quinta-feira, 23 de abril de 2015

Mateus da Costa Meira, "O Atirador do Cinema"



"Tinha casal abraçado no chão, gente chorando encolhida. O cara da frente também estava caído. Cutuquei para ele levantar, mas ele também não reagia. Virei o rosto dele. O óculos tinha um furo. Nem estilhaçou. Ele levou um tiro no olho. Varou a cabeça. Um horror. Aí que eu vi que o chão estava lavado (cheio de sangue)."
Mateus da Costa Meira nascido em Salvador, Bahia no dia 4 de abril de 1975, mais conhecido por "O Atirador do Cinema" ou "O Atirador do Shopping", é um ex-estudante universitário de Medicina na USP. Seus apelidos vem do fato de ter disparado uma metralhadora portátil contra pessoas da platéia de uma sala de cinema de um shopping center na cidade de São Paulo.

Filho do oftalmologista Deolino Vanderlei Meira e da enfermeira Alina da Costa Meira ele nasceu em Salvador, na Bahia, numa família de classe média alta. Meira e a irmã caçula Ana Emília Meira, na época com 21 anos, sempre tiveram de tudo. Estudaram em bons colégios particulares e até o momento do crime ele recebia uma mesada de 800 reais. A vida, portanto, era de padrão muito bom. Nunca teve um relacionamento muito afetuoso com os pais. 

Até os 13 anos, segundo a mãe, ele era normal. Nessa idade, começou sua depressão. Ele confidenciou a mãe que queria se suicidar. Foi ao psicólogo e fez tratamento por um ano. Depois o atendimento passou a ser de emergência, somente quando era necessário. Mas chegou a um ponto que ele não quis mais aceitar o tratamento e as medicações. Ele falou para sua mãe que sua falta de amigos era a causa da depressão.

A situação piorou aos 15 anos. Ele foi fazer um intercâmbio nos Estados Unidos e a mãe americana não o suportou por causa da agressividade. Logo ele retornou. A dona da agência de intercâmbio disse que Mateus precisava de ajuda. Ele quebrou uma costela do pai, deu soco em um olho dele também, chutou um joelho da mãe e agrediu ela porque achou que uma roupa sua não estava passada. Tinha mania de limpeza e de organização.

As coisas pioraram aos 16 anos. Vários médicos foram procurados. Um deles disse achar melhor que a família o mandasse para algum lugar, pois do contrário algo poderia acontecer. A decisão dele de morar em São Paulo foi encarada por todos como uma boa solução. Chegando lá, ele morou num pensionato e teve uma briga séria com um colega. Mateus teve de sair de lá. Logo depois, mudou-se para um apartamento. Lá, ele agrediu o porteiro do edifício. Depois foi para outro prédio, onde ficou até a época dos crimes. 


Casa de gás – Mateus morava próximo à faculdade, na rua Veridiana, 147, no Centro de São Paulo, no apartamento de número 11 do Edifício Rio Verde. Era considerado um “cara estranho” pelos vizinhos e funcionários do prédio. “Ele não cumprimentava ninguém. Se você o encarasse ele baixava a cabeça”, disse o morador do apartamento 401, Fernando David. Com o porteiro da noite, teve uma briga. Ele queria que fosse aberta a casa de gás do edifício alegando que pessoas que o perseguiam estariam ali escondidas. Ele ouvia vozes, muitas vozes.



Nos seus seis anos de São Paulo, Meira não cultivou uma amizade sequer. Nunca foi visto com namorada. Quando andava pelos corredores da Santa Casa de Misericórdia, onde cursava o 6º ano de medicina, mantinha sempre o olhar baixo. Não mantinha vínculos com ninguém. Quando o chamavam de "baiano", abandonava o lugar imediatamente e emudecia durante dias. No 1º ano, foi um estudante excepcional. Suas notas estavam entre as melhores da turma. 

No do 1º ano, quando foi passar férias em Salvador, Mateus tentou suicídio usando um bisturi. Têm nos pulsos as marcas dessa tentativa. Nesse mesmo dia, resolveu correr de calça jeans. Chegou em casa com a calça estraçalhada. Disse que sentiu calor no meio do caminho e cortou a calça toda com um caco de vidro. Tempos depois, feriu-se novamente e voltou a falar em suicídio. 


No início do 2º ano sua mãe pediu que a faculdade ajudasse no tratamento. Comunicaram a ela que Mateus era um aluno brilhante e não podia ser obrigado a aceitar o tratamento. Nesse 2º ano, foi apenas um bom aluno. No 3º, medíocre. Ele repetiu o 4º ano, fez apenas uma matéria no 5º e no 6º. Na Santa Casa, poucos alunos gostam de dar plantão aos sábados e domingos ou em horários noturnos. Mas Meira oficializou essa opinião para os professores. Ele chegava a pagar para alguns alunos cumprirem o plantão por ele. Quando foi descoberto, encaminharam-no a um centro de apoio psiquiátrico da universidade. Ele compareceu a uma consulta com a doutora Patrícia Belloddi e se dizia revoltado com a punição. Foi então encaminhado ao psiquiatra José Cássio do Nascimento Pitta, que se apressou em agendar uma consulta e abriu um horário extra para atender a mãe dele. Ao final do encontro, Pitta ficou convencido de que ele precisava iniciar um tratamento imediatamente. 

Como ia viajar, recomendou o jovem à sua colega, a psiquiatra Luciana Sarin. Dias depois, Meira piorou e a médica decidiu interná-lo a força na Clínica Psiquiátrica Parque Julieta, na Granja Julieta, bairro nobre de São Paulo. Quando Pitta voltou de viagem, encontrou-o quieto e retraído, depois de sete dias de internação. Ele não mais apresentava os sintomas de irritabilidade e agitação que demonstrara antes. Foi então que o psiquiatra ouviu da voz pausada e monocórdia de Meira relatos sobre alguns acontecimentos de sua vida. 

Na época, o pai de Meira estava em São Paulo acompanhando o tratamento do filho. A sua permanência na cidade, ao lado do estudante, foi a condição imposta pelo psiquiatra para dar alta. Meira alegava que queria retomar os estudos. Dois dias depois, na quinta-feira, o pai de Meira ligou para o psiquiatra e disse que ele retomara as atividades normais na escola e dormia bem. Um bom sinal, já que a insônia era freqüente. Mas o pior ainda estava por acontecer. 


Uma semana mais tarde, o pai de Meira levou-o ao consultório de Pitta. O pai dele disse que tinha assuntos urgentes a resolver em Salvador e viajaria naquele mesmo dia. No dia seguinte, Meira interrompeu a medicação e passou a ser dono de seu destino. Não voltou mais ao consultório do psiquiatra. Meira morava sozinho. Não recebia ninguém em seu apartamento. Costumava não atender ao interfone nem à porta, mesmo estando dentro de casa. 

Segundo seus vizinhos, tinha um comportamento muito estranho. Por duas ocasiões, quebrou o vidro da porta de entrada com a cabeça. Numa madrugada bateu na casa do zelador dizendo que queria a chave da caixa de luz porque a voz que o perseguia estava lá dentro. Chegou a ameaçar o zelador. Meira estava devendo dois meses de condomínio. 

Era um aficionado de jogos de estratégia, como War, e de memória, como Master. Ele não tinha intimidade com a família, mas deixou que sua mãe o abraçasse e passasse as mãos em seu cabelo após sua prisão. Conversava com os pais, mas jamais com a irmã, era como se ela não existisse. 


O garoto calado e sem amigos era também um pirata da informática. Em seu apartamento foram apreendidos quatro computadores e mais de 1.000 CDs virgens que usava para copiar softwares. Na verdade, ele mantinha em casa uma empresa virtual, fantasma, com endereço na internet e cadastrada com dados falsos. Em 1997 foi procurado pela polícia, mas nem chegou a ser processado por crime de pirataria. Sabe-se, porém, que parte do dinheiro que empregou na compra da arma foi obtida com a venda desses CDs. Uma empresa provedora de internet chegou a reclamar com seu pai porque ele enviava mensagens pornográficas por e-mail para centenas de pessoas. 











O estudante confirmou que usava drogas constantemente e as comprava do mecânico Marcos Paulo Almeida Santos, o mesmo que lhe vendeu a submetralhadora. As 28 pessoas que assistiam à última sessão do filme Clube da Luta viveram um terror que lhes parecia interminável. Mais tarde, Meira diria que há sete anos vem pensando em cometer um crime assim. 


Marcado por uma personalidade esquizoide e muito introvertido, o estudante criou as condições ideais para realizar sua obsessão. Dois meses antes ele vinha consumindo cocaína e há muito tempo já havia deixado de tomar o medicamento Zyprexa, antipsicótico usado para diminuir sintomas de delírios, alucinações, irritabilidade e agressividade. 



Deolino Vanderlei Meira (à dir.) diz que a família não sabia que o filho usava cocaína e crack 


Meira já tinha até uma pistola 380 para fazer seu massacre. Mas acabou optando por outra arma. O estudante, então, encomendou uma submetralhadora americana Cobray M-11/9 calibre 9 milímetros. Pagou 5.000 reais, entregou sua pistola 380 e voltou para um hotel que tinha se hospedado no dia. Minutos depois, saiu sem fechar a conta, levando apenas uma mochila nas costas. 




Tomou um táxi, rumo ao Morumbi Shopping (local onde, acreditava, poderia cometer o crime sem levantar suspeitas, já que estava bem longe de casa e dificilmente alguém o reconheceria por ali). Segundo testemunhas oculares da ação, na noite de 3 de novembro de 1999, dentro da sala 5 do cinema do Morumbi Shopping, zona sul da capital paulista, Mateus teria levantado de seu lugar, ido ao banheiro, onde teria dado um tiro no espelho com sua submetralhadora Cobray M-11, mirou para a sua própria imagem e disparou. O espelho permaneceu inteiro na parede, com um furo de bala e todo estilhaçado. 


Discussão – Mateus passou a noite anterior ao crime no Hotel Príncipe. A diária de R$ 66 não foi paga. Ele chegou a consumir seis refrigerantes, duas águas, um filé grelhado e seis chocolates. Na quarta-feira, deixou o quarto 915 às 8h30 e esteve à tarde com o traficante Marcos Paulo, que também lhe fornecia drogas, para comprar sem maiores dificuldades a submetralhadora por R$ 5 mil. Ele a colocou numa bolsa de náilon e vestindo camiseta branca e jeans, tomou um táxi e seguiu para o Morumbi. Ficou andando a esmo pelos corredores até entrar no cinema. Chegou a discutir com o segurança particular Hernandez Correia, acusando-o de usar anabolizantes. “Ele parecia estar bêbado.” Na sala 5, começou a assistir ao filme na primeira fila. Diz que ouviu vozes. Levantou e foi ao banheiro. Achava que estava sendo seguido. Diante do espelho, Mateus tira a arma da bolsa e resolve testá-la no espelho, aparentemente contra a própria imagem, o espelho permaneceu inteiro na parede, com um furo de bala e todo estilhaçado. 

A arma estava no modo intermitente, isto é, dava um tiro de cada vez. O estudante não conseguiu regulá-la para que os tiros saíssem em rajadas. Depois ele ficou de frente para a platéia, sacando novamente a arma e iniciando os disparos. Começava ali, a cena mais aterrorizante de uma tragédia da vida real, que em três minutos fez três mortos.

Dessa tragédia resultaram 3 mortes: a fotógrafa Fabiana Lobão de Freitas, de 25 anos; o analista de sistemas Júlio Maurício Zemaitis, de 28 anos e a publicitária Herme Luiza Jatobá Vadasz, de 44 anos. E 4 pessoas feridas, dentre elas o produtor de cinema Carlos Eduardo de Oliveira, namorado de Fabiana. O filme exibido no momento dos disparos era Clube da Luta.


Fabiana Lobão de Freitas e Júlio Maurício Zemaitis 


O estudante de Direito Miguel Beltran Neto, 20 anos, estava sentado na oitava fileira ao lado da fotógrafa Fabiana e seu noivo Carlos Eduardo de Oliveira, 25 anos. Ele conta que Fabiana, salvou sua vida. 


“Cheguei a rir. Pensei que era uma pegadinha de programa de tevê. A moça que estava ao lado me puxou, ficou por cima de mim. Ela foi meu escudo.” “Foi um filme de terror. Me abaixei entre as poltronas, rezei baixinho uma Ave-Maria. Estava diante de um psicopata”, disse o administrador de empresas Leonardo Adão Vidal. 


O tiroteio durou cerca de três minutos. “Pus as mãos num cara que estava na minha frente para dizer que o socorro estava chegando, mas ele não reagia. O sangue escorria por quase três fileiras de poltronas.”

O publicitário Renato Lucena Fernandes de Mello, 24 anos, que ajudou a imobilizar Mateus enquanto municiava a arma, disse que o estudante não reagiu ao ser detido. “Finquei os joelhos na cabeça dele e ele murmurava: ‘Por favor, saia de cima de mim.’”


“Eu não gosto de ninguém. Já disse que não gosto de ninguém”, afirmou Mateus assim que chegou à 96º DP, no Brooklin, aos policiais que insistiam em perguntar se ele tinha algum amigo ou namorada. O estudante era tido como uma pessoa problemática, não tinha amigos e era viciado em drogas. Para a mãe, a enfermeira Aline da Costa Meira, Mateus era apenas um pouco nervoso. Doze horas depois da tragédia, ele falou com ela ao telefone, que lhe perguntou: “Por que você fez isso, meu filho?” Ele respondeu: “Não sei explicar, minha mãe. Não sei o que aconteceu comigo.”


Preso em flagrante ele contou que ouvia vozes ameaçando-o e sentia-se perseguido em seu apartamento, motivo que o teria levado a se hospedar no hotel naquela tarde. Em sua residência, a polícia encontrou mais de 300 cápsulas de submetralhadora, quatro papelotes com aproximadamente 1 grama de cocaína cada um e 33 pacotes vazios. Também havia vestígios de crack. 

“Eu peço para que as famílias o perdoem. Ele não fez isso em sã consciência”, apelou o pai de Mateus, o oftalmologista baiano Deolino Vanderley Meira, que chegou a São Paulo na sexta-feira 5. “Eu não esperava isso dele”, disse o pai que pagava o aluguel, de R$ 600, a mensalidade da faculdade, de R$ 1 mil, e lhe dava R$ 800 de mesada.


Ele acabou condenado a mais de 120 anos de prisão em regime fechado. Seus advogados alegaram que Mateus era semi-imputável, ou seja, possuía consciência parcial de seus atos. Depois de várias apelações judiciais, Mateus foi condenado aos formais 30 anos máximos previstos pela Justiça brasileira. Os advogados de defesa tentaram, em vão, alegar insanidade mental de seu cliente e argumentar que Mateus havia sido influenciado pelo jogo Duke Nukem 3D, no qual há uma cena de tiroteio dentro de um cinema. 

Duke Nukem 3D




No dia 8 de maio de 2009, Mateus tentou matar seu colega de cela na Penitenciária Lemos Brito na cidade de Salvador e foi autuado por tentativa de homicídio. A vítima é o detento espanhol Francisco Vidal Lopes, 68 anos, que cumpre pena por tráfico de drogas na unidade. Ele foi socorrido e não teve danos maiores. Segundo informações da Secretaria de Cidadania, Justiça e Direitos Humanos da Bahia, Meira teria usado uma tesoura para golpear a cabeça do espanhol. O equipamento é usado pelos presos em trabalhos artesanais. Meira foi levado para a 10ª Delegacia de Polícia de Salvador, onde foi autuado por tentativa de homicídio. O espanhol teria dito à polícia que um desentendimento anterior seria o motivo da agressão praticada pelo ex-estudante de medicina. 





Em 27 de fevereiro de 2009, Meira foi transferido do Presídio de Tremembé, em São Paulo, para o Presídio Lemos Brito, em Salvador. A mudança teria sido um pedido da família dele, que mora na Bahia, de acordo com a Secretaria de Justiça da Bahia. A direção do Presídio Lemos Brito informou que, após a agressão ao colega de cela, Meira foi levado para uma cela, onde foi mantido em isolamento dos demais detentos.




Metralhadora é restrita a uso militar e pode disparar 950 tiros por minuto


O delegado Olavo Francisco, do 96º DP, mostra a arma usada pelo aluno Mateus da Costa Meira

A metralhadora que estava em poder do estudante de medicina Mateus da Costa Meira, 24, tem alto poder destrutivo.

Ela é semi-automática, calibre 9 mm, da marca Cobray, fabricada em Atlanta, nos Estados Unidos, e capaz de disparar 950 tiros por minuto. Seu carregador tem capacidade para 30 balas.

A marca mais conhecida do mercado, porém, é a Uzi, de fabricação israelense.

Esse tipo de arma não se encontra na loja da esquina ou em shoppings. É de uso restrito das Forças Armadas. Só quem pode manuseá-la são militares, policiais federais, oficiais da Polícia Militar e policiais que integrem grupos táticos especiais. 

Para colecionadores possuírem um exemplar desses em casa é necessária autorização do Exército. Vários documentos são requisitados e renovados anualmente. 

Um delegado da Polícia Federal que trabalhou durante anos nas fronteiras do país e não quis se identificar afirmou que nas lojas do Paraguai é fácil conseguir uma metralhadora 9 mm igual a utilizada pelo estudante. 

"Com dinheiro, é possível comprar qualquer coisa", disse o delegado. Em São Paulo, segundo esse policial, alguns exemplares dessa arma são furtados de colecionadores e vendidos a traficantes. O preço pode chegar a R$ 5.000 -valor pago por Meira. 

A assessoria da PF informou que este ano não foi registrada nenhuma grande apreensão de contrabando de armas. 

De acordo com a assessoria de imprensa, em julho foram presos na zona norte quatro integrantes de uma quadrilha especializada em roubo de carros importados. 

Com eles havia duas metralhadoras 9 mm semelhantes à apreendida em poder de Meira. Entre as vítimas dos assaltantes estavam Viola, jogador do Vasco, e um juiz federal. Ambos tiveram seus carros roubados. 

O deputado Alberto Fraga (PMDB-DF) disse ontem que o crime no Morumbi Shopping reforça a sua tese de que a redução da criminalidade não depende da proibição da venda de armas de fogo, como propõe o governo no projeto enviado à Câmara no início do ano. 

Fraga é relator do projeto na Comissão de Defesa Nacional, que analisa o conteúdo da proposta. "O aumento ou a diminuição da criminalidade não tem a ver com venda legal de armas. O problema é a facilidade com que as armas são compradas no mercado clandestino", disse. 

Dentro do presídio Mateus mantinha contato com travesti que lhe ajudava financeiramente, confira abaixo matéria retirada do site correio 24 horas.




Travesti gastou R$ 20 mil para ajudar estudante de Medicina que matou três em cinema


De acordo com a reportagem da Folha, Mateus se correspondeu com a travesti, que costumava tratar como “querida Alcione”, entre maio de 2001 e outubro de 2003

De dentro do presídio, depois de metralhar três pessoas numa sala de cinema de um shopping de São Paulo, o baiano Mateus da Costa Meira continuou a atirar. Dessa vez, com palavras escritas. Acertou o coração de uma travesti e com ela se relacionou através de correspondências trocadas de dentro da prisão. Foram 49 cartas às quais o jornal Folha de S. Paulo teve acesso.

Alcione

De acordo com a reportagem da Folha, Mateus se correspondeu com a travesti, que costumava tratar como “querida Alcione”, entre maio de 2001 e outubro de 2003.

Pelo conteúdo dos manuscritos, Mateus, que pegou 120 anos de pena, parecia querer manipular Alcione. Conquistando-a, poderia usá-la aqui fora. Foi o que fez.

Alcione

Em boa parte das cartas, desenhava signos amorosos como corações flechados. Parecia querer ganhá-la pela infantilidade. “Sou seu amiguinho”, assinou em 15 de maio de 2001, ao lado do desenho do rosto de uma criança, de óculos, como se fosse sua própria representação. Acima, na mesma carta, rabiscou uma casa, uma árvore, o sol atrás de uma nuvem e um avião.


No texto, porém, Mateus oscilava entre elogios afetuosos, quando a tratou como uma “heroína”, e ordens incisivas. Por vezes, o atirador do shopping também demonstrava irritação. Alcione, na verdade Antonio Alcione Carvalho, sempre respondia com declarações apaixonadas. Mateus esnobava. “Já sei que você me ama, mas não precisa ficar repetindo”.

AFETO BANDIDO 

São raros os momentos em que Mateus cita o massacre no shopping. Curioso, quer entender como a travesti conseguia amar um assassino. 

“Alcione, fale-me mais de sua vida. Por que você se apaixonou por mim depois que eu metralhei o pessoal no cinema?”.


Numa carta escrita em 2001, Mateus parece questionar os psiquiatras. “Se eu fizer uma bomba com explosivo plástico e implodir um shopping, eles vão continuar me achando normal”. Em outro momento, se mostra acima de um diagnóstico. “Falam que eu tenho tendências esquizoides e que o ato que cometi foi fruto de agressividade íntima”, escreveu o estudante para a travesti, que deixou de se corresponder com Mateus quando percebeu que ele seria um “caso perdido”.

RELAÇÃO 

Ao CORREIO, Alcione disse que nunca visitou Mateus na cadeia. Mas dava um jeito de enviar ao presídio o que precisava. O atirador do shopping pedia de tudo, desde medicamentos, cigarros e materiais diversos a objetos ilegais, como celulares. Chegou a pedir que a travesti comprasse um celular e pagasse R$ 1 mil para que o aparelho entrasse no presídio.


A travesti disse que, por “solidariedade, compaixão e amor”, gastou muito dinheiro com Mateus. “Tudo dinheiro próprio, uns R$ 20 mil. Mateus só pedia coisas caras. Perfume bom, leite de marca”.

Numa das cartas, Mateus pede a Alcione que faça uma mistura que continha o calmante Rivotril, remédio de venda controlada. Para isso, teria forjado uma receita médica e dado instruções de preparo. “Querida Al. Quero que você faça uma mistura. Ninguém mais pode fazer isso por mim. 1) Ingredientes: 400 g de leite em pó DESNATADO. 2) 200 comprimidos de Rivotril 1 mg”. A encomenda seria enviada por Sedex, forma usada por Alcione constantemente para enviar os itens solicitados por Mateus.


PRESSÃO 

Nos manuscritos, Mateus chegava a pedir que Alcione entrasse em contato com os melhores advogados. Tudo pago pela travesti. “Você me ama e precisa fazer isso”.

Em 2002, diz que seu caso é ganho se tivesse ao seu lado bons criminalistas. “Meu alvará de soltura é certo. Você quer que eu seja solto? Então, arranje dinheiro logo, pombas”. Mateus queria que as cartas se restringissem aos dois. “Queime tudo: carta, bilhete, foto, receita, jornal, dinossauro, qualquer coisa escrita que se refere a mim”. Alcione desobedeceu. E depois parou de se corresponder.


Estudante atacou espanhol na cadeia

O estudante de Medicina Mateus da Costa Meira foi transferido para o Hospital de Custódia e Tratamento após golpear com uma tesoura seu colega de cela, o espanhol Francisco Vidal Lopes em 8 de maio de 2009. Em parecer, a comissão de sindicância indicou pela transferência de Mateus por acreditar que ele possui problemas de ordem psiquiátrica que motivaram a agressão ao espanhol.

Em novembro, o então interno da Penitenciária Lemos de Brito foi ouvido em audiência do processo a que responde como autor de tentativa de homicídio contra o espanhol, ele confirmou que o traficante Raimundo Alves de Souza, o Ravengar, chegou a pedir R$ 2 mil para que Meira pudesse trocar de cela na unidade prisional.

Mateus veio transferido de São Paulo para Salvador em fevereiro de 2009 para cumprir parte dos 120 anos aos quais foi condenado pelo atentado no Shopping Morumbi quando matou quatro pessoas e feriu outras três.

O atentado aconteceu 3 de novembro de 1999. O estudante estava armado com uma metralhadora quando invadiu uma sessão do cinema e disparou contra a plateia que assistia ao filme Clube da Luta.


Abaixo link com as cartas




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