house acessar a internet. A polícia passou a desconfiar que o assassino tenha entrado em contato com as vítimas através da internet quando examinou as páginas que as vítimas mantinham no Orkut.

Apenas fevereiro de 2008, ao cometer um erro, o “Monstro da Ceasa” foi identificado: André Barboza, ex-militar, ao atacar o menor J. M., de 11 anos, após ter oferecido a este R$ 10 para que consertasse sua bicicleta (de André), enquanto fazia compra na Central de Abastecimento do Ceasa. Porém, escorregou na mata e a vítima conseguiu fugir. André perdeu o celular na mata e o garoto, que sofreu violência sexual, o reconheceu. Foi preso em sua casa, no bairro Guamá, e confessou.

A única vítima que sobreviveu ao ataque de André Barboza, um menino de 11 anos, confirmou, , durante a sessão de julgamento do acusado, que foi abusado sexualmente pelo acusado. 'Ele queria me matar. Só não conseguiu porque chegou uma pessoa na hora', disse o menor.

O adolescente foi a primeira testemunha a ser ouvida na sessão de julgamento. Ele foi ouvido na condição de informante e acompanhado de dois psicólogos. Por ser menor de idade, o juiz pediu que o acusado fosse recolhido a uma sala separada e não acompanhasse o depoimento dele. O juiz Edmar Pereira também pediu aos profissionais de imprensa que acompanhavam o julgamento, que desligassem seus equipamentos e não fizessem imagens do menor.

Segundo o menor, André Barbosa, ofereceu a quantia de R$ 10,00 para que ele vigiasse sua bicicleta enquanto ele ia ao banco retirar um dinheiro. O menor seguiu então com ele até as matas da Ceasa.

'Chegando lá ele me deixou com a bicicleta com a identidade e o celular dele e entrou na mata', disse o menor.

Ainda segundo a vítima, depois disso, o acusado passou a agredi-lo e mandou que ele entrasse na mata. 'Ele me deu socos e ponta-pés na cabeça e disse que se eu não fizesse o que ele estava mandando ia me matar', falou o menor.

O garoto disse ainda que desmaiou duas vezes durante o tempo em que estava na mata. Uma quando foi agredido. 'Me fingi de morto, não estava respirando', disse.

Quando acordou já havia sido abusado pelo acusado e viu que um homem que tentava roubar a bicicleta do acusado lutava com André.  Questionado sobre o objetivo do acusado ele declarou. 'Ele queria me matar, só não conseguiu porque o ladrão chegou', disse o menor.

Falando baixo e visivelmente abalado, o menor precisou de um tempo para se recuperar durante as perguntas da promotoria.

Após alguns segundos e depois de tomar um copo d'água ele contou como o acusado o levou para a mata.'Ele veio pegando na minha garganta e dizendo para eu não gritar e não reagir senão ia me matar'.

Todas as vítimas tinham o mesmo perfil. "Eram menores de 15 anos e filhos de pais separados", disse o delegado. Os corpos dos três meninos-dois de 14 anos e um de 11 - foram encontrados com as mesmas características: nus e com o short perto da cabeça, dando indícios de violência sexual.



PERFIL

Tido como rapaz exemplar pelos vizinhos, André era um dos cinco últimos suspeitos – dos 32 iniciais - sobre os quais a força-tarefa da Polícia paraense se debruçara após os assassinatos de José Raimundo Oliveira, Adriano Augusto Martins e Ruan Sacramento Valente, crimes ocorridio entre dezembro de 2006 e março de 2007. Segundo Ilana Casoy, a confirmação de que ele era o Monstro da Ceasa confirmou em grande parte o perfil delineado em abril de 2007 pelas pesquisadoras.

Ela afirma que, ainda naquela época, o perfil encontrado com base na reconstrução do comportamento do criminoso apontava para um serial killer organizado, que levava seu kit-crime para o local dos assassinatos, provavelmente com os nós das cordas já preparados. Ele procurava um local seguro, onde ninguém o visse e pudesse ouvir a vítima, cujo corpo era abandonado no local onde o crime fora cometido. A motivação dos crimes seria sexual e a vítima seria selecionada e estudada com antecedência. Embora o local do crime fosse distante do assassino, a casa de suas vítimas e a lan house que freqüentavam eram próximas dele.

O perfil demonstrava, porém, que, embora as vítimas parecessem relacionadas entre si, elas não necessariamente estariam para o criminoso. Naquela época, o perfil não considerava que André escolhesse as vítimas obrigatoriamente porque estudassem na mesma escola. As vítimas seriam dóceis e de baixo risco social, não-expostas a riscos iminentes tais como estão as crianças de rua, mas seriam facilmente convencidas por dinheiro. O serial killer atacaria sempre por trás e, se houvesse atos de violência sexual, eles seriam realizados após a morte dos garotos. O perfil também considerava provável que o assassino já tivesse sido vítima de violência sexual.

Assassino poderia voltar a agir a qualquer hora

O perfil também sugeria uma evolução do modus operandi do assassino, evidenciado por um comportamento mais 'eficiente' de André na morte de Ruan, o último garoto a ser assassinado. A data de aniversário das vítimas não seria um fator de seleção, mas se constituía num dado importante: os três garotos assassinados estavam perto de completar 15 anos. 'Parece-nos que quando as vítimas faziam 15 anos, não as interessavam mais', afirma Ilana, citando descrição do perfil.

Entre as características psicológicas observadas na cena do crime, o perfil citava a disposição dos corpos de forma desrespeitosa quanto à sua sexualidade; agressor aparentemente heterossexual – contrariando pensamento vigente até então no âmbito policial -, possivelmente com disfunções sexuais, como ejaculação precoce; se a homossexualidade estivesse presente, ela não seria explícita; assassino competente socialmente, sem indícios de antecedentes nesse tipo de conduta; suspeitos com antecedentes em pedofilia não se adequariam ao perfil deste serial killer; o ato sexual, se houve, teria sido por violência e não por prazer. O criminoso seria uma pessoa dominadora, de valores rígidos, mandão, de baixa tolerância aos erros alheios, não-sedutor, mas confiável e que dá conselhos morais aos mais jovens, além de possuir trabalho estável.

ENTREVISTA COM O ASSASSINO




“Eu precisava de ajuda” ‘Monstro da ceasa’

Falando de forma pausada, e com os olhos cheios de lágrimas em alguns momentos, o ex-militar do Exército André Barbosa, de 26 anos, diz estar arrependido de ter assassinado os adolescentes José Raimundo de Oliveira, Adriano Martins e Ruan Sacramento. Ele afirmou que não tem uma explicação lógica para os crimes que praticou. Em entrevista exclusiva a O LIBERAL, o acusado afirmou que se arrependia depois de matar os adolescentes, mas que não conseguia controlar tais atos violentos. Depois, e como se os crimes tivessem sido cometidos por outra pessoa, procurava as famílias das vítimas, a quem oferecia solidariedade e ajuda para localizar o criminoso.

Relatando problemas que teve na escola e na infância, quando diz ter sido abusado sexualmente por um traficante, o que ocorreu dos cinco aos sete anos, André diz que deixou pistas para que a Polícia o prendesse, deixando, por exemplo, o celular no local em que atacou um garoto de 11 anos. Ele também diz que há muito tempo vem alimentando a idéia de se matar, para, assim, conseguir sua 'liberdade'. E, sem citar as palavras crime e morte, garante que não é um 'monstro' e merece uma 'segunda chance'. Por fim, pede aos pais que dêem mais atenção a seus filhos. Foi preciso muita cautela para entrevistar André, porque, de repente, segundo os policiais, ele poderia se fechar e não querer mais apresentar sua versão dos fatos.

Assassino diz que deixou pistas para que a Polícia pudesse localizá-lo

André, você está está arrependido dos crimes que cometeu?
Estou.

Por quê?
Porque eu traí a confiança de muita gente. Da minha família, dos meus vizinhos. Eles me respeitavam. Eu perdi a amizade de todo mundo que me respeitava.

Por que você matava os adolescentes?
Eu mesmo não consigo obter explicação. Quando chegava nessas horas, quando eu ia me tocar, eu já tinha feito. Não dava mais para voltar atrás.

Mas quando você atacava os meninos o que se passava na sua cabeça?
(Algo) Batia na cabeça quando eu fazia, aí não dava para voltar. O arrependimento vinha depois. Ao deitar de noite, eu pensava no sofrimento das famílias.

Por que, depois, você procurava as famílias, demonstrando solidariedade?
Eu sabia o que elas (as famílias) estavam sentindo. Eu estava pronto para apoiar da maneira como fosse preciso. Eu levava meus sentimentos.

A Polícia diz que você foi ao enterro dos três adolescentes. É verdade?
Não fui nos enterros.

Por quê?
Não tinha coragem de ir.

Você se lembrava dos meninos mortos?
Eu me lembrava algumas vezes quando falava com as famílias.

E o que acontecia nesses momentos, quando você lembrava?
Eu tentava agir normalmente. Como se não fosse eu que tivesse feito aquilo. Eu me arrependia muito, profundamente.

Você chorava?
Chorava, mas esse (o que matava) não era eu.

O que se passava na sua cabeça na hora em que você atacava os meninos?
Dava um branco na hora. Não batia pensamento nenhum. Quando eu me tocava, já tinha feito.

Do que você se lembra exatamente?
Lembro de levá-los para a mata, exceto fazer a execução deles. Parece que era outra pessoa que surgia do nada.

E por que isso acontecia?
Era mais forte do que eu. Não tenho como evitar.

Você conhecia os três adolescentes?
Eu os conhecia há poucos meses.

Os conhecia de onde?
Lá de perto de casa.

O que eles representavam para você?
Amigos. A gente se divertia nos cyber, nos jogos.

E o menino de 11 anos, você o conhecia?
Não conhecia ele.

Como você o encontrou?
Eu ia para o banco (na quarta-feira da semana passada). De repente, emendei pela Quintino. Aí eu o vi, pela primeira vez. Eu convidei ele para ir de bicicleta, para ele observar minha bicicleta. Eu disse que daria a ele R$ 10,00.

Até aí é você quem está agindo ou essa outra pessoa sobre a qual você não tem controle?
Sou eu mesmo. (Nesse momento, André afirma que foi ele quem deixou as pistas que levaram à sua prisão).

Por que você deixou pistas?
Eu vi a movimentação (dos policiais e nos arredores da casa dele). Se eu quisesse escapar, ninguém conseguiria pegar. No dia em que eles me pegaram... Eu queria me entregar. Eu mostrei a minha documentação para o menino de 11 anos.

Por que você mostrou seus documentos de identificação?
Porque eu queria que ele gravasse meu nome (agindo assim, o menino poderia ajudar a Polícia a identificá-lo depois).

A Polícia diz que, ao atacar o menino, você escorregou e deixou o celular cai na mata.
Eu peguei o celular, mas o deixei no chão.

Por que você faria isso?
Era uma forma de lutar contra tudo isso. Eu queria que a Polícia me localizasse. Não queria matar. Eu deixei pistas para a Polícia chegar até mim.

Por que você queria se entregar?
Porque eu precisava de ajuda.

Você abusou do menino de 11 anos?
Eu o imobilizei e o soltei. Eu deixei ele vivo.

Mas por que, então, você o levou para a mata?
Era uma forma de a Polícia chegar até mim. E fazer eu parar.

Você sabia que os policiais estavam à sua procura?
Eu sempre soube, desde o início. Eu observava a presença dos policiais, sabia que eles estavam por perto.

Por que você não se entregou, então?
Por causa de toda essa movimentação. Por medo de perder a vida, sem poder me expressar.

Você se considera um homem bom?
Eu sempre fui bom. Na vizinhança, ninguém reclama de mim.

Quando tudo isso começou (o ataque aos adolescentes)?
Não sei. Eu sentia fortes dores na cabeça. Começou há alguns anos. As dores duravam dias, não conseguia dormir.

Você procurou atendimento médico?
Eu fui no hospital, fiz uma tomografia, mas não deu nada.

Quando foi esse exame?
Julho ou agosto do ano passado.

Como eram essas vozes?
Eu sempre escutei vozes. A minha vida inteira. Desde pequeno. Eu não conseguia entender (as vozes). Não dormia. Noites e noites sem dormir.

Eram só vozes?
Também apareciam vultos. Eram espíritos. Não sei explicar.

Você falava isso para alguém?
Eu sempre falava com a minha família, que me dizia para procurar trabalhar esse lado.

Você procurou ajuda?
Não.

Por quê?
Achei que era bobagem. Sempre acontecia.

Quando apareciam as vozes e os vultos?
Só à noite, quando eu deitava.

Você sonhou com os adolescentes mortos?
Nenhuma vez sonhei com eles. Também não via a imagem deles.

Você trabalha?
Ajudava na taberna (da família). À noite, ia para um curso de informática. Ia para o segundo mês lá.

Como você conhecia a área da Ceasa?
Conhecia só quando eu passava de carro por lá. Lá é deserto, não tem nada.

Que horas você levava os meninos para lá?
Eu ia a partir do meio-dia.

Você os levava sempre de bicicleta?
Era.

Eles confiavam em você?
Confiavam.

O que vocês conversavam no caminho até a mata?
A gente falava sobre time de futebol (André torce para o São Paulo e, no Pará, para o Remo), jogos de videogame.

O acontecia quando vocês chegavam na mata?
Eles entravam comigo. Aí, eu imobilizava eles.

Você falava algo antes de imobilizá-los?
Não.

Como você os imobilizava?
Com golpes de jiu-jítsu.

Você praticava essa arte marcial?
Fui praticante.

Quantos golpes você aplicava?
Dois golpes no máximo. Eu neutralizava e deixava eles desacordados.

Esses golpes também funcionariam em um adulto?
Sim. Não há limite para idade. Não é a força, é a técnica.


“Dêem mais atenção aos seus filhos” Edição de 13/02/2008

Explicações:

André Barbosa não se recusa a responder a nenhuma pergunta, mas suas respostas são bastante sucintas. Ele tem dimensão do mal que fez e sabe que será punido, mas pede uma chance e tenta achar explicações para o que fez na violência que sofreu, na mãe que omitiu a morte do pai e até no Exército, que o dispensou - por conta de discriminação racial, segundo ele - após anos de treinamento. André também se diz 'sadio', mas se contradiz ao aconselhar, logo depois, a outras pessoas que possam passar pelo mesmo problema dele: procurem ajuda médica, 'custe o que custar'.

A prisão, afirma com convicção, tirou um grande peso de suas costas.

Entrevista




Quanto tempo isso durava?
Dois minutos e meio, três minutos, no máximo.

Depois, o que acontecia?
Eu amarrava o fio no pescoço.

E depois?
Eu ia embora.

Você não fazia nada com as crianças? Não abusava delas?
Não. Eu ia embora. Não dava para fazer nada.

Que nó era esse que você dava no náilon que usava para estrangular os meninos?
Um nó normal. Nó de forca.

Onde você aprendeu a fazer esse nó?
No Exército.

Você já tinha matado alguém antes dos adolescentes?
Nunca fiz isso.

Já teve problemas com a Polícia?
Nunca tive passagem pela Polícia.

Você consome bebida alcoólica?
Não bebo, não fumo, não tenho vícios.

Você é religioso?
Sou católico. Não vou à igreja, mas rezo em casa.

Você tem namorada?
Já tive.

Quanto tempo durou o relacionamento?
Dois anos.

Você pensou em se casar?
Não tive vontade de casar.

Você quis ter filhos?
Não. Nunca me vi preparado para isso.

Qual seu projeto de vida?
Ir embora para a França (onde mora a mãe biológica dele), para servir na Legião Estrangeira (uma unidade militar da França).

Por quê?
Para mostrar para o Brasil o militar que eles perderam.

Quanto tempo você ficou no Exército?
Oito anos. Cheguei até cabo temporário.

Você acha que o Exército brasileiro não lhe deu a devida importância?
A gente passa por treinamento e, em determinado momento, (o Exército) dá um chute na bunda.

Mas o que você acha que deveria ser feito?
Tem que (o militar) ser aproveitado, independente da patente ou da cor.

Você está insinuando que sofreu discriminação no Exército?
Todo mundo sabe que sempre houve preconceito nas Forças Armadas.

Ao sair do Exército, você não quis ingressar na Polícia?
Não queria ser policial. Eu gostava de ficar em áreas onde pudesse participar de treinamento pesado. Eu gostava de fazer manobras militares.

Você gosta de filmes de guerra?
Gosto.

Qual o seu filme predileto sobre esse tema?
Lágrimas de Sol.

Você gosta de livros sobre guerra?
Gosto.

Qual o livro preferido?
A Arte da Guerra. Gosto muito de História. De ler sobre a primeira e a segunda guerra. Gosto de História em termos geral.

Você é fã do ditador Adolf Hitler?
Eu gostava das idéias dele. Com ele, a Ciência avançou. Só que ele usava a Ciência para o mal. Ele era 'genioso' (um gênio) por ter evoluído a Ciência, mas um burro por usá-la para a maldade.

Você fala das experiências com os judeus?
Sim.

Se a Polícia não tivesse te prendido, você continuaria matando?
Não. Eu conseguiria me dominar.

Como, se você diz que não tinha como controlar essa vontade?
Há muitos dias eu estou com a idéia de me matar. Penso o tempo todo em me matar.

Por quê?
Seria a liberdade.

Liberdade?
Quem plantou fui eu. Quem começou a colher fui eu.

Você teve mais alegrias ou tristezas em sua vida?
Mais tristeza até hoje.

Qual a maior tristeza?
Minha mãe biológica ter me enganado.

Como assim?
Ela passou mais de 20 anos me trazendo mensagens do meu pai. Certo dia, joguei um verde e descobri que ele morreu alguns meses depois que eu nasci.

Você sempre quis conhecer seu pai?
Sim.

Quando você descobriu a verdade?
Em 2006. Eu perguntei o local em que meu pai tinha ficado e ela, sem perceber, me falou da morte dele. Ela tinha que ter me contado. Todo mundo merece saber a verdade.

Como é o contato com sua mãe biológica?
Ela mora na França. É raro ela ir lá em casa.

Há quanto tempo ela mora lá?
Há quase 30 anos.

O que aconteceu quando você soube da morte de seu pai?
Ficou mais difícil o relacionamento (com a mãe biológica). Só que eu não demonstrava minha decepção.

Por quê?
Porque sou fechado.

E como era a relação com sua mãe adotiva?
Sempre a tratei com respeito. Ela era tudo para mim. Ela me criou desde pequeno.

É verdade que ela faleceu recentemente?
Ela morreu de parada cardíaca. Tem 12 dias hoje (ontem, terça)

Você comentou com sua mãe sobre esses crimes?
Não.

André, você se considera um criminoso?
Não.

Por quê?
Porque não fiz por vontade própria.

Você se sente culpado?
(Ele fica em silêncio por alguns instantes). Não. Não fiz por querer.

O que você acha que deve ser feito com você agora?
Preciso de toda a ajuda possível, para pagar o que fiz e poder ajudar quem eu fiz sofrer.

Você tem noção de que vai ser responsabilizado por seus crimes?
Eu sei que vou pagar.

Você acha que a cadeia é o lugar onde você deve ficar?
Se eles acharem que eu vou conseguir mudar na cadeia...

O que você diria às autoridades que vão analisar seu caso?
Que preciso de ajuda psicológica.

Como foi sua infância?
Tem partes boas e ruins.

Quais as coisas boas?
As brincadeiras, a convivência com família e amigos.

E as coisas ruins?
Os professores me maltratavam. Uma professora me dava puxões de orelha.

Por que isso ocorria?
Porque eu gostava da piscina que tinha lá (um colégio que, segundo ele, ainda existe e fica na travessa Castelo Branco). Eu queria estar na piscina. Ela não deixava, me colocava de castigo atrás da porta, puxava minha orelha.

Você gostava de estudar?
Não gostava.

Por quê?
Porque me forçava a fazer o que a gente não quer. Eu não sabia ler, ela (a professora) me obrigava a ler. Eu errava as letras, e apanhava com uma régua de madeira.

Mas você gostava de alguma disciplina?
Sempre gostei de História.

Você gostaria de se formar em quê?
Em Geologia. Eu quero estudar nossos solos, nossos minérios. Faço bastante leitura sobre esse assunto.

Você teve a oportunidade de estudar?
Oportunidade eu tive, mas tive muita dificuldade para conseguir aprender as coisas.

Que dificuldades eram essas?
É que os outros queriam que eu aprendesse à força. Eu não estava preparado.

André, você foi abusado sexualmente na infância?
Teve um homem que fez mal para mim.

Você tinha que idade?
De 5 a 7 anos.

Onde acontecia o abuso?
Lá perto de casa, em um antigo matagal. Eu vivia me escondendo dele. Mas sabe como é, criança é besta para caramba.

O que ele te oferecia?
Oferecia linha e papagaio, que era o que eu gostava de brincar.

Quem era ele?
Meu vizinho. Eu tinha raiva dele.

Ele te ameaçava?
Me ameaçava e também minha família.

Você acha que ele fazia o mesmo com outros meninos?
Acho que sim.

O que aconteceu com ele?
Mataram ele (segundo André revelou à Polícia, esse homem se chamava Max, era traficante e foi morto por envolvimento com o tráfico).

Você tinha que idade quando ele foi morto?
18, 19 anos.

O que aconteceria se você o encontrasse?
Eu o mataria.

Quando você levava os meninos para a mata, você se lembrava do que aconteceu com você na infância?
Eu lembrava de tudo isso. Vinha à minha mente.

Aí você descontava nos meninos?
Era.

O que você diria agora para os pais dos adolescentes mortos?
Desculpa.

E para seus amigos?
(Silêncio por alguns instantes). Não tenho palavra.

Você é mentalmente sadio?
Sou sadio.

Se você pudesse voltar no tempo, o que você mudaria?
O dia em que me deu vontade de começar a fazer isso.

Era vontade ou necessidade?
Mais necessidade.

Você tinha que fazer, era mais forte que você?
Era.

Quem, afinal, é você?
O Andrezinho de infância, amigo, pronto para ajudar a qualquer momento, a qualquer hora. Sempre ajudei os outros. E sempre quem quebrava a cara era eu.

Como você se sente agora?
Livre.

Por quê?
Tirei um peso das pessoas, que queriam saber quem era o verdadeiro culpado.

Você acompanhava o noticiário sobre as mortes dos adolescentes?
Eu acompanhava. Eu escutava as pessoas falando. Via o noticiário na tevê.

E qual era a tua reação?
Eu sempre falava: quem será esse que está fazendo isso?

O que você tem a dizer, considerando essa outra pessoa em quem você se transformava?
Todo mundo merece uma segunda chance. Todo mundo, para aprender, tem que errar. Eu errei. Tenho que voltar e aprender tudo de novo.

A pessoa que cometeu esses crimes ficou conhecida como 'O Monstro da Ceasa'. Como você se sente ao ouvir isso?
Eu fico chateado. Não sou assim.

Você é um monstro?
Não sou um monstro.

O que você acha que vai acontecer com você a partir de agora?
Vou pagar pelos meus atos.

Como você acha que deve ser tratado a partir de agora?
Preciso de ajuda.

E o que você diria aos pais de uma maneira geral?
Dêem mais atenção aos seus filhos. Sejam presentes no que eles estão fazendo. Não os deixe só. Os pais devem escutar mais seus filhos.

Mas você era alguém de confiança, de quem ninguém nunca suspeitou de nada.
Eu era de confiança, mas não era da família deles.

Os pais devem confiar desconfiando, é isso?
É.

Como você quer que a sociedade te veja a partir de agora?
Quero que me vejam como uma pessoa simples, alegre, de família, que sempre respeitou todo mundo. Sou uma pessoa normal, como todo mundo. Eu estudo, trabalho...

O que você diria para alguém que passou pelos mesmos problemas que você?
Procure ajuda, custe o que custar.


Condenado inicialmente à 106 anos, foi reduzido para 104 anos de reclusão (pela atenuante da confissão), em 18 de novembro de 2008, pelo Primeiro Tribunal do Júri da Capital, em Belém/PA, sua sentença foi modificada em sede de Apelação, em 06 de outubro de 2011, para 86 anos de reclusão em regime inicialmente fechado.








Link da sentença: http://sdrv.ms/14PQHW9
Link da apelação: http://sdrv.ms/14PQGS5




Fonte: 

Tribunal de Justiça do Estado do Pará

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